10, 20, 30 anos: quando um título do Tesouro Direto de longo prazo vale a pena?
Objetivos financeiros e perfil de investidor devem ser levados em conta antes de alocar recursos em títulos do Tesouro
Por Rogério Piovezan
O acaso costuma dar a última palavra na vida, disse a atriz Fernanda Montenegro em releitura do clássico texto da filósofa francesa Simone Beauvoir. Nos investimentos, contudo, essa ideia deve passar longe da sua carteira e os investidores não devem esperar que o acaso os proteja. Por isso, investir no longo prazo com maior segurança e rentabilidade nos títulos do Tesouro Direto é uma opção, mas é preciso alinhar o investimento a seus objetivos financeiros.
Segundo o próprio Tesouro, já existem aproximadamente 2,6 milhões de investidores com esses produtos no portfólio, que somam R$ 130 bilhões em investimentos.
Os novos títulos Tesouro Renda+ e Educa+ também atraem mais investidores. Os dois produtos sintetizam já no nome os objetivos buscados por quem aporta recursos neles. O primeiro é focado nos investidores interessados em garantir uma aposentadoria no futuro, e o segundo para aqueles que querem poupar para pagar a educação para os filhos.
Ainda assim, a dúvida permanece: em qual título público investir? E quando vale a pena comprar um título de longo prazo? Por isso, o Bora Investir conversou com dois especialistas em mercado financeiro. Confira.
Investir a longo prazo?
É possível encontrar títulos públicos para diferentes prazos. Tudo depende do seu objetivo financeiro. Num investimento, as três principais características fundamentais para decidir antes de alocar recursos são liquidez, rentabilidade e segurança.
Para o analista de pesquisa da Rico, Antônio Sanches, o investidor precisa saber de antemão qual sua meta e o que pretende fazer com o investimento. Mas não só isso. Ele chama atenção também para as taxas prefixadas no momento da compra. “Qual é a liquidez, a rentabilidade e qual o risco atrelado ao investimento. Essas três características funcionam como um cobertor curto ao investidor, que precisa conciliar um ou outro. Se ele abrir mão da liquidez, ou seja, se deixar esse dinheiro aplicado a longo prazo até 2029, 2035 e 2045, ele aumenta a rentabilidade esperada sem abrir mão da segurança”. Ele alerta, entretanto, que o prazo precisa estar de acordo com o objetivo do investidor.
Posso perder dinheiro com títulos do Tesouro?
A rentabilidade contratada no momento da compra dos títulos públicos, seja pós-fixada, prefixada ou híbrida (IPCA+), só é garantida se o investidor mantiver aquele papel até o vencimento. Se ele resolver vender antes do prazo, o dinheiro resgatado será baseado na marcação a mercado, e pode perder dinheiro, porque os preços mudam todos os dias.
“Sim, é possível perder dinheiro com Tesouro Direto, caso o investidor venda o seu título antes do vencimento em um momento desfavorável de mercado. Vamos supor que você comprou um título público prefixado (Tesouro Prefixado) com vencimento de 5 anos a uma taxa de 10% ao ano. Se precisar vender o título antes do vencimento, e as taxas de juros no mercado subirem para 12% ao ano, o valor de mercado do seu título vai cair, devido à relação inversa entre preço do título versus taxa de juros”, explica Vinicius Romano, especialista em renda fixa da Suno Research.
Sanches traz outro exemplo para explicar a lógica do preço a mercado. “Se você comprou um título hoje a R$ 150, multiplicado pela taxa e pelo prazo, que resulta em R$ 1.000 no vencimento, se essa taxa aumenta, naturalmente o preço do seu título diminui. Isso é marcação a mercado. É vender seu título de volta para o Tesouro, que vai vender para outro investidor por um novo preço, que será determinado pelas taxas praticadas no mercado.”
“A marcação a mercado ajusta o valor dos títulos conforme as condições de mercado mudam”, destaca Romano. “Um título aumenta o seu valor quando a taxa de juros diminui, e esse aumento será tão maior quanto maior for o prazo para o vencimento do título. O mesmo raciocínio é válido para o aumento da taxa de juros, que diminuirá o valor do título, e essa diminuição será tão maior quanto maior for o prazo para o vencimento do título.”
Outro vilão que pode corroer a sua carteira é a inflação. “Um dos maiores destruidores do patrimônio não é a desvalorização do dólar em relação ao real, não é a queda da bolsa, o que corrói o patrimônio é a inflação. Por isso, o investidor tem que se proteger da inflação. O que torna um título do tesouro interessante é justamente isso [essa proteção no Tesouro IPCA]”, afirma Sanches.
Quem sofre mais?
Existem dois títulos públicos que sofrem mais com a marcação a mercado, na hipótese em que o investidor decide resgatar antes do prazo de vencimento. São os títulos do Tesouro IPCA+ e o Tesouro Prefixado. “Os investimentos no Tesouro IPCA+ e prefixado sofrem bastante pela marcação a mercado porque eles têm uma taxa prefixada. No título prefixado a taxa é 100% prefixada, com 11% ou 11,45%, já no IPCA + é uma híbrida, que é inflação mais uma taxa prefixada”, afirma Sanches.
Os principais indexadores dos títulos públicos são o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que atualmente está em 4,50% no acumulado de 12 meses, e a taxa básica de juros, a Selic, cujo patamar segue em 10,50% ao ano, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
Tesouro Educa+ e Renda+
Os dois títulos novos disponíveis no mercado financeiro são voltados para quem quer uma renda extra na aposentadoria ou para quem quer investir pensando em pagar uma faculdade no futuro. Para Sanches, essa estratégia veio para inovar o mercado e facilitar a compreensão dos investidores iniciantes.
“Os dois têm alguns benefícios a mais para quem tende a investir para aposentadoria e para educação, para uma universidade. É uma evolução importante na indústria de investimentos, é começar a transformar os investimentos de sopa de letrinhas para um tema mais alinhado ao objetivo do investidor iniciante. Acredito que esses investimentos fazem bem para o que são propostos.”
O título mais longo do Educa+ tem prazo de 23 anos, enquanto o título mais curto do Renda+ vence em 27 anos. O benefício da isenção da taxa sobre a renda é menor no Educa+ do que no Renda+. O investidor não paga nenhuma taxa sobre a renda até o limite de quatro salários mínimos, enquanto no Renda+ esse limite sobe para seis salários mínimos. Ambos os títulos são indexados ao IPCA e seguem a tabela regressiva do Imposto de Renda, assim como outros títulos do Tesouro Direto.
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