Entrevistas

Raull Santiago: “Pela desigualdade de onde vim, não fui ensinado a pensar em dinheiro”

Ao B3 Convida, Raull Santiago falou sobre história, trabalho e relação com o dinheiro

Foto: Divulgação B3
Foto: Divulgação B3

Ativista, empreendedor e que se denomina “sobrevivedor”, Raull Santiago participou do B3 Convida. Ele falou sobre seu trabalho como defensor dos direitos humanos e da dignidade na favela e também sobre sua infância e relação com o dinheiro.

Raull é um dos brasileiros escolhidos pela ONU como porta-vozes de pautas sociais. Ele também foi reconhecido como um estrategista influente no cenário corporativo brasileiro e está entre os 50 profissionais mais criativos do país — realidade nova para ele, principalmente quando se fala de dinheiro. O ativista conta que teve a visibilidade muito primeiro que o recurso. 

“Eu já ia nos lugares falar, mas às vezes não sabia se ia garantir a compra do mês. Eu nunca fui ensinado para pensar em dinheiro, então achava que se eu cobrasse para fazer o meu trabalho, iam pensar que estava ‘me achando’, sendo soberbo”.

Raull conta que conseguiu desfazer esse preconceito estrutural imposto pela desigualdade através de outras pessoas que lhe falavam que podia e deveria dar o seu valor. 

“Falar sobre dinheiro é a principal lição sobre o assunto que podemos ter, e eu aprendi isso recentemente. O dinheiro sempre teve uma ótica de sofrimento, de falta. Mas, quando se tem uma educação financeira de fato, isso faz toda a diferença”.

A partir daí, ele destaca que começou a pensar em negócios junto ao ativismo, como muitos já faziam. “Comecei a aprender a captar recursos e conseguir mesclar todo ambiente de empreendedorismo com a filantropia.”

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A infância de Raull  Santiago

Por ter crescido no Complexo do Alemão, Raull conta que teve uma infância feliz no sentido de convívio com outras pessoas, de família e entendimento de união na comunidade. Porém, a falta de espaço e os perrengues também marcaram sua história. 

“Aprender a lidar com duras rotinas fez parte da minha infância. Aprender a lidar com tiroteio, com operações policiais na favela. São treinamentos de sobrevivência mesmo”, relembra.

Ele comenta que na comunidade é comum a infância ser encurtada. Tanto que, pela realidade de sua família, começou a trabalhar aos 14 anos porque queria ajudar em casa.

“Trabalhava na feira como carregador e esse foi um processo central da minha história porque, mesmo sendo uma pessoa muito vergonhosa na época, eu já queria ajudar em casa e na feira eu oferecia serviço braçal”. 

“Ali eu aprendi a abordar as pessoas, oferecer algo que elas poderiam querer e convencê-las a comprar. Ali também entrava em contato com as pessoas mais velhas da favela e conhecia mais sobre a história daquela realidade, o que foi me levando a querer falar mais sobre o meu lugar”. 

Virada para a internet

Raull conta que seu primeiro contato com a internet foi em 2006, por meio de um programa social que visava levar tecnologia para quem menos tinha. Ficou encantado com o poder de comunicação que aquilo oferecia.

“Eu via a favela como um grande coração, como algo vivo e, quando escutava o que falavam sobre o meu lugar, era só sobre uma perspectiva de violência, que não resume o que somos. Com internet eu poderia levar uma outra narrativa. E foi o que eu fiz”. 

Ele diz que na época não tinha consciência do impacto que poderia gerar. Mas que foi assim, primeiro como comunicador, depois como um ativista, passando por vários projetos, até formar os seus próprios.

Filantropia e diversidade nas empresas

“Atualmente o que tenho feito é perguntar se a filantropia está preparada para apoiar aquilo que não tem resultado imediato ou mensurável de forma prática, porque essa é a realidade da periferia”.

Raull destaca que quando recebe um apoio não se leva a perspectiva de poder errar, o que pode levar o projeto a não atingir seu potencial máximo. “A gente sempre acha que aquela é a única chance, e isso nos engessa a fazer apenas o padrão que vai gerar o resultado para ser visto por quem ajudou”.

“As empresas têm papel central, mas ainda temos que explicar coisas óbvias como a importância da diversidade dentro dos locais. A diversidade traz uma leitura ampla de sociedade e isso potencializa as empresas”.

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