Compre na baixa e venda na alta: por que é tão difícil seguir esse conselho nos investimentos?
Para investir, é preciso controlar as emoções e tomar decisões com base nos seus estudos
Este é um dos conselhos mais repetidos sobre investimentos: compre na baixa e venda na alta. A ideia é que é possível surfar no sobe e desce do mercado e embolsar grandes lucros com isso. Parece simples, mas, na prática, é muito mais difícil. Primeiro porque não é possível saber com certeza qual o preço mínimo de uma ação para comprar ou o preço máximo, para vender. Em segundo lugar, a estratégia demanda (muito) sangue frio e controle das emoções.
“É fundamental lembrar, que o mercado, não é uma entidade separada, mas predominantemente formado por pessoas. Pessoas que influenciam e são influenciadas por outras pessoas”, lembra Paula Sauer, professora de Economia e coordenadora do Laboratório de Inteligência Financeira da ESPM. E um dos gatilhos emocionais que aparece frequentemente é o efeito manada, quando muitos investidores compram ou vendem suas ações porque estão acompanhando outros investidores.
Efeito manada
“Sob a ótica da Psicologia Social, é possível dizer que esse comportamento está associado à sensação de proteção que o grupo proporciona. E mais: agir com o grupo dilui um pouco a responsabilidade de um processo decisório”, explica ela. Ou seja, quando um indivíduo que não tem exatamente uma opinião formada sobre determinado assunto, ele segue a “manada”. “De certa forma, ele se sente aliviado, se der tudo certo, ele fez a coisa certa ao seguir o grupo, por outro lado, se a decisão tomada não for a melhor escolha, ele se sentirá menos pressionado, pois seguiu a decisão do grupo. ‘Todo mundo perdeu dinheiro’ é uma sensação bem mais confortável do que ‘só eu perdi, agi diferente do grupo’.”
Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, destaca ainda o risco de se investir apenas seguindo uma orientação ou dica de outra pessoa. “Quando o investidor não profissional tem uma informação e faz o investimento só pelo que ele ouviu, sem nenhum estudo, ele leva algum tempo para processar se vai comprar ou vender, e isso faz com que ele normalmente não tenha os maiores retornos. Ele não tem a informação no momento certo, quando ele fica sabendo de algo, seguramente as pessoas que trabalham no mercado já compraram ou venderam o ativo”, diz.
Excesso de otimismo e aversão à perda
Paula Sauer explica que, quando as ações estão em alta, investidores profissionais vendem os ativos e realizam os lucros para reabalancear a carteira e manter o planejamento financeiro. Por outro lado, os investidores de varejo muitas vezes caem no excesso de otimismo. “A grande maioria dos investidores do varejo se ‘sente rico’ e deixa o dinheiro lá rendendo, porque sempre pode ‘ganhar mais um pouquinho’”, diz ela.
Assim, muitas vezes perdem o timing, esperando que o ativo se valorize mais, mas o mercado vira e passa a cair – e o investidor reduz os ganhos dele ou pior, perde dinheiro.
Já quando o cenário é de queda, um dos vieses que se pode observar é a aversão à perda. “É comum verificar o investidor não profissional ou menos experiente passar por algumas fases. Primeiro ignora, tende a achar que é somente um ajuste no mercado, e à medida que os papéis vão reduzindo o preço, esse investidor pensa que está perdendo dinheiro”, diz Sauer. Se esse investidor não sabe por que o preço está caindo e começa a se desesperar, pode cometer o erro de vender com prejuízo, em vez de esperar uma recuperação à frente.
Como escapar dos vieses comportamentais?
“Autoconhecimento e conhecimento sobre a dinâmica do mercado financeiro serão importantes reguladores emocionais”, defende Paula Sauer. “Se o investidor conhecer o seu funcionamento emocional, suas necessidades, seus prazos e acompanhar o cenário econômico, a dinâmica de funcionamento do mercado financeiro, principalmente dos papéis adquiridos, terá um pouco mais de autocontrole antes de tomar uma decisão de compra ou de venda”.
Ricardo Teixeira enfatiza também a necessidade analisar os ativos com calma antes de investir. É preciso “estudar sobre o mercado e mais especificamente sobre os investimentos que se pretende fazer. O investidor precisa ler muito, participar de fóruns para que esteja bem informado”, diz ele. “Só com informação você vai tomar decisões acertadas, fora disso, vai estar sempre no emocional”.
Outro ponto de atenção é que, depois de feito o investimento, é preciso acompanhá-lo. “Senão, você só vai tomar conhecimento quando aquele ativo já está perdendo valor. Pode até não ter prejuízo, mas não vai aproveitar o melhor momento”, diz o professor.
Diversificação e planejamento
Ter um bom planejamento financeiro e conhecer seu perfil de investidor são pontos essenciais para investir com inteligência. Faça perguntas como: Qual é o percentual do seu patrimônio está exposto a ativos de maior risco? Qual o prazo disponível para o recurso ficar aplicado? Qual sua tolerância à volatilidade do mercado? Que situações provocam maior volatilidade nos preços dos ativos que estão em sua carteira? O que está acontecendo no Brasil e no mundo que podem afetar o preço dessas ações? Sua carteira está diversificada?
Assim, diz Paula, “ainda que o seu comportamento individual não vá mudar o comportamento do mercado, o investidor não sofrerá perdas tão significativas, pois provavelmente terá seus investimentos diversificados, terá um planejamento de curto, médio e longo prazo, por exemplo”.
É difícil acertar o ponto de virada
Além do desafio de segurar as emoções, saber exatamente o melhor momento para a venda e para a compra é difícil. “Mesmo os especializados em segmentos específicos não vão conseguir prever com exatidão, preço e time exatos de inflexão dos ativos”, diz Paula Sauer.
Estrategistas e analistas da XP fizeram um estudo para demonstrar justamente isso. “Simulamos um investimento de R$ 10 mil em ações por 20 anos, e mostramos que um investidor que tem o dinheiro alocado durante todo esse período ganha um retorno significativamente maior do que aquele que tenta ‘acertar’ o período de entrada e saída do mercado”, diz o texto. Isso acontece, justificam os especialistas, porque “historicamente, alguns dos dias de melhor performance acontecem em meio a períodos de pessimismo, quando o investidor quer mais sair do mercado”.
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