Organizar as contas

Método PDCA funciona para organizar os investimentos?

Metodologia PDCA costuma ser aplicada em gestão de empresas, mas pode ser estendida para as finanças pessoais, segundo educadores financeiros

Com disciplina e estratégia, organizar as contas pode ficar mais fácil do que parece à primeira vista. Uma das técnicas que podem ser empregadas nesta tarefa é o método PDCA (Planejar, Fazer, Checar e Agir, na sigla em inglês). Essa metodologia costuma ser aplicada em gestão de empresas, mas pode ser estendida para as finanças pessoais, segundo educadores financeiros.

Desde 1939, a técnica PDCA é usada na engenharia, administração e gestão de companhias, com diversos resultados eficazes na organização das despesas. Por ser sistemática e de efeito contínuo, o investidor pode reproduzir a estratégia para seu próprio controle dos investimentos e finanças.

O método permite ajustar o controle dos gastos conforme a mudança de comportamento e de vida. Mas os resultados somente surtem efeito se essas mudanças forem adaptadas conforme a nova rotina. Ou seja, os planos no papel devem acompanhar seu comportamento financeiro na vida real.

Os educadores destacam que, quando se trata de finanças pessoais, a técnica deve ser alinhada aos objetivos de cada um, pois não existe uma receita de bolo aplicável a todos.

Planejar (Plan)

Elaborar o planejamento financeiro da sua vida é o primeiro passo na técnica PDCA. Segundo a planejadora financeira Luciana Ikedo, o orçamento pessoal deve ser definido nesta etapa.

“Definimos os objetivos e metas financeiras de acordo com o perfil do investidor, o horizonte de tempo, a capacidade financeira e a propensão ao risco e traçamos as estratégias. Trata-se da elaboração do planejamento financeiro pessoal, elaboração de um orçamento pessoal e definição da carteira de investimentos e alocação de ativos”, afirma.

Já para o educador financeiro Thiago Godoy, conhecido nas redes como o Papai Financeiro, esse primeiro passo também significa olhar para si, para um autoconhecimento antes de começar a rascunhar no papel.

“Primeiro, você tem que definir as metas e o seu orçamento. É o mais importante. Isso vai guiar o restante dos passos. Você consegue definir coisas a curto prazo, uma quantia a cada mês. E a longo prazo, comprar uma casa, uma viagem ou aposentadoria. É um autoconhecimento financeiro.”

Fazer (Do)

Para Ikedo, é o momento de cortar gastos e fazer o plano anterior ganhar corpo. “Aqui a estratégia é implementada, o orçamento e a alocação dos ativos são executados. No orçamento, os gastos serão realizados de acordo com o proposto, cortando-se o que foi definido e buscando as receitas propostas. Na alocação dos ativos, os novos aportes para investimentos seguirão a estratégia proposta na etapa anterior”, explica.

Godoy ressalta que o investidor necessita de uma boa ferramenta que seja capaz de acompanhar seus gastos e receitas.

“Além de implementar esse plano, você acompanha os gastos, seja numa planilha ou com aplicativo. Ou no papel também, não importa a ferramenta, o que importa é que você esteja seguindo seu orçamento. É bom aprender sobre educação financeira, sobre crédito e evitar dívidas”, diz.

Checar (Check)

Essa hora demanda atenção e ajustes, conforme o comportamento financeiro e mudanças de vida. Não somente o seu cenário pessoal, mas o macroeconômico também traz reflexos significativos, como o quadro de incerteza da política fiscal no País e os abalos geopolíticos no mundo, que podem alterar os preços dos ativos no mercado de capitais.

“Nesta etapa verifica-se se as ações estão surtindo os efeitos esperados, se as despesas e receitas estão aderentes ao orçamento e também se a performance de rentabilidade dos ativos está de acordo com o que foi planejado. Essa é uma etapa crucial, especialmente considerando-se a instabilidade do cenário político e econômico e alterações nas ofertas dos produtos de investimentos”, observa Ikedo.

Já Godoy explica que este momento do método consiste em revisar os itens de acordo com o planejamento e, caso algo esteja diferente, ele recomenda não ter medo de fazer ajustes.

“Você vai monitorar e avaliar seu orçamento com uma revisão. Todo fim de mês ou no começo do mês você revisa seus gastos e vê se está conseguindo alcançar as metas que estabeleceu. Compare o resultado financeiro com o plano que você fez. Não conseguiu chegar nas metas? Por quê? Analise isso e ajuste as metas, ou o comportamento financeiro e os gastos.”

Agir (Act)

É hora de agir. “De acordo com o que for diagnosticado na fase de checagem, tomamos as medidas corretivas para que o plano possa ser aperfeiçoado e para que as inconsistências possam ser corrigidas. Isso pode envolver a proposta de mudanças nos hábitos de consumo, adoção de novas ferramentas e estratégias, alteração no portfólio de ativos ou novas abordagens para que os objetivos e metas traçados sejam alcançados”, afirma Ikedo.

Ela destaca que a aplicação desta técnica pode trazer bons resultados ao investidor por ser um processo contínuo de avaliação de seu portfólio, o que permite corrigir a rota de forma disciplinada e se antecipando aos movimentos do mercado financeiro, garantindo aderência ao planejamento financeiro pessoal com eficácia.

“Por fim, acho que vale ressaltar que o erro mais comum das pessoas ao tentar seguir esses quatro passos na organização das suas finanças é fazer um planejamento e não implementá-lo corretamente, não acompanhar o que foi feito e não alterar absolutamente nada mesmo com várias mudanças na própria vida, na situação financeira e no cenário econômico”, observa Ikedo.

“Faça as ações necessárias para garantir que está melhorando, analisando o que foi realizado, se estiver gastando mais do que planejou. É importante buscar uma forma de reduzir isso. Tem que ter dinamismo e ter flexibilidade para ajustar. Não se faz de uma vez só. Com isso, você tem confiança e mais exatidão para aumentar sua confiança na gestão financeira das suas contas”, pontua Godoy.

Alternativas ao método PDCA

Como não existe uma receita de bolo, outras alternativas também podem ser consideradas na hora de organizar as contas. Uma delas é o próprio método criado por Godoy chamado de “montanha dos três autos”.

“Você sobe a base e depois chega ao ápice. A primeira etapa é o autoconhecimento. Então, para realmente entender qual é seu plano é preciso se conhecer, saber suas prioridades e crenças nas finanças, seu contato com dinheiro, etc. Depois, tem mais autoresponsabilidade para ter autoconhecimento e autocontrole. É ter clareza de que ninguém irá fazer isso por você. Se não colocar regras e objetivos, seu plano vai ficar bonito apenas no papel. Na terceira, é o autocontrole, é observar suas escolhas de forma prática”, explica.

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