Copom: impacto das incertezas fiscais na inflação preocupa BC
A ata do Comitê de Política Monetária informou que há ainda muita incerteza sobre cenário fiscal e que é preciso serenidade. A Selic segue em 13,75% - maior patamar em seis anos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central discutiu, na reunião da semana passada de “forma extensa” os impactos da alta dos gastos públicos na inflação. É o que informa a ata do encontro divulgada nesta terça-feira, 13/12. Na ocasião, a taxa básica de juros (Selic) foi mantida em 13,75% ao ano.
“A incerteza sobre a dinâmica fiscal futura e suas consequências sobre a dinâmica de inflação foram discutidas, e julgou-se que a conjuntura incerta requer serenidade na avaliação desses riscos”.
O colegiado disse ainda que a elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal e novos estímulos fiscais – como a desoneração de impostos, por exemplo, pode ajudar a pressionar a inflação.
O documento do Copom foi divulgado no momento que o Congresso discute a Pec do Bolsa Família – que aumenta as despesas em até R$ 168 bilhões em dois anos – para manter o benefício em R$ 600 reais, além de recompor despesas em educação, saúde e outras áreas. O texto, que já foi aprovado no Senado, pode ir ao plenário da Câmara nesta quarta-feira, 14/12.
“O Comitê avaliou que mudanças em políticas parafiscais ou a reversão de reformas estruturais que levem a uma alocação menos eficiente de recursos podem reduzir a potência da política monetária. Nos diferentes exercícios analisados, avaliou-se que o efeito final, seja sobre a inflação ou sobre a atividade, dependerá tanto da combinação quanto da magnitude das políticas fiscal e parafiscal”, diz o documento.
Desaceleração econômica
O Copom também avaliou que a economia brasileira segue em um rimo mais moderado nos últimos meses e que essa desaceleração deve se acentuar nos próximos trimestres. Entre os motivos, segundo o comitê, estão a queda dos indicadores de confiança, a desaceleração observada nas concessões de crédito e os efeitos defasados da política monetária, ou seja, a alta dos juros começa a fazer efeito na atividade econômica.
“Os dados de atividade no Brasil seguem indicando um ritmo de crescimento mais moderado na margem. A divulgação do PIB do terceiro trimestre sinaliza redução no ritmo de crescimento, em especial em alguns componentes mais cíclicos. Observou-se, ainda assim, crescimento positivo em todos os componentes da demanda e, pela abertura da oferta, crescimento na indústria e em serviços. Além disso, os dados do mercado de trabalho também sinalizam uma redução no ritmo de contratações, mas ainda com contratação líquida positiva na margem”, disse o Copom na ata.
Inflação global
O Banco Central reforçou que o ambiente inflacionário global “segue desafiador”, mesmo diante da normalização nas cadeias de suprimento e da acomodação nos preços das commodities. No entanto, o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias, sugere que pressões inflacionárias no setor de serviços devem demorar a se dissipar.
“O aperto das condições financeiras nas principais economias, as dificuldades no fornecimento de energia para a Europa e o cenário desafiador para o crescimento na China, em parte devido à política de combate à covid-19, reforçam uma perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos trimestres”, afirmou.
Em relação aos recentes aumentos de juros em várias economias desenvolvidas para combater a inflação, o Copom avaliou que esse processo deve ser “não linear e mais lento”. Disse ainda que “a determinação dos bancos centrais em reduzir as pressões inflacionárias e ancorar as expectativas consolidam um cenário global de aperto de condições financeiras mais prolongado”. E que as taxas de juros devem ser mantidas “por um período suficientemente longo em patamares contracionistas, elevando o risco de uma desaceleração global mais pronunciada”.