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Apertem os cintos, os juros subiram – de novo

Nova alta da Selic força investidor a aprender lucrar com juros altos

Toda vez que o presidente e alguns diretores do Banco Central se encontram para realizar a famosa Reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), os mercados financeiro e de capitais ficam atentos à espera do anúncio da nova taxa básica de juros para a economia brasileira. É o que aconteceu nesta quarta-feira, 3.

Após 11 altas consecutivas, já era esperado que o indicador subisse mais 0,5 ponto percentual, o que de fato aconteceu e levou a Selic a 13,75% ao ano. A decisão revelou que o BC segue firme na estratégia de tentar conter a inflação com um aperto monetário. Nesse raciocínio, a elevação da taxa causa um esfriamento da atividade econômica, com a redução dos investimentos pelas empresas e do consumo pelas famílias. Se a demanda cai, a inflação tende a diminuir também.  

Mas a agitação dos investidores vinha mais da expectativa de saber se o ciclo do aumento nos juros já se encerrou ou se novas altas estão previstas para o próximo encontro do Comitê, daqui a 45 dias. Isso porque a teoria de que uma Selic alta resulta numa inflação baixa, às vezes, não funciona na prática.

Como assim? Ora, o aumento dos preços também pode ser fruto da escassez de insumos para fabricar as mercadorias que o consumidor quer comprar. Os produtos ainda podem se valorizar devido aos custos da matéria-prima, que aumentaram por causa da alta do dólar, por exemplo. Em situações que envolvem questões externas, fica mais difícil controlar o reajuste nos preços apenas subindo a régua da Selic.

O comitê sabe que exceder a dose do remédio pode paralisar a economia nacional a tal ponto de agravar o abastecimento da indústria para o varejo, deixando as mercadorias ainda mais caras para o consumidor. Mas a manutenção da alta pelo Copom quer dizer que a autoridade monetária vê mais risco de a inflação sair do controle de vez do que de uma paralisia econômica.

Sim, o trabalho dos integrantes do principal comitê do Banco Central é bastante delicado.  Por isso, essas decisões são tomadas com base em profundas análises de indicadores econômicos, muito além dos índices da inflação. Trocando em miúdos, é arriscado afirmar que, a partir de agora, a curva de juros parou de subir.

O que temos para hoje é um cenário de juros altos, sem perspectivas de que vá ficar a menos de 10% ainda em 2022. Se você entendeu a dificuldade para encontrar a Selic perfeita, é a vez de se concentrar nos efeitos dos juros para os seus investimentos.

Os juros estão altos. E o seu bolso com isso?

CÂMBIO

Quando os juros sobem, o real tende a se valorizar, pois investimentos estrangeiros chegam ao país atrás dos nossos títulos públicos, que passam a oferecer uma taxa maior no ambiente internacional. Contudo, é prudente lembrar que o Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, também elevou os juros por lá, aumentando a atratividade do ativo norte-americano.

TÍTULOS PÚBLICOS

Essas aplicações seguem favoráveis, tanto para títulos pré-fixados (Tesouro IPCA+ ou NTN-B), como para os pós-fixados. Neste grupo, um dos destaques é o Tesouro Selic, que acompanha a taxa básica de juros. Quem optar por papéis atrelados ao IPCA precisa antes avaliar seu perfil de risco já que vencimentos em prazos maiores vão apresentar maior volatilidade. Os pré-fixados têm a vantagem caso o ciclo da alta de juros pelo Copom realmente chegue ao fim, e a Selic comece a cair até dezembro.

TÍTULOS DE BANCOS

CDBs, Letras de Crédito – do agronegócio ou de ativos imobiliários – costumam ser uma boa opção para quem vai precisar de liquidez no curto prazo, isto é, no período de um ou no máximo dois anos. No caso das LCAs e LCIs, ainda trazem a vantagem de serem isentas de imposto de renda, caso haja necessidade de saque. Para esses títulos, a melhor indexação é pelo CDI, dada a expectativa da manutenção da taxa de juros em dois dígitos. Outra dica é respeitar o limite do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) de R$ 250 mil nessa modalidade de investimento.

DEBÊNTURES

Essa modalidade requer muita atenção do investidor. Você se lembra da história de que juros altos retrai a atividade econômica? Pois bem. Empresas podem sofrer perdas de faturamento e deixar de honrar seus compromissos financeiros em cenários muito adversos para o seu caixa. Por isso, é recomendado títulos de dívida de companhias mais robustas e resilientes, de preferência com notas de AAA a avaliação das agência de risco.

POUPANÇA

Desde 2012, o cálculo da rentabilidade da caderneta de poupança mudou. Sempre que a taxa Selic ultrapassa 8,5% ao ano, seu retorno passa a ser fixo de 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial). Se considerarmos que 2021 fechou com a Selic em 9,25% e que em 2022 a taxa também tende a ser maior que 8,5%, a remuneração deve ser de 0,5% ao mês. Isso significa 6,17% ao ano – abaixo da inflação oficial de 2021, que ficou em 10,06%. Isso significa que quem deixou o dinheiro na poupança durante 2021 acabou perdendo 3,89% do seu poder de compra. Por isso, ainda que tenha um perfil conservador, o investidor deve avaliar outras opções seguras para investir seu capital (como os títulos pós-fixados do Tesouro Direto).

RENDA VARIÁVEL

Ações de instituições financeiras tendem a se valorizar quando os juros estão altos, pois os empréstimos costumam resultar em ganhos maiores. Porém, as companhias do setor elétrico costumam ser uma alternativa para quem quer fugir do óbvio, já que o segmento consegue repassar a inflação ao consumidor final. Vale a pena ficar de olho nas empresas do setor de commodities, pois vimos que os juros altos são primos da inflação elevada. Varejo e construção civil, por outro lado, estariam entre os papéis mais prejudicados.

Apesar de a renda fixa ser a preferida do mercado neste momento, pela maior chance de acerto na escolha do ativo, é preciso considerar que a bolsa brasileira ainda tem muitos papéis de empresas subavaliados. Quando a bolsa está barata, é a vez de aproveitar oportunidades estudando os fundamentos de cada companhia.

Fala-se muito dos ativos de varejo, bastante depreciados ultimamente, mas cabe lembrar que o investimento em renda variável deve ser encarado sempre pensando no médio e longo prazos. Será que a economia vai amargar esse cenário negativo nos próximos cinco ou dez anos?

Uma pesquisa aprofundada com analistas, casas de investimentos e demais provedores de conteúdos sobre finanças poderá trazer essa resposta com mais segurança do que se prender aos achismos pautados na simples aversão ao risco.