IA, transição energética e renda fixa mais volátil: quais as tendências para investimentos, segundo a BlackRock
Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos da BlackRock para a América Latina falou sobre inteligência artificial e as tendências que podem moldar os investimentos nos próximos meses e anos
O mundo pode estar passando por uma transformação tão importante quanto foi a Revolução Industrial. É assim que começa o relatório da BlackRock sobre perspectivas de investimentos para a segunda metade de 2024. O aumento dos investimentos em inteligência artificial, a transição para uma economia de baixo carbono e o rearranjo das cadeias globais de suprimentos formam a base para esse diagnóstico. “Mas a velocidade, tamanho e impacto desses investimentos é altamente incerta”, diz o texto. O cenário macroeconômico que se desenhou no pós-pandemia, com inflação persistente, taxas de juros mais altas, tendência de crescimento menor e dívidas públicas elevadas, acrescenta ainda mais incerteza sobre as perspectivas. “Pensamos que assumir riscos, apoiando-se na transformação e adaptando-se à medida que as perspectivas mudam, será a chave”.
Na avaliação da maior gestora de ativos do mundo, as oportunidades de investimento atualmente transcendem o cenário macro. No período pré-covid, a inflação baixa permitiu aos bancos centrais reduzir as taxas de juros – dando à economia global uma liquidez que beneficiou os investimentos no setor financeiro. “Viemos de um ambiente em que taxas de juros estavam dramaticamente baixas por tanto tempo que muitos de nós esquecemos que isso era excepcional”, afirmou Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos da BlackRock para a América Latina. Agora, isso mudou. “Estamos passando por uma normalização, mas é viciante ter taxas de juros tão baixas”.
Com a mudança, diz Christensen, as oportunidades de investimento agora se concentram na economia real, e não mais em ativos financeiros, como antes.
As grandes tendências globais também alteram o jogo nos investimentos. “Estamos nos estágios iniciais do que chamamos agora de ciclo de inovação da inteligência artificial”. O que isso pode trazer para a economia global? Olhando para o passado, diz Christensen, “sabemos que ciclos de inovação podem aumentar significativamente o crescimento econômico. Mas sempre [é preciso] cautela, não sabemos como esse ciclo de inovação vai seguir”.
O crescimento econômico derivado de inovações tem dois elementos. Um deles é o investimento na infraestrutura – fase que vemos hoje. É quando as empresas começam a se preparar para o crescimento da tecnologia, constroem hardwares e data centers que serão a base para o futuro.
O segundo elemento é o crescimento da produtividade. E nesse ponto há mais incerteza, diz o estrategista. “Não sabemos como as empresas vão transformar o investimento em aumento de produtividade”.
Além disso, as empresas precisam ajustar seus modelos de negócios para se manter competitivas. “A diferença entre os ganhadores e perdedores pode ser maior do que nunca”, pondera o relatório. E essa dispersão cria oportunidades para os investidores.
IA não é só sobre as gigantes do setor
Para embolsar os ganhos com a IA, é necessário acompanhar as transformações e estar preparado para mudar de cenário com agilidade, com base em fatores econômicos, geopolíticos ou ambientais. “Também significa entender que esse é um processo dinâmico”, diz Christensen.
“Muitas vezes nos perguntam se, quando falamos em IA, pensamos que as 7 Magníficas, esse número concentrado de empresas, vai continuar a direcionar o mercado? Apesar de pensarmos que algumas dessas empresas têm elementos que dão suporte à sua liderança, também estamos cientes de que essa liderança pode – e provavelmente vai – mudar com o tempo”.
As 7 Magníficas é como ficou conhecido o grupo de empresas composto por Nvidia, Tesla, Apple, Microsoft, Amazon, Meta (ex-Facebook) e Alphabet (a dona do Google). Christensen faz o exercício de olhar para outros ciclos de inovação tecnológica, e lembra que o Google não foi a pioneiro em sistemas de busca. Da mesma forma, Nokia e BlackBerry, que por um tempo lideraram o desenvolvimento dos celulares, não são as empresas que mais ganharam com essa tecnologia.
“Cada novo ciclo tem seus próprios elementos, e esse provavelmente vai ter a velocidade como diferencial, nenhuma empresa tem a garantia de que será a vencedora”, diz.
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Segundo ele, talvez o lado mais interessante seja olhar para como as empresas que não têm a tecnologia como core usarão a inteligência artificial para incrementar a produtividade. O executivo deu como exemplo as empresas farmacêuticas. No desenvolvimento de novos medicamentos, a IA pode aumentar a eficiência da seleção de moléculas mais promissoras a se estudar e também a acelerar o processo de pesquisa – o que pode se traduzir tanto em redução de custos quanto em aumento de receita para as empresas.
Além da inteligência artificial: o redesenho geopolítico
Outro ponto que promete moldar o futuro dos investimentos e da economia global é o redesenho das cadeias de produção no mundo. “As empresas estão se ajustando a esse novo desenho geopolítico, mudando suas cadeias de suprimentos. Agora, buscam equilibrar eficiência com segurança fornecimento. Países como México e Índia estão vendo aumento de investimento de empresas e isso é uma grande oportunidade para esses países”, afirmou Axel Christensen.
No entanto, é preciso que os países invistam em infraestrutura para que possam aproveitar essa tendência. “O México tem uma tremenda oportunidade de trazer [para perto dos EUA] a produção que foi para Ásia, mas não vai conseguir aproveitar essa tendência se não preparar a infraestrutura. É preciso investir em energia, especialmente de fontes renováveis”.
Transição energética
Outra tendência já citada pela BlackRock em relatórios anteriores é a transição energética. “Empresas e países que se comprometeram a reduzir suas emissões precisam investir para alterar suas frotas de transportes, fontes de energia sustentáveis. Tudo isso precisa de investimento, e muito disso vai ser feito em países emergentes, incluindo América Latina”, diz o estrategista-chefe para a região.
Isso não envolve apenas a energia, mas também questões como dessalinização da água para permitir um aumento da mineração de cobre e lítio em regiões que sofrem com escassez hídrica. “Isso é investimento em ativos reais”, ressalta Christensen.
Nova tendência na renda fixa
“As condições de investimento em renda fixa mudaram significativamente”, afirmou Christensen. Segundo ele, atualmente mais de 80% dos títulos (bonds) oferecidos têm rentabilidade superior a 4% ao ano, algo difícil de encontrar até 2021. Além disso, no passado, para conseguir tal rendimento, era preciso escolher emissores de alto risco, o que não é mais verdade.
“Estamos vendo mais volatilidade nos preços de bonds do que no passado, o que tem a ver com as taxas de juros mais elevadas e mais incerteza”, afirma.
O estrategista ainda afirmou que o mercado de crédito tem dado mais oportunidades de diversificação, e que é preciso olhar além dos títulos públicos. “O crédito privado tem sido uma classe de ativo que investidores estão buscando mais”, diz.
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