Onde investir para se proteger contra a crise bancária global
Especialistas apontam onde investir agora, no Brasil e lá fora, para se proteger da ameaça de uma crise de crédito global
Por Marília Almeida
A crise bancária parece ter se atenuado, mas ainda pode ser uma ameaça a portfólios de investimentos ao redor do mundo.
A turbulência começou com a quebra do SVB, o banco das startups do Vale do Silício, que nesta semana foi comprado pelo concorrente First Citizens. Também passou pela compra do Credit Suisse pelo UBS. Ambas as transações foram intermediadas por órgãos que regulamentam o mercado, na tentativa de conter problemas maiores.
A crise também provocou fortes resgates no First Republic Bank, que recebeu aporte de US$ 30 bilhões de um grupo de bancos. No fim da semana passada, culminou em uma crise de confiança no gigante Deutsche Bank.
Esse cenário pode parecer distante para os bancos brasileiros. Contudo, turbulências no setor bancário nos Estados Unidos e Europa provocam uma maior volatilidade no mercado, que influenciam o comportamento das aplicações financeiras no Brasil.
Especialistas apontam onde investir agora, no Brasil e lá fora, para se proteger da ameaça de uma crise de crédito global:
Onde investir lá fora
Para quem tem uma parte da carteira de investimentos no exterior, é necessário cautela, diz Marcel Andrade, gestor de fundo de fundos da SulAmérica Investimentos. “Qualquer alocação internacional deve ser evitada em um primeiro momento por conta do aumento da volatilidade, especialmente em títulos bancários”.
Contudo, Andrade pondera que a crise atual é limitada, diferente da crise de 2008. “Até agora os bancos quebraram por motivos diferentes, mas principalmente por má gestão. Esses problemas afetam a confiança, mas o sistema é saudável. Não há uma crise sistêmica”.
Para Erick Scott Hood, diretor de produtos e portfólios da Inter Invest, a preferência deve ser por ativos mais seguros, como títulos do Tesouro americano. “Independente do cenário no exterior exigir maior cautela, a proteção de uma moeda forte, como o dólar, deve fazer parte da carteira, pois tem alta liquidez no mundo todo”.
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Em um momento de aumento de taxas básicas de juros pelo mundo, a tendência é que o dólar se fortaleça frente a outras moedas, diz Andrade. “Mesmo que o aperto monetário do Fed chegue ao fim, há outros riscos nacionais, como incertezas em relação ao novo governo e ao arcabouço fiscal, que podem fazer com que o dólar permaneça forte frente ao real”.
Além dos títulos soberanos de países desenvolvidos, Andrade também vê oportunidades em títulos corporativos de empresas americanas com grau de investimento, que oferecem taxas que não se via há muito tempo. “A taxa subiu porque o risco de mercado aumentou muito. Contudo, essas empresas são saudáveis”.
Hood indica investir em fundos passivos, que aceitam aplicações baixas e acompanham o movimento da moeda, ou fundos de ações, conforme o apetite por risco. “A preferência deve ser por uma carteira pulverizada, como forma de minimizar eventuais riscos”.
A fatia dos investimentos no exterior deve corresponder de 5% a 10% do total investido, recomendam especialistas.
Onde investir no Brasil
Os grandes bancos brasileiros não devem ser afetados pela turbulência bancária lá fora, diz Hood, da Inter Invest. “Os balanços financeiros das instituições financeiras nacionais são sólidos. O impacto acaba sendo marginal”. Além disso, complementa Andrade, os bancos brasileiros têm pouca exposição a ativos no exterior e se beneficiam do cenário de juros altos no Brasil.
Portanto, em uma lógica quase inversa do investimento no exterior, por aqui os títulos bancários de grandes bancos, como CDBs, devem ser a preferência, enquanto é recomendada uma cautela maior com títulos corporativos. “As empresas nacionais vão continuar sofrendo e renegociando dívidas.
Mesmo que o BC comece a diminuir os juros a queda será gradual. A atividade econômica mais fraca e inflação que não cede é o pior dos mundos, especialmente para as empresas que atuam em segmentos como o varejo”, diz Andrade.
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Também é indicada a aplicação em títulos do Tesouro Direto, inclusive indexados ao IPCA, com vencimento no médio e longo prazo. Atualmente estes títulos pagam a inflação mais juros de 6% ao ano. Fundos multimercado, que atuam em todas as classes de ativos, também devem se destacar agora.
As incertezas e os juros altos exigem naturalmente que a maior parte da carteira seja alocada na renda fixa. Mas Hood lembra que a economia é cíclica. “À medida em que as incertezas diminuam e os juros caiam a bolsa deve se recuperar”.
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