Quais as perspectivas para o mercado de crédito, um ano depois do caso Americanas?
Com um mercado secundário mais líquido, gestores veem oportunidades para o mercado em 2024
As conversas sobre o mercado brasileiro de crédito têm repetido um quase consenso. Um ano depois dos tremores causados por empresas como Americanas e Light, repete-se que o mercado cresceu e amadureceu. O Latin America Investment Conference, organizado pelo banco UBS em São Paulo, não foi exceção. Durante painel sobre o mercado de crédito, os gestores Alexandre Muller, da JGP, e Leonardo Ono, da Legacy, concordaram com a afirmação e comentaram os resultados disso para os investidores.
“O mercado de crédito está passando por um amadurecimento intenso, e com isso, vemos janelas em que o mercado fica mais restrito”, afirmou Ono. “O mercado de dívida brasileiro não tinha isso, estava aberto quase que todo mês para emissões, mas em 2023, tivemos uns quatro ou cinco meses sem muita atividade”.
Ele citou também o crescimento do mercado secundário, com maior liquidez dos papéis de crédito privado após sua emissão.
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Perspectiva de queda de juros
Para 2024, o consenso é de que as taxas de juros devem cair no Brasil e nos Estados Unidos. “No mercado doméstico, dificilmente encontra-se alguém com visão de ciclo diferente, todo mundo tem uma visão mais construtiva”, afirmou Muller, da JGP.
Entretanto, o mercado de crédito ainda é marcado pelos efeitos de 2023. “O grosso do dinheiro ainda está muito traumatizado com o ano passado, quando tivemos muitos casos de restruturação de dívida”, disse. Segundo ele, o aumento de casos de inadimplência e restruturação de dívidas corporativas já era esperado, dada a elevação da taxa de juros. “A surpresa foi que esse movimento começou com Americanas”.
“Isso gerou uma dispersão grande no mercado de dívida, com uma demanda muito grande para empresas ultra AAA [aquelas mais bem avaliadas pelas agências de rating e de menor risco]”.
Ono concorda. “As empresas pequenas e médias ainda estão em um cenário bastante desafiador” na busca por instrumentos de financiamento. “Essa turma ainda não tem benefício da maior oferta de linhas e disponibilidade de capital que as grandes empresas estão tendo. As pessoas estão mais criteriosas a dar dinheiro para empresas menores, com menos governança”, afirmou.
Com o consenso de que o Copom irá continuar seu processo de redução da taxa de juros, a expectativa é de uma maior demanda para investimentos de mais risco. “Eu acho que não devemos ver todo o fluxo indo para a bolsa, acho que vai permear outras classes de ativos, e uma delas é o crédito”, afirmou Ono.
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