ESG

Qual a diferença entre filantropia e investimento de impacto?

Ambos buscam remediar os problemas do mundo, mas a filantropia não visa lucro, enquanto os investimentos de impacto podem gerar muito retorno financeiro

ETFs ESG. Foto: Adobe Stock
Os ativos ligados ao conceito são opções para investidores que se preocupam com os impactos de suas aplicações na sociedade. Foto: Adobe Stock

Com o agravamento das desigualdades sociais e o risco de desastres climáticos maiores e mais frequentes, muitos investidores se voltaram ao ESG para tentar salvar o mundo – sem deixar de ganhar dinheiro enquanto isso. Foi assim que os investimentos de impacto se popularizaram. Mas qual a diferença entre eles e a tradicional filantropia?

Os investimentos de impacto continuam sendo investimentos: têm prazo e retorno, mas o objetivo não é exclusivamente financeiro. Segundo Oberson de Souza, professor de finanças da FGV, um investimento comum quer desempenho financeiro, o que é recorrente é fácil de medir, ao passo que um investimento de impacto visa alcançar outros objetivos.

Já a filantropia busca um impacto positivo, mas sem a prerrogativa de retorno. Por definição, filantropia não visa lucro. Mas nada impede que a atividade seja sustentável, diz o professor: “podem existir atividades dentro da estrutura filantrópica que gerem receita, que será revertida para a manutenção e para a caridade”.

Como a filantropia e os investimentos de impacto se combinam?

Tanto a filantropia quanto os investimentos de impacto procuram melhorar o mundo ou, ao menos, remediar os problemas sociais e ambientais. A diferença é que o investimento busca também um retorno financeiro, enquanto quem opta pela filantropia não tem como objetivo receber o capital de volta.

No Brasil, existe uma série de mecanismos que transformam doações em abatimento do imposto de renda, o que mitiga o impacto financeiro da caridade.

Já o investimento de impacto atua nas duas frentes: busca fazer dinheiro e enquanto faz a diferença. Para isso, é necessário quantificar os efeitos práticos da aplicação na sociedade. “Aferir o dinheiro é fácil, difícil é aferir o impacto”, diz Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.

Nesse ponto, investimentos de impacto e filantropia se reúnem novamente, já que as duas categorias precisam de métricas para avaliar o resultado dos projetos. “Antigamente, as pessoas confundiam filantropia com distribuir dinheiro. Isso não funciona, porque é preciso quantificar se a minha atitude está gerando valor”, explica o professor.

Como o retorno social e ambiental é mensurado?

O investimento de impacto tem a perspectiva de um ativo financeiro: é preciso medir a taxa de retorno da aplicação diante de um índice de mercado e do montante inicial. Além disso, é necessário averiguar se esse investimento contribuiu com o desenvolvimento da sociedade. Pode ser a educação de jovens de baixa renda, uma pesquisa universitária que traga uma descoberta importante, sequestro de carbono… Grandes projetos de filantropia também buscam essa mensuração.

Para isso, existem alguns certificados, indicadores e os selos ESG.

Mas investimento de impacto dá dinheiro?

A ideia de que investimentos ESG não dão retorno foi fomentada nos últimos anos por causa da ideologização da sigla, explica Fabio Alperowitch, fundador da Fama Capital, uma gestora especializada em ESG. Mas ele discorda.

Segundo Alperowitch, existem inúmeros estudos que comprovam o retorno financeiro do investimento ESG equivalente a índices de mercado ou superiores, no longo prazo.

Como as mudanças climáticas afetam o setor de seguros?

“Além de retorno, precisamos olhar para o risco. Uma empresa que escraviza, frauda balanço, derruba barragens ou minera sob bairros habitacionais é uma empresa que tem riscos operacionais e reputacionais muito grandes. E isso tem que estar na conta dos críticos do ESG”, afirma.

De fato, nos três anos que se passaram, com o rali das commodities, os investimentos tradicionais e poluentes tiveram melhores desempenhos. “Isso acaba se tornando uma evidência para quem quer criticar, mas numa janela muito curta”, diz o empresário.

Investimentos ESG são menos arriscados?

Investimentos que tenham mais garantia de boa governança têm riscos mais baixos, argumentam os defensores do investimento de impacto. Sem esses padrões de boa conduta, abre-se margem para um incidente ambiental, perda de clientes ou alta rotatividade de pessoal, explica Florian Bartuneck, fundador da gestora Constellation

Empresas que seguem altos padrões ESG tratam melhor seus clientes e, por isso, têm mais retenção e longevidade, ele argumenta. Se elas tratam melhor os colaboradores, têm menos rotatividade, menos despesas com contratação e funcionários mais motivados e produtivos. Se tratam melhor os acionistas, têm investidores de olho no longo prazo. E se tratam melhor a comunidade, têm mais vendas e menos riscos, nas palavras de Bartuneck.

“Empresas com bons padrões de ESG correm menos riscos”, afirma. “Se você trata mal o cliente, pode ser que ele não faça nada porque é um monopólio e não há opção. Mas, a partir do momento em que houver, ele vai te largar. Se o colaborador ganha pouco e é maltratado, ele só fica se não tiver opção. Se tiver, ele vai embora e você perde o colaborador que você treinou e em quem investiu tanto”, exemplifica Bartuneck. 

Como encaixar investimentos de impacto na sua estratégia?

Um investimento de impacto social pode significar alguma renúncia de retorno financeiro imediato para ter um retorno adicional no longo prazo, tanto no portfólio quanto na sociedade. “Então, mesmo que o retorno seja menor no curto prazo, as externalidades positivas são maiores”, conta o empresário. 

“Se eu só quero ganhar dinheiro, eu faria um investimento ESG porque ele tem menos risco e é mais promissor no longo prazo”, recomenda.

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