Veja os índices da Bolsa que mais se valorizaram e os que mais caíram em 2024
Bolsa foi pressionada de um lado pelo cenário internacional de incertezas e do outro pelos riscos fiscais no mercado doméstico
Por Maeli Prado
Não é segredo que 2024 foi difícil para a bolsa brasileira, que foi pressionada de um lado pelo cenário internacional de incertezas e do outro pelos riscos fiscais crescentes no mercado doméstico, o que forçou o Banco Central inverter o sinal dos juros.
Nesse cenário, o Ibovespa recuou 6% até 12 de dezembro. Quando a conta é feita em dólares, o desempenho é ainda pior, com o principal índice acionário brasileiro tombando 23,45% no período, segundo cálculo feito a pedido do Bora Investir por Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.
“O ano de 2024 tem sido uma verdadeira montanha-russa para o mercado brasileiro, e o saldo, até agora, não é nada animador”, diz Rivero. “A explicação para esse cenário desafiador passa, inevitavelmente, pela valorização do dólar. Neste ano, o dólar Ptax subiu 22,71%, tornando qualquer investimento no Brasil bem menos atraente para o capital estrangeiro.”
Bruna Sene, analista de renda variável da Rico, lembra que no início do ano a expectativa era positiva, pela perspectiva de início de corte de juros nos EUA e pela projeção de cortes na taxa básica brasileira, a Selic.
“Mas o ano terminou com algumas incertezas no cenário global, que se somam a um cenário doméstico de elevação de risco, alta de juros e preocupações com o cenário fiscal”, aponta a analista. “O resultado? Tivemos sete meses de queda no Ibovespa (até novembro), em contraste com apenas quatro meses de alta.”
Mas quais segmentos foram mais prejudicados por esse contexto? E quais se beneficiaram desse cenário conturbado? Veja abaixo o desempenho dos principais índices da B3 em 2024.
Quem mais sofreu
As dificuldades brasileiras com as contas públicas, com a dívida bruta brasileira se aproximando dos 80% do PIB (Produto Interno Bruto), penalizaram quase todos os segmentos do Ibovespa, como é possível ver na tabela abaixo.
ÍNDICE | DESEMPENHO NO ACUMULADO DE 2024* |
IMOB (Imobiliário) | -19,93% |
SMLL (Small Cap) | -19,66% |
ICON (Consumo) | -16,55% |
IEE (Energia Elétrica) | -15,02% |
IFNC (Financeiro) | -10,77% |
IFIX (Fundos imobiliários) | -10,35% |
IMAT (Materiais Básicos) | -7,10% |
UTIL (Utilidade Pública) | -2,96% |
INDX (Setor Industrial) | +21,84% |
BDRs | +69,41% |
Mas afetaram de forma mais acentuada os setores cíclicos e de crescimento. O índice de small caps, por exemplo, que monitora o desempenho das empresas de valor de mercado relativamente baixo, foi especialmente prejudicado pelo aumento do custo de crédito e maior aversão ao risco.
O índice de consumo e o índice imobiliário são outros exemplos das maiores perdas, com o aumento dos juros refreando as compras de bens e imóveis.
“Nesse ambiente de elevação de juros e incertezas fiscais, ativos mais cíclicos e em fase de crescimento acabam sendo os mais penalizados”, lembra Sene, da Rico. “Por isso vimos o índice de small caps, consumo e imobiliário como as principais quedas do ano.”
Para Einar Rivero, essas ações sofreram o peso das incertezas. “O Brasil ainda oferece oportunidades, mas também muitos riscos. E, neste ano, esses riscos pesaram mais na balança.”
Ele aponta o impacto da alta forte do dólar nesse cenário. “A valorização do dólar é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, ela impulsiona as exportações brasileiras, por outro, mina o retorno dos investimentos internacionais no país.”
Quem ganhou
Por outro lado, o setor industrial teve desempenho positivo, impulsionado principalmente por empresas com receita significativa em dólares.
O crescimento da economia brasileira teve um papel importante no desempenho – a expectativa é que o PIB (Produto Interno Bruto) fechará o ano em alta de 3,39%, de acordo com a última projeção do Boletim Focus, pesquisa semanal do BC com analistas de mercado.
“O setor industrial foi beneficiado pelo desempenho positivo de empresas com boa parte de suas receitas em dólares, além de bom desempenho dessas companhias em um cenário de crescimento econômico doméstico”, diz Sene. “O crescimento reflete uma economia robusta, puxada pelo consumo das famílias e por investimentos, na esteira de um mercado de trabalho aquecido, estímulos fiscais, e altos volumes de crédito.”
Mas o principal destaque, disparado, foi o índice de BDRs, que no acumulado do ano sobe mais de 69%, em consequência da valorização do dólar e do bom desempenho das bolsas americanas, que foram estimuladas pela queda dos juros nos Estados Unidos e pela boa performance das empresas de tecnologia.
“Os principais índices da maior economia do mundo registraram um ano de alta, impulsionados por expectativas e pela concretização de um ciclo de queda dos juros americanos”, avalia a analista da Rico. “Além de resultados positivos de grandes empresas de tecnologia, beneficiadas pelo crescimento da inteligência artificial, que também contribuíram para a performance positiva.”
O que esperar de 2025
E o que esperar de 2025? Na avaliação de Einar Rivero, da Elos Ayta, o cenário se mantém desafiador.
“A relação entre o desempenho do Ibovespa e a valorização do dólar não é uma novidade, mas em 2024 ela voltou a mostrar sua força. Enquanto o real continuar perdendo valor, o investidor estrangeiro continuará cauteloso”, aponta. “E, como sabemos, o humor desse investidor tem um peso enorme na nossa bolsa.”
Para Sene, da Rico, a continuidade da alta da taxa básica de juros, a Selic, tende a manter o impacto negativo sobre a Bolsa.
“Isso acontece por diferentes fatores, como a possível revisão de lucros das empresas para baixo, o aumento do custo de crédito e endividamento das empresas, a mudança na precificação do valor justo das ações e aumento do custo de oportunidade de investimentos em ações frente a investimentos em renda fixa, o que leva muitos investidores a migrarem para essa outra classe de ativos.”
Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.