Organizar as contas

Brasileiros têm 4 contas em bancos e 2º concentra investimentos, saiba mais!

No segundo banco de escolha, a concentração de investimentos foi o segundo fator mais apontado (34%), atrás apenas de frequência de transações (37%)

Homem segurando um celular com a mão esquerda e mexendo nele com a mão direita.
Maioria da geração Z prefere investir pelo app do banco do que por corretoras. Foto: Adobe Stock.

Os brasileiros têm contas em cerca de quatro bancos, mas consideram apenas dois como os principais, que usam para a maioria das transações. O número dobrou: há dois anos, os brasileiros tinham conta em apenas dois bancos, em média. É o que aponta um estudo do Google encomendado aos institutos Quantas e Liga Pesquisa e divulgado nesta terça-feira, 15/08.

Os dados mostram que os motivos que levam os brasileiros a considerar um banco como “principal” incluem:

  • a frequência de transações (apontada por 77% dos entrevistados),
  • o recebimento de salário (58%),
  • a oferta de crédito (49%) e
  • a concentração de seus investimentos (44%).

No caso do segundo banco de escolha, a concentração de investimentos foi o segundo fator mais apontado (34%), atrás apenas de frequência de transações (37%) e ficando à frente de oferta de crédito (33%) e recebimento de salário (30%).

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A pesquisa mostra ainda que as pessoas conhecem, em média, mais de 20 bancos e já tiveram algum tipo de relacionamento com pelo menos sete deles.

Para realizar a pesquisa, realizada entre abril e maio de 2023, os institutos entrevistaram 2.500 brasileiros bancarizados, ou seja, que têm acesso a algum produto financeiro, com uma amostra que inclui todas as classes sociais e regiões do país.

Maior competição e facilidade do PIX

A maior competição das fintechs colaborou para a evolução do número de bancos nos quais cada brasileiro tem conta. Das 1289 fintechs mapeadas no país, estima-se que 819 foram criadas nos últimos sete anos, aponta Vitor Zenaide, líder de insights para serviços financeiros do Google Brasil.

“Muitas fintechs, incluindo entre elas bancos digitais, oferecem cartões sem taxas e isenção de tarifas na conta-corrente. E diversas corretoras passaram também oferecer conta-corrente e crédito como serviços”.

Outro fator que motivou esse avanço, segundo o especialista, foi a criação do PIX, em dezembro de 2020. A pesquisa do Google foi feita em janeiro de 2021 e, portanto, captura todo o impacto do meio de pagamento, que se tornou o mais usado do país.

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“O PIX facilitou que o brasileiro tenha mais contas bancárias, pois não há mais custo em transferir o dinheiro para cada instituição. Podemos ter um banco onde apenas recebemos o salário, outro no qual temos mais crédito e outro onde encontramos as melhores ofertas de investimento”, completa Zenaide.

Os dados, portanto, revelam que o segmento financeiro vive tempos parecidos com a época em que os brasileiros usavam vários chips em seus smartphones, de forma a conseguir acesso às melhores vantagens na hora de comprar crédito pré-pago.

Experiência digital é gatilho para mudança

O estudo também mostrou que mais da metade dos entrevistados (57%) considera trocar a marca do seu banco principal, sendo que 17% afirmaram que há “muitas chances” de mudarem sua escolha atual. A maior predisposição de mudança está nas pessoas de classe A (65%), das regiões Sudeste e Centro-Oeste (59%) e que possuem entre 25 e 34 anos (59%).

De acordo com a análise, o maior gatilho para eleger um banco como principal é a experiência digital, ou seja, quando o consumidor tem acesso a um aplicativo e site que são fáceis de usar e permitem fazer todas as movimentações pela internet.

Em segundo lugar está a segurança, ou seja, a percepção do consumidor de que não terá problemas nas transações do dia-a-dia e também de que está se relacionando com um banco que
tem solidez, ou seja, tenha baixo risco de quebrar.

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O preço das tarifas bancárias aparece na sequência (cartão de crédito sem anuidade, taxas de juros baixas, além de isenção ou tarifa menor para manutenção da conta corrente) e conveniência (que concentre tudo num lugar só, seja fácil de abrir a conta, e onde o cliente possa receber salário ou benefícios do governo).

“Hoje são quase 190 milhões de brasileiros bancarizados, número que cresceu de forma acelerada durante a pandemia por conta do auxílio emergencial”, afirma Mônica de Carvalho, diretora de negócios do Google Brasil. A estimativa é de que tenham entrado no sistema bancário, após o auxílio emergencial oferecido pela Caixa, 23 milhões de usuários. “O grande desafio das instituições financeiras, sejam elas grandes bancos ou nativos digitais, é conquistar o consumidor que já é cliente de outra marca e se tornar o seu banco principal.”

Grandes bancos x bancos digitais

O estudo também comparou os diferentes motivos que levam os consumidores a escolher entre os grandes bancos ou um nativo digital como favoritos.

O comparativo mostra que os primeiros se destacam em atributos como “banco sólido”, ter “agência física” e permitir “receber salário”. Já os digitais são normalmente escolhidos por “ter aplicativo”, permitir “movimentações pela internet”, “ter tudo num lugar só”, além de oferecer “cartão sem anuidade” e “facilidade para abertura de conta”.

Em outro cruzamento de dados, analisando o tipo de banco escolhido entre as diferentes classes sociais, o estudo mostrou que os grandes bancos têm maiores chances de serem os escolhidos por consumidores das classes A e B, enquanto os digitais se destacam na classe C. Entre a população da classe D e E, a relação é mais próxima com os bancos tradicionais, em especial a Caixa Econômica Federal, que permitem o acesso a benefícios
sociais oferecidos pelo governo federal.

Em relação à faixa etária e região, os nativos digitais são os favoritos entre os mais jovens (na faixa etária entre 18 e 34 anos) e também entre as pessoas que moram no Norte e Nordeste. A pesquisa mostra que os grandes bancos, por outro lado, aparecem com mais força entre os consumidores com idade acima dos 45 anos e entre os consumidores da região Sudeste.

Cuidados evitam descontrole

Para Mariana Rinaldi, especialista da associação de consumidores Proteste, o descontrole pode ocorrer se não houver gestão e organização das múltiplas contas-correntes. “Se cada conta bancária for aberta com uma determinada finalidade, é preciso ter atenção para contratar os serviços. Cada tipo de conta implica em um determinado custo. Tudo vai depender do objetivo do correntista”.

De um modo geral, a posse de mais de uma conta pode trazer benefícios, desde que o titular consiga contabilizar bem todas as tarifas envolvidas e manter um bom controle financeiro sobre essas contas, completa. “Caso contrário, existe o risco de endividamento e do efeito bola de neve, já que ter duas contas correntes pode significar serviços bancários em dobro: dois cartões de crédito, dois limites de crédito pré-aprovado, dois talões de cheque e etc”.

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Uma conta salário, aberta a partir de contratos de trabalho, pode ser uma boa opção por não envolver custos adicionais e possibilitar a transferência do valor recebido para uma segunda conta. Já quem vende produtos, é autônomo ou presta serviços tem vantagens ao possuir mais de uma conta, pois essas profissões lidam com clientes e transações a todo momento.

No entanto, nem todos os bancos são semelhantes e acabam por cobrar taxas, diz Rinaldi. “Então vale a pena tomar alguns cuidados ao administrá-las”, diz a especialista. Negociar as taxas com o gerente, atentar-se ao pacote de serviços embutidos, calcular a renda que será movimentada pela conta, planejar-se, ler contratos com atenção e pensar na declaração de imposto de renda de diferentes contas são algumas atitudes importantes que podem proteger o correntista de problemas futuros.

Portabilidade auxilia na busca pelo melhor serviço

A portabilidade foi criada pelo Banco Central em 2014, o que permitiu a devedores liquidar transações através do financiamento de outras instituições e deu ao cliente a posse do seus próprios dados, não sendo mais exclusivos à instituição financeira de origem. E a portabilidade de salários foi facilitada, permitindo ao usuário solicitá-la diretamente com o banco de destino

Nesse sentido, agentes do setor financeiro passaram a competir diretamente pelo usuário, que passa a poder migrar para o banco com melhores taxas e produtos. Há, ainda, grande potencial de redução da taxa de juros, decorrente do aumento da concorrência; ampla oferta de crédito, disponibilização de produtos e serviços melhores e mais personalizados.

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Infelizmente, embora conhecida pelos consumidores, a portabilidade de salários ainda é pouco praticada em detrimento do processo burocrático envolvido, diz Rinaldi, da Proteste.

“Estudos recentes da Zetta – associação criada por empresas de tecnologia com atuação no setor financeiro e de meios de pagamento – indicam que 50% dos brasileiros bancarizados acham que o processo é muito complicado e que os bancos dificultam a adoção. Revelam, ainda, que apenas 16% dos entrevistados já tentaram fazer portabilidade, sendo 6% de crédito e 10% de salário. Um percentual pequeno diante do potencial de benefícios que o processo tem a oferecer”.

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