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Como a crise da FTX está abalando o mundo das criptomoedas

Sam Bankman-Fried, fundador da maior corretora de criptomoedas do mundo, foi preso ontem nas Bahamas acusado de fraude

O jovem americano de 30 anos Sam Bankman-Fried, que já foi considerado um garoto prodígio das moedas digitais, foi preso por fraude na noite de ontem (12/12) nas Bahamas. Ele se programava para testemunhar no Congresso nesta terça-feira sobre o colapso da FTX, a empresa fundada por ele que virou uma das maiores corretoras de criptomoedas do mundo até praticamente implodir de forma abrupta no mês passado — e, por consequência, deixar o mercado de cripto instável desde então.

A empresa, que entrou com pedido de falência nos Estados Unidos no mês passado, deve US$ 3,1 bilhões para os 50 maiores credores – dois deles tem até US$ 200 milhões pendentes. Ao todo, mais de 1 milhão de clientes e consumidores, além de empresas, também fazem parte dessa lista – o que pode elevar a dívida para US$ 8 bilhões.

Sam Bankman-Fried (imagem abaixo) chegou a ter sua fortuna avaliada em US$ 26 bilhões. Também já foi comparado a John Pierpont Morgan – empresário que ajudou a construir um dos maiores conglomerados financeiros do planeta, o JP Morgan.

John Pierpont Morgan

Entenda a crise da FTX

A crise no falido império de Sam Bankman-Fried começou no início de novembro quando foram observados problemas de liquidez no balanço da companhia. O colapso veio após a rival Binance cancelar abruptamente uma oferta de aquisição da FTX, diante do resultado de uma ‘due diligence’ que mostrou fundos mal administrados. Até agora, o processo de falência tem mostrado uma companhia com poucos controles financeiros.

Era um grupo muito pequeno de pessoas que estavam em funções chaves da FTX, desde a parte de compliance até a área financeira. Para piorar, essas pessoas tinham pouca experiência. Agora sobre o valor da dívida ainda é difícil cravar, mas qualquer numeração que se fale em bilhões é uma cifra impressionante”, afirma o sócio da gestora BLP Crypto, Axel Blikstad.

Sam Bankman-Fried, pediu desculpas à equipe em uma carta que descrevia uma desvalorização nas “garantias” de US$ 60 bilhões para US$ 9 bilhões antes da quebra da FTX no início de novembro. “Eu não queria que nada disso acontecesse e daria qualquer coisa para poder voltar e fazer tudo de novo”, escreveu ele em mensagem enviada aos funcionários e obtida pela agência Bloomberg.

Mudanças de comando

A renúncia de Sam Bankman-Fried da presidência-executiva da FTX, levou a escolha de um novo CEO para comandar a companhia. John Ray assumiu com a missão de vender unidades de negócios, gerenciar equipes remanescentes e dissolver atividades que não fazem mais sentido. Ray ficou conhecido em 2001 quando supervisionou a falência da ex-gigante de energia Enron, que tinha cerca de US$ 63,4 bilhões em ativos. O caso se tornou a maior falência corporativa da história americana.

O novo CEO da FTX criticou a maneira como a plataforma foi administrada. No primeiro documento sobre a recuperação de ativos, John Ray disse ter encontrado inúmeras deficiências de controles e dificuldades para localizar dados confiáveis sobre a real situação da empresa. A nova administração informou também ter encontrado sistemas com integridade comprometida, possivelmente para facilitar transferências de recursos entre diferentes unidades.

“Nunca em minha carreira vi tamanha deficiência dos controles corporativos, nem tamanha ausência de informações financeiras confiáveis como aconteceu aqui”, disse Ray.

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O sócio da gestora BLP Cryptoexplica que a principal causa da falência da FTX vem da má gestão dos ativos pela companhia.

“O John Ray fez comentários de que nunca tinha visto nada igual nos últimos 40 anos da carreira dele, ou seja, tinha muita coisa esquisita. São balanços malfeitos, números escondidos, longos empréstimos entre a Alameda Research – que também é um negócio do Sam Bankman-Fried. Era dinheiro de ativos de clientes emprestados para uma empresa irmã operar no mercado. Então tinha muita coisa estranha e pouquíssimas pessoas sabiam a respeito”, afirma Axel Blikstad.

A nova administração informou que a FTX tem ativos e passivos de pelo menos US$ 10 bilhões, segundo documentos judiciais preliminares. Nos Estados Unidos, as companhias em processo de recuperação de ativos são obrigadas a divulgar informações sobre suas dívidas como parte do processo de insolvência. Segundo especialistas, ainda não está claro quanto dinheiro as pessoas que têm fundos investidos na FTX vão conseguir recuperar ao final do processo de falência.

1ª audiência da FTX

Em 22/11 aconteceu a primeira audiência da FTX na vara de falências dos Estados Unidos. O juiz, John Dorsey, permitiu que a empresa ocultasse do processo o nome dos seus 50 maiores credores. O Código de Falências americano exige que os nomes sejam arquivados em documentos públicos, mas advogados da FTX argumentaram que esses credores também são clientes e a divulgação permitiria que os rivais roubassem seus negócios.

Segundo a agência Bloomberg, o juiz do caso na vara de falências aprovou a proposta para que a companhia continue funcionando e pagando os funcionários. Enquanto isso, o novo CEO e seus consultores examinam os livros da empresa em busca de dinheiro, criptomoedas e ativos que possam ser vendidos para ajudar a pagar os credores.

Preocupações do mercado

O colapso de uma das maiores corretoras de criptomoedas do mundo abalou a confiança no já conturbado mercado de criptomoedas. Os investidores temem a quebra da Genesis, empresa de empréstimo por meio de ativos digitais, que busca US$ 1 bilhão para se capitalizar. A companhia interrompeu saques desde segunda-feira, após informar que tinha US$ 175 milhões bloqueados em uma conta de negociação da FTX. 

A Genesis é um braço do Digital Currency Group – um dos principais grupos financeiros de criptomoedas. O conglomerado possui outras empresas como a Coindesk e a Grayscale, o que preocupa ainda mais os investidores.

“A grande discussão agora é sobre a Genesis Global Capital – que é uma prestadora de serviço no ecossistema. Ele fez muito landing, tomou muito dinheiro para se alavancar, ou seja, utilizaram recursos de terceiros para potencializar os ganhos. Agora estão atrás desse um bilhão, mas ainda não chegaram a algum comprador ou algum credor que estaria disposto a fazer esse empréstimo com garantias”, explica o sócio da gestora BLP Crypto.

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Para Axel Blikstad está muito claro que os problemas enfrentados por essas companhias estão totalmente ligados a má gestão dos recursos e que a tecnologia das moedas digitais é segura

“A tecnologia funcionou. O Bitcoin funciona, o Etherium funciona. Todos os problemas vieram das empresas que deram muita alavancagem e estão pagando o preço. É a ganância dessas corporações que estão centralizadas em fazer muito e muito agressivamente. Isso causa um estrago quando há um movimento de mercado muito brusco, como foi o caso recentemente”, conclui.  

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