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Copom sobe o tom contra riscos fiscais e mudanças na meta de inflação

Comitê alertou sobre o impacto das contas públicas na inflação e se os juros atuais são capazes de assegurar o cumprimento da meta. Selic foi mantida em 13,75% a.a.

Copom sobe o tom contra riscos fiscais e mudanças na meta de inflação
A interpretação desse cenário pelo Comitê acontece em meio a uma escalada de críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito a autonomia do BC. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) subiu o tom em uma dura mensagem que acompanhou ontem a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% a.a. No comunicado, a autoridade monetária deu um amplo destaque aos riscos fiscais e indicou que as “expectativas de inflação estão se distanciando da meta”, o que “demanda maior atenção na condução da política monetária”.

Essa indicação do comitê, foi interpretada pelos economistas como uma preocupação com o arcabouço fiscal e com uma possível elevação da meta de inflação – temas questionados recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para os analistas, o BC deixou nas entrelinhas que se a meta de inflação subir, as projeções do BC também vão, e não haverá cenário plausível para o corte de juros.

“O discurso veio mais duro. Podemos até fazer uma leitura de que a independência [do BC] está afirmada. O Banco Central basicamente diz que vai manter a Selic alta por mais tempo. E que, nos termos dele, vai perseverar para ancorar [levar] as expectativas de inflação para a meta. Inclusive disse que não hesitará em retomar o processo de ajuste se for necessário”, analisa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

A expectativa do mercado financeiro era que a Selic fosse a 12,5% ao ano até o fim de 2023. No entanto, o Banco Central mostrou projeções que apontam a inflação acima da meta em setembro de 2024 se os juros caíssem para esse patamar. Em um cenário alternativo, o comitê mostra a inflação basicamente na meta em caso de juros estáveis em 13,75% ao ano.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a taxa básica de juros seguira nesse patamar até dezembro deste ano, não mais agosto como era esperado. Entretanto um aumento de juros também não pode ser descartado.

“Frente à inflação resiliente, o aumento dos gastos com a PEC da Transição e a provável manutenção dos preços de commodities elevados, puxados pela reabertura chinesa, acreditamos que a convergência da inflação para a meta exigirá uma postura mais conservadora do Copom, em linha com o cenário alternativo descrito. Em nossa visão, há uma assimetria na postura do Copom, com poucas chances cortes, implicando que a taxa Selic seguirá em 13,75% ou subirá em 2023”, afirma.

Como fica a renda fixa?

A manutenção da Selic em 13,75% ao ano mantém a renda fixa como uma opção de investimentos. No entanto, a Head de Research de Renda Fixa da XP, Camilla Dolle, alerta para a volatilidade dos títulos diante dos riscos fiscais.

“Continuamos com visão positiva para a renda fixa de maneira geral, visto que as taxas de juros permanecem elevadas e o IPCA continua a ser um tema de monitoramento. Recomenda-se, no entanto, cautela, uma vez que os riscos relacionados ao cenário fiscal têm tornado mais alta a volatilidade dos títulos. Vale ressaltar a importância de ter cautela e se atentar ao seu perfil de investidor e alternativas de alocação ao tomar a decisão”, explica.