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Poupança: saída de recursos bate recorde nos 7 primeiros meses do ano

Saques superaram depósitos em R$ 70,2 bilhões em 2023, segundo o BC. Saída acontece em meio a juros e inflação ainda elevados.

Poupança. dinheiro. Foto: José Cruz/Agência Brasil
A retirada de dinheiro de uma das mais populares modalidades de investimento, aconteceu após a entrada de R$ 2,6 bilhões no mês passado. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O cenário de juros elevados, o endividamento das famílias na casa dos 50% da renda e a inadimplência em patamar recorde tem levado milhões de brasileiros a retirar recursos da poupança para conseguir fechar o orçamento.

Em julho, os saques de recursos das cadernetas superaram os depósitos em R$ 3,58 bilhões, segundo divulgou o Banco Central nesta segunda-feira, 07/08.

  • Depósitos: R$ 326,6 bilhões,
  • Retiradas: R$ 330,2 bilhões.

A retirada de dinheiro de uma das mais populares modalidades de investimento aconteceu após a entrada de R$ 2,6 bilhões no mês passado. Esse foi o único resultado positivo no ano (acompanhe no gráfico abaixo).

Em maio, a captação líquida (entradas menos saídas) registrou um resultado negativo de R$ 11,7 bilhões, a maior para o mês desde o início da série histórica, em 1995.

POUPANÇA – CAPTAÇÃO LÍQUIDA (Depósitos – Retiradas)

Fonte: Banco Central

Acumulado do ano tem retirada recorde

Nos sete primeiros meses de 2023, os saques da caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 70,21 bilhões. É o maior valor já registrado para uma saída de recursos nesse período em quase três décadas.

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Impacto do cenário econômico

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária reduziu a Selic para 13,25% ao ano. No entanto, o cenário de juros elevados persiste e coincide com a retirada de recursos da poupança.

Os juros altos refletem nas taxas cobradas pelos bancos tanto de empréstimos quanto do rotativo do cartão de crédito, cheque especial, etc.

Isso se soma ao endividamento das famílias, que atingiu 48,8% da renda acumulada nos doze meses até maio, segundo o Banco Central.

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O economista e professor da Faculdade do Comércio (FAC-SP), Denis Medina, afirma que a inflação ainda em patamares elevados também ajuda a explicar o recorde nos saques da poupança.

“Desde o primeiro trimestre de 2021, a inflação registrou alta de quase 20%. Já a renda dos brasileiros, medida pela PNAD Contínua do IBGE, subiu menos”.

Segundo os dados levantados pelo professor, o rendimento médio real dos brasileiros avançou de R$ 2.544 (1º trimestre 2021) para R$ 2.880 (1º trimestre 2023), um crescimento de 13%. No mesmo período, a inflação escalou 19,77%.

“A inflação foi muito maior do que o aumento do salário. As pessoas perderam poder de compra e, para conseguir fechar as contas, estão precisando sacar suas reservas”, explica Denis.

Impacto de outros investimentos na poupança

A outra explicação para a retirada de recursos da poupança passa pela popularização de outros tipos de investimento.

Segundo a B3, nos 12 meses encerrados em maio, a renda fixa atraiu 4 milhões de novos investidores, levando o número total para 15,3 milhões. Já na renda variável foram cerca de 1 milhão de pessoas a mais, o que levou o total de investidores para 5,3 milhões.

“As pessoas estão migrando para investimentos mais rentáveis. O aumento de informações tem ajudado muito nessa questão também. Diante do cenário da Selic em desaceleração, aliada a essa percepção de que existem outros investimentos tão seguros quanto a poupança, vai haver um aumento dessa migração”, explica o economista.

Rentabilidade da poupança

A poupança segue com um dos piores desempenhos entre seus pares da renda fixa. Isso acontece mesmo a caderneta tendo registrado em junho sua maior rentabilidade real, ou seja, descontada a inflação, em quase seis anos, de 5,22%.

Pelas regras, a poupança segue com rendimento limitado. Quando a Selic está acima do patamar de 8,5% ao ano, o rendimento é de 0,5% ao mês, mais a variação da taxa referencial (TR). Segundo especialistas, a caderneta não é a melhor opção para fazer o dinheiro render. Os CDB e investimentos atrelados ao CDI, por exemplo, são alternativas mais vantajosas, pois seguem a Selic.

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