1/3 dos empreendedores misturam finanças pessoais e do negócio. 5 dicas para não cair nesta cilada
A prática de fazer retiradas frequentes do caixa para atender às necessidades individuais ou da família é perigosa e pode trazer prejuízos sérios às finanças da empresa. Veja como evitar
Por Marília Almeida
Engana-se quem pensa que o clássico erro de juntar a conta pessoal e a da empresa é cometido apenas por microempreendedores. Um estudo do Google aponta que mais de um terço das empresas de até médio porte no Brasil não separam o dinheiro do dono e da companhia.
O levantamento ouviu 800 pessoas de todo o Brasil, entre microempreendedores individuais (MEIs) e representantes de micro, pequenas e médias empresas. De acordo com a análise, 32% dessas companhias mantêm as finanças separadas todo o tempo, enquanto 33% junta o dinheiro às vezes.
Não à toa, entre as dores que tiram o sono dos entrevistados, o fator mais citado, em segundo lugar, é a gestão das finanças (27%). Já a integração da conta PJ com a da Pessoa Física aparece entre os fatores que mais influenciam a escolha dos bancos para abertura de conta para 14% dos entrevistados.
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Cláudia Yoshinaga, professora do Centro de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Cef), aponta que a prática é muito comum. “Ouço muito histórias de funcionários da área de compras de empresas que têm de sair pagando notas fiscais em nome da empresa, mas para usufruto da pessoa física”.
A consultora do Sebrae-SP, Cibele Pestillo, aponta que há um fator emocional envolvido neste hábito. “O empreendedor acha que se está dando certo não há por que mexer. Só que em uma crise pode não dar”.
Mas, mais do que uma característica comportamental, a prática denota falta de conhecimento técnico sobre gestão, completa a consultora. “O empreendedor pode ser muito bom no que faz, mas sempre irá precisar estudar sobre gestão financeira. Uma boa ideia, produto ou serviço não é suficiente para o negócio ir para a frente”.
Principais problemas que a prática pode causar
Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a prática de fazer retiradas frequentes do caixa para atender às necessidades individuais ou da família é perigosa e pode trazer prejuízos sérios às finanças da empresa.
Esse hábito coloca em risco até mesmo a própria sobrevivência da companhia, já que compromete o seu capital de giro, prejudica a visibilidade sobre o fluxo de caixa e limita investimentos.
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O empresário pode ainda se perder nos seus gastos e acumular dívidas, afinal alguns meses podem ser melhores que outros para os negócios, aponta o Sebrae.
Por fim, pode ter problemas em acessar crédito bancário e obter aportes de investidores-anjo, já que a análise de ambos passa pela capacidade da empresa em honrar com as parcelas e ter um fluxo de caixa consistente.
Veja abaixo as dicas para não cair nesta cilada:
Separe a conta pessoal de sua conta PJ
A conta PJ sempre foi conhecida por ser uma conta cara, com anuidade pesada. Mas as desculpas para não utilizar o serviço são cada vez menores.
Atualmente, há uma maior diversidade de produtos, ainda que esta oferta seja mais reduzida para microempreendedores individuais. É possível encontrar contas com tarifas diferentes e até mesmo opções sem a cobrança de anuidade.
Defina o seu “salário”
Estabeleça um salário para si, o pró-labore, além de um bônus ou premiação para receber quando a empresa faturar mais ou cumprir as metas que você mesmo planejou.
Dessa forma, nos períodos mais difíceis, você garante uma renda mínima para suas despesas pessoais e da casa, e quando os negócios crescerem você será recompensado de acordo com as suas próprias regras, aponta a ACSP.
O pró-labore deve ser sempre fixo e realista em relação ao faturamento da empresa e à sazonalidade do negócio. “O esforço do empreendedor será recompensado pelo lucro e a remuneração variável, e não pelo pró-labore”, diz Pestillo, do Sebrae-SP.
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Para realizar o cálculo do pró-labore, pergunte-se quanto pagaria para um profissional desempenhar as mesmas atividades ou quanto o mercado paga para alguém com a sua função. E defina um dia fixo por mês para retirá-lo.
“A ideia é que o salário do empresário seja suficiente para pagar as suas despesas pessoais. Mas caso elas sejam muito altas é necessário reduzi-la para que se enquadrem no faturamento da empresa”, conclui Pestillo.
Utilize planilhas
As planilhas são recursos válidos para organizar o fluxo de caixa dos negócio e também das finanças pessoais. Com uma maior organização de ambos, o empreendedor diminui as chances de ter surpresas com ambos os fluxos e se ver obrigado a cobrir o rombo de uma das contas.
Anote todas as retiradas ou o que for utilizado na forma de produto ou serviço. Por exemplo: gastos com eletricidade e fornecedores são da empresa, mas gastos com lanches são pessoais.
Voltada para MEIs e com interface intuitiva, o Sebrae oferece, de forma gratuita, a planilha de fluxo de caixa, na qual é possível gerenciar o fluxo de contas a pagar e receber.
Faça uma reserva financeira pessoal e para a empresa
Fazer retiradas frequentes do caixa da empresa para cobrir despesas pessoais não é interessante. Mas tirar dinheiro do bolso para resolver imprevistos da empresa também não é.
Portanto, aproveite os momentos de alto faturamento da empresa para montar uma reserva financeira para o negócio.
“É possível reunir valores que equivalem a três meses de despesas do negócio, e ir provisionando esse dinheiro para uso futuro, como 13º salário e férias de funcionários, bem como investimentos. O ideal é ter um funcionário dedicado para olhar esse fluxo”, diz Pestillo.
Pintou uma despesa pessoal pessoal urgente? Você precisa usar o dinheiro da reserva de emergência. Ainda não tem uma? Saiba como começar a montá-la.
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