Juros do crédito rotativo do cartão atingem 445,7% ao ano
Elevação acontece em meio a discussões do BC para acabar com essa modalidade de crédito. Juros do parcelado bateu 198,4% ao ano e inadimplência atingiu 10,3% em julho
Em meio as discussões entre o Banco Central, governo e instituições financeiras de uma saída para acabar ou diminuir os juros cobrados no rotativo do cartão de crédito, as taxas para essa modalidade de crédito voltaram a subir.
Em julho, os juros do rotativo atingiram 445,7% ao ano, segundo divulgado nesta segunda-feira, 28/08, pelo Banco Central. No mês anterior, a taxa estava em 437%. Essa é a modalidade de crédito mais cara do país.
A inadimplência para essa modalidade também aumentou, subiu de 49% para 49,5%.
O cliente entra no rotativo quando não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte. Se após 30 dias o restante da fatura não for quitada, as instituições financeiras precisam oferecer uma outra opção de parcelamento, com juros mais baratos.
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No início de agosto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que têm discutido alterações nas operações com o rotativo do cartão de crédito, para reduzir a inadimplência – que é uma das maiores do mercado.
“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo – que o crédito vá direto para o parcelamento, que seja uma taxa ao redor de 9%”, afirmou.
Na semana passada, no entanto, Campos Neto alertou que a solução para os juros do rotativo precisa considerar o impacto no consumo da população. Isso, porque uma das causas para as taxas elevadas é o alto nível de parcelamentos sem juros.
“O universo de montante de crédito parcelado sem juros é três vezes maior do que o [parcelamento] com juros. Esse parcelamento, aliado a outros fatores como inadimplência alta e dificuldade de recuperação de crédito, acaba onerando muito o rotativo”, explicou o presidente do BC, em entrevista à revista Veja.
Parcelamento do cartão
O mercado já oferece uma opção de parcelamento da fatura do cartão de crédito. Os juros dessa linha precisam estar abaixo do cobrado no rotativo, mas ainda assim são altíssimos.
No mês passado, a taxa do parcelado do cartão aumentou de 196,1% para 198,4% ao ano, segundo o BC.
Tanto que a inadimplência dessa modalidade atingiu em julho 10,3%, ante 9,9% no mês anterior. Esse é o maior nível desde o início da série histórica do BC, há 12 anos.
No cheque especial, a taxa de juros cobrada desacelerou de 134,5% em junho para 132,5% em julho.
Taxas de juros média e inadimplência
Os juros médios nas operações de crédito ficaram em 44,3% ao ano em julho, ante 44,6% no mês anterior.
A taxa média para pessoas físicas ficou em 58,5% no mês passado, leve aumento na comparação com junho.
Segundo o BC, a queda foi motivada pela “alteração na composição das carteiras de crédito” – que é a soma do saldo de dívidas dos empréstimos e financiamentos concedidos pelos bancos.
Vale lembrar que esses empréstimos são chamados de recursos livres, ou seja, os bancos podem definir as suas taxas em relação aos seus clientes.
A inadimplência média das operações de crédito ficou estável em 3,6% em julho. Entre as empresas, a taxa média ficou em 2,7% e entre as famílias, foi 4,2%, mesmo percentual do mês anterior.
Concessão de crédito
A expectativa dos bancos para a expansão da concessão de crédito desacelerou este ano para 7,6% em julho, ante 7,8% no mês anterior, segundo divulgou hoje a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
O crédito live deve crescer 6,3% este ano e o direcionado (como financiamento habitacional) avanço de 9,3%. Já a inadimplência em 2023 deve ficar em 4,9%.
Para o diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban, Rubens Sardenberg, a revisão foi puxada “pelo menor crescimento esperado da carteira direcionada, tanto no crédito destinado às empresas (7,7% para 7,2%), como para as famílias (10,7% para 10,6%)”. Para o diretor da Febraban, “apesar da revisão baixista, vale notar que a expansão esperada para esta carteira ainda é elevada, próxima a dois dígitos, beneficiada pelo novo Plano Safra, programas públicos de crédito e alguma retomada das operações do BNDES”.