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Censo 2022: por que a pesquisa é importante para a economia do país?

Além de calcular quantas pessoas existem em cada cidade do Brasil, o censo do IBGE revela dados importantes para empresários e formuladores de políticas públicas

Tela de celular e notebook apresentam a página de indicadores do IBGE, onde é feito o calculo do IPCA. Foto: Timon, Adobe Stock
Volume de serviços avança 0,4% em março. Foto: Timon, Adobe Stock

No ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) enviou recenseadores pelo Brasil inteiro em busca de informações sobre a população. Eles bateram de porta em porta e, depois de um ano de tratamento dos dados, o Censo Demográfico de 2022 foi divulgado na última quarta-feira, 28/06. Entre outras informações valiosas, os dados mostraram que o país tem 203 milhões de habitantes.

Mas o censo não serve só para contar quantas pessoas moram aqui, e sim para obter dados socioeconômicos da população. Com as informações da pesquisa, os políticos podem tomar decisões mais acertadas sobre a distribuição do orçamento da União e empresários podem escolher qual o melhor lugar para um novo investimento ou qual público focar. 

“O censo nos permite ter uma maior clareza sobre o que está acontecendo no País, seus estados e municípios”, diz o diretor da faculdade de economia da Puc-SP, Roberto Brito de Carvalho. Ele explica que a aferição frequente dos dados fornece uma série temporal. “Isso permite não só olhar para o que aconteceu, mas também criar tendências, projeções e expectativas em relação ao que está acontecendo”.

Bora entender como o Censo funciona!

O que o IBGE faz?

O IBGE é uma estrutura capaz de produzir informações que nos permitem entender melhor o país e suas regiões, estados e cidades. Essa compreensão acontece a partir da contagem do número de habitantes e o recolhimento de suas informações e também na medição da inflação. 

Sim! É o IBGE quem calcula o nível geral de preços do Brasil através do IPCA, o índice oficial de inflação do País, entre outros indicadores que capturam a dinâmica econômica. Outras medições importantes feitas pelo IBGE são o Produto Interno Bruto (PIB), o custo de metro quadrado médio por cidade e a taxa de desemprego do país, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).

O que é o PIB e por que ele é importante para a economia do país?

“O IBGE também é responsável por aferir como os setores da economia estão se desenvolvendo, e isso nos permite ter uma visão não só do conjunto das atividades, mas também recortes específicos. Seus indicadores tornam mais claro os diversos Brasis dentro do Brasil”, explica Carvalho. 

O que é o censo demográfico do IBGE?

O censo demográfico do IBGE é uma pesquisa nacional que busca retratar com precisão a população brasileira. Para realizar o levantamento, o IBGE mobiliza uma equipe de recenseadores que percorre todo o país a fim de coletar informações sobre as pessoas que vivem em cada domicílio. 

Esses recenseadores fazem uma série de perguntas que abrangem diversos aspectos, como idade, sexo, escolaridade, ocupação, condições de moradia, entre outros. Após um intenso trabalho de coleta de dados, que geralmente dura cerca de um ano, o IBGE processa e analisa as informações para apresentar um retrato detalhado da população brasileira. 

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Os resultados do censo são divulgados em relatórios e disponibilizados para consulta pública. É a partir destes dados que são constituídas políticas públicas

Uma consequência direta da aferição é o aumento ou diminuição das câmaras de vereadores dos municípios do Brasil. Muitas das 5.570 cidades estão solicitando a ampliação do número de parlamentares, que é proporcional à quantidade de habitantes. Agora, com os dados, essa alteração na estrutura legislativa municipal pode acontecer de maneira mais adequada.

O que o Censo 2022 mostrou sobre o Brasil?

Os dados do IBGE ainda estão sendo divulgados. Afinal, é muita informação para processar. Mesmo assim, os resultados primários já estão disponíveis, enquanto os mais refinados estão por vir. Veja os destaques:

  1. Cidades médias impulsionaram o crescimento populacional do Brasil
  2. Dados do Censo do IBGE mostram que o país tem 203 milhões de habitantes
  3. Entre 2010 e 2022, o Brasil ganhou mais de 12 milhões de habitantes
  4. Das novas pessoas, 67,5% se concentraram em cidades médias (100 mil a 499 mil habitantes)
  5. O percentual da população brasileira que vive nessas cidades aumentou, enquanto cidades pequenas e grandes perderam relevância proporcional
  6. A concentração populacional em cidades grandes (acima de 500 mil habitantes) teve uma pequena queda em relação ao Censo de 2010
  7. A população dessas cidades aumentou em 3.003.051, mas seu percentual em relação à população brasileira diminuiu de 29,3% para 29% (-0,3%).

 A partir destes números, o IBGE vai seguir calculando a quantidade de habitantes do país e suas condições de vida através de estatísticas. O próximo censo ocorrerá em 2030.

Por que o censo do IBGE é importante para economia?

O Censo do IBGE não fornece só um conjunto de informações, mas também especificidades detalhadas, conhecidas como dados censitários. São estes microdados que permitem ver mapas de pobreza e prosperidade, por exemplo. Com eles, é possível identificar o que está acontecendo naquela região que tem promovido um ritmo diferente na qualidade e na expectativa de vida dos seus residentes. E, assim, detectar experiências que foram bem-sucedidas e replicá-las no restante do país. 

“Temos uma percepção de que a população está envelhecendo e as taxas de natalidade estão diminuindo. Ou seja, as pessoas estão tendo menos filhos e vivendo mais. Consequentemente, muitas mudanças podem acontecer. Até pouco tempo atrás, havia uma grande preocupação com a ausência de vagas nas escolas públicas. E o que cada vez mais se observa é que esse problema, de fato, vem diminuindo ou deixando de existir. Em contrapartida, há cada vez mais idosos. Consequentemente, demandas mais voltadas à saúde vão ser mais necessárias “, exemplifica o especialista. 

“Olhando para os dados, confirmando esta hipótese e dimensionando a velocidade que isso está acontecendo, naturalmente, no futuro, grande parte dos recursos que hoje estão focados em educação se voltarão para a geriatria. E aí, teríamos uma preocupação cada vez maior com a elaboração de políticas públicas voltadas aos idosos. Com o IBGE, é possível identificar onde isso está acontecendo com maior velocidade, de modo que as prioridades possam ser detectadas”, acrescenta. 

Como usar os dados obtidos no censo para pensar a economia?

Os dados novos do Censo também devem reverberar no processo de distribuição dos recursos públicos. Afinal, a disponibilidade de verba para os estados e os municípios passa pelos dados oficiais. Alguns municípios cuja população encolheu devem receber menos recursos federais no futuro, ao passo que aqueles que aumentaram sua população receberão mais verbas.

“Os dilemas continuam existindo e os recursos são sempre insuficientes. Por isso, o mais importante é definir as prioridades. Os dados servem para isso”, afirma Carvalho. 

O que isso tem a ver com os investidores?

Os dados do IBGE confirmam e, em algumas situações, apontam não só a direção, mas também a intensidade com que determinados movimentos estão acontecendo, sejam eles sociais ou econômicos, diz o diretor da PUC-SP. “Isso quer dizer que, mais do que um retrato do presente, o Censo ajuda a dar pistas sobre o futuro”.

E, quando se trata de investimentos, expectativa e previsibilidade são alguns dos fatores mais importantes na hora da tomada de decisão. Por isso, um investidor deve se atentar às transformações do país e da sua população para encontrar boas oportunidades.

Um exemplo é o mercado imobiliário: se determinada região tem recebido um fluxo migratório constante, pode ser que valha a pena pensar em investir nos FIIs que foquem naquele espaço.