“O mercado não está parado”: veja 7 frases do CEO da B3 no Roda Viva
Gilson Finkelsztain participou do Roda Viva, programa da TV Cultura, nesta segunda-feira (04/11)
“O ano de 2025 vai ser de menos incertezas”, afirmou Gilson Finkelsztain, CEO da B3, no Roda Viva desta segunda-feira (04/11). Com o resultado das eleições nos Estados Unidos e maior visibilidade sobre o processo de queda de juros nos Estados Unidos e na Europa, ele acredita em um cenário mais favorável para os mercados emergentes e para a renda variável no próximo ano. Para que esse cenário otimista se concretize, no entanto, o executivo lembrou que é necessário que o governo mostre o compromisso com a responsabilidade fiscal.
Ao longo de duas horas de entrevista, Gilson Finkelsztain falou também sobre o desenvolvimento do mercado de crédito privado no Brasil, o trabalho da B3 para incentivar a diversidade nas empresas e sua preocupação com os sites de apostas no País. Confira os principais destaques!
“Os investidores estão acessando a bolsa cada vez mais cedo”
A B3 tem trabalhado para trazer mais investidores ao mercado de capitais brasileiro e para democratizar o mundo dos investimentos. “A gente conseguiu trabalhar para que o investidor consiga acessar a bolsa cada vez mais cedo e com volumes cada vez menores”, afirmou o CEO da B3 na noite desta segunda-feira.
Ele comentou que anos atrás, o primeiro investimento das pessoas físicas na bolsa era feito com entre R$ 5 e R$ 7 mil reais. Hoje, a média é bem menor, de R$ 200. Gilson Finkelsztain destacou também o aumento de pessoas físicas que investem em produtos de renda variável. “O Brasil ficou do inicio da década de 2000 até 2017 com cerca de 500 mil investidores na bolsa. De 2017 para 2019, esse número foi para 1 milhão. Hoje, são 5,5 milhões de investidores em renda variável, não só em ações, mas fundos imobiliários, BDRs, ETFs”, contou.
“A gente é uma grande plataforma de serviços financeiros”, afirmou. “Temos a visão de que a gente pode trazer o investidor cada vez mais cedo para investir, e usamos tecnologia para facilitar o acesso ao investimento”, disse.
“O melhor que a gente pode ter dessa eleição [dos EUA] é passar rápido por ela”
Os eleitores dos Estados Unidos irão nesta terça-feira (05/11) às urnas, tema que tem trazido volatilidade para os mercados no mundo e no Brasil. “O melhor que a gente pode ter dessa eleição [dos EUA] é passar rápido por ela, sem contestação”, afirmou. Isso porque, conhecido o resultado, dissipam-se as incertezas.
Além disso, ele afirma que para o mercado brasileiro, mais importante do que o ocupante da Casa Branca em 2025 é a trajetória dos juros nos EUA. “Com a continuidade da queda de juros, sobra mais recurso para os países emergentes, e Brasil está bem posicionado para receber esses recursos”, disse.
“Estou bastante preocupado com as Bets”
Ao ser questionado sobre os sites de apostas, as chamadas Bets, Gilson Finkelsztain disse estar preocupado com o tema, confundido por muitas pessoas com investimentos. “É um tema de saúde pública, que deveria ser tratado como tabagismo”, disse o CEO da B3. Segundo ele, é preciso levar mais educação financeira à população para esclarecer que aposta não é investimento.
“A gente tem que trabalhar muito na educação financeira, está no DNA da nossa companhia e isso é muito importante para o Brasil”. Finkelsztain também lembrou a importância da regulação das bets. “É urgente que esse tipo de aposta seja regulado, não somente para fins tributários e para saber quem é o investidor, mas uma regulação que limite as perdas e limite o processo de empobrecimento das pessoas”.
“O mercado de capitais do Brasil não está parado”
Ao longo da entrevista ao Roda Viva, Gilson Finkelsztain foi questionado sobre a bolsa brasileira não ter tido aberturas de capital (IPOs, na sigla em inglês) nos últimos anos. Segundo ele, isso é fruto de um cenário macroeconômico pouco favorável para a renda variável. Por outro lado, o mercado de crédito privado tem crescido e se desenvolvido.
“A gente bateu recordes em renda fixa, em crédito privado, tivemos as concessões. O mercado de capitais do Brasil não está parado, as empresas estão acessando seus projetos de investimentos através de renda fixa privada. É verdade que o mercado de ações foi mais fraco, assim como foi mais fraco no mundo inteiro”, respondeu Gilson Finkelsztain. “O mercado de renda variável não combina com taxas de juros altas. A gente está vendo um ajuste temporal até que as taxas caiam e a gente possa ter uma retomada do mercado de renda variável”.
Um ponto positivo do mercado brasileiro, disse o CEO, é que apesar do menor crescimento do número de pessoas físicas na B3, a quantidade segue constante. “Os investidores diminuíram sua parcela em renda variável, mas continuam diversificando [no mercado de renda variável]. Apesar do volume ter diminuído, vejo investidor de varejo brasileiro testar esses produtos cada vez mais cedo, o que é muito bom”.
O CEO da bolsa lembrou ainda que há mais de 100 empresas preparadas para acessar mercado de capitais no Brasil. “São companhias de setores variados, como saneamento”, disse. “A gente precisa virar a página da eleição americana, ter mais certeza que as taxas de juros nos países desenvolvidos vão continuar caindo e que o Brasil vai conseguir trazer inflação para a meta”, completou Finkelsztain, afirmando que está “confiante que o mercado vai se destravar”.
“A B3 acredita muito na agenda de diversidade e inclusão”
“A B3 é muito comprometida com a agenda de equidade, diversidade e inclusão, e a gente acredita que isso não é moda, isso ajuda o resultado das companhias”, disse Gilson Finkelsztain. Enquanto empresa, comentou o executivo, a B3 aumentou o número de mulheres para 40% do total de funcionários e assumiu o compromisso de alcançar uma representatividade de 35% de mulheres em cargos de liderança. Além disso, tem 26% de pessoas negras trabalhando na companhia, sendo 12% em cargos de liderança.
“A gente sempre menciona que a B3 tem um duplo papel, de fazer o certo e de induzias as boas práticas no mercado”, disse Finkelsztain. Nessa segunda frente de atuação, ele comentou a criação do índice Idiversa, que engloba as empresas mais bem qualificadas em diversidade. Além disso, citou também o Anexo ASG, que estipula o mínimo de uma mulher na diretoria ou no conselho de administração das empresas. As companhias que não conseguirem isso terão de explica os motivos. “Assim a gente consegue induzir esse comprometimento. A gente está vendo evolução, está trazendo essas empresas para a transparência”.
“O Brasil tem chance de atrair muito investimento por conta da energia verde”
Para Finkelsztain, o Brasil está bem posicionado globalmente para atrair investimentos sustentáveis com o crescimento da agenda ESG. “A gente tem energia verde, floresta, capacidade de cancelamento de carbono. É uma possibilidade de o Brasil se posicionar”, disse.
“O mercado de carbono pode ter maior relevância no mercado brasileiro, mas precisa de regulação”, comentou. “É difícil que você tenha o mercado voluntário de carbono suficiente”.
“A economia está crescendo, o desemprego está baixo. Mas olhando para frente, há uma percepção de que o endividamento está muito alto”
Ao longo da entrevista, Gilson Finkelsztain detalhou sua visão sobre o cenário macroeconômico no Brasil. Segundo ele, apesar da perspectiva de crescimento do PIB e desemprego baixo, o mercado busca mais indicações de que a relação entre dívida e PIB do Brasil “não vai piorar”.
“A economia está crescendo 3%, em situação de quase pleno emprego, isso é muito positivo. Mas olhando para frente, há uma percepção de que o endividamento está muito alto”, disse. Por isso, os agentes buscam ter mais confiança de que “o compromisso do governo com fiscal é verdadeiro. Não precisa de nenhum grande milagre, basta o governo cumprir o que ele mesmo se propôs”, afirmou.
Para o CEO da B3, essa maior certeza sobre a trajetória da dívida no Brasil é o que permitirá ao País reduzir as taxas de juros. “O não cumprimento da meta fiscal é percebido como algo que alimenta a inflação, por isso a taxa de juros tem que subir”, afirmou.
Ele comentou também o aumento da nota de crédito do Brasil pela Moody’s, visto por ele como um “voto de confiança”. “A agência de rating dá uma visão de probabilidade de pagamento, e não estamos na iminência de uma crise de insolvência fiscal. Mas vejo uma possível reversão dessa nota se a [relação] dívida/PIB do País não se estabilizar”, afirmou. Por outro lado, “se a gente fizer o dever de casa, com controle da dívida pública, é provável que outras agências façam o upgrade de nota”, disse.
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