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Investidor deve aumentar exposição à renda variável agora, diz Nantes, da Asa

Ao Bora Investir, gestor de renda variável da gestora Asa Investments diz que fundos estão comprados em 53% na bolsa brasileira. "Momento é de transição"

Marcelo Nantes, gestor de renda variável da Asa Investments. Foto: Divulgação
Marcelo Nantes, gestor de renda variável da Asa Investments. Foto: Divulgação

Nem mesmo o balde de água fria do Copom, que deixou em aberto o início da queda da Selic, foi suficiente para interromper as valorizações da bolsa. No pregão de sexta-feira, 23/06, o Ibovespa registrou a nona alta semanal seguida, maior sequência em quase 7 anos.

Ainda que não se saiba ao certo quando os juros vão começar a cair, nem em qual velocidade, Marcelo Nantes, gestor de renda variável da Asa Investments, fundada por Alberto Joseph Safra, acredita que neste momento o investidor deve considerar aumentar a sua exposição à renda variável. “Todo investidor deve ter um porcentual da carteira em renda variável, nem que seja 5% ou 10%. Quem ficou de fora, perdeu esse primeiro rali de expectativas sobre o início de corte da Selic”.

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Formado em Engenharia Mecânica Aeronáutica pelo ITA e com MBA pela Universidade de Virginia, Marcelo Nantes de Souza atua no mercado de capitais desde 2006. Tem passagens pela Cargill Inc, a gestora Black River, Ashmore e Ventor Investimentos. Em 2018, entrou na Bram, gestora do Bradesco, onde foi CIO. Ajudou a fundar, em 2021, a gestora Tower Three. Veja abaixo a entrevista completa do gestor ao Bora Investir:

Bora Investir – O que a gestora mudou em suas perspectivas após o comunicado do Copom da reunião de quarta-feira? Continua a acreditar em um ciclo positivo para a renda variável?

A bolsa registrou um movimento forte em maio e junho, diante da expectativa do início de cortes da Selic. Os dados da inflação vieram menores, ainda que o seu núcleo não tenha sido tão fraco. Mas é inegável a tendência de desaceleração da inflação manifestada pelos dados. O mercado já estava precificando esse ciclo, mas a reunião do Copom jogou um pouco de dúvida sobre o início do corte em agosto.

Os dados do PIB do primeiro trimestre também vieram fortes. Contudo a qualidade desse número pode ser questionada, pois está concentrada no agronegócio. Ainda pairam incertezas sobre as outras atividades, como o setor de serviços. Criou-se a expectativa do corte, mas a atividade econômica não está tão robusta quanto se gostaria.

O segundo trimestre fecha nesta semana e a impressão que temos é de que os resultados financeiros das empresas não virão tão bons. Para que a bolsa possa ter o próximo rali e ultrapassar o nível de 120 mil pontos é necessário que as empresas apresentem bons resultados.

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Ficou claro na temporada de balanços do primeiro trimestre o peso das despesa com juros. Muitas empresas registraram resultados operacionais bons e tiveram lucro operacional. Mas quando colocamos na conta a despesa financeira verificamos uma queda significativa dos números.

Em geral as empresas listadas não estão tão alavancadas e não vão quebrar, mas os juros altos impacta a sua lucratividade. E isso vai continuar a ocorrer no segundo bimestre, dado que não houve ainda queda dos juros. Como a atividade não está forte, deve pesar mais ainda.

Bora Investir – Esse cenário provocou mudanças na carteira dos fundos de ações da gestora?

O movimento de abril e maio foi forte e rápido e não encontra suporte nos números da atividade econômica. Pegamos boa parte desse movimento até que optamos por reduzir o risco do fundo. Estávamos muito comprado no mercado doméstico e pouco exposto a commodities. Balanceamos a carteira para diminuirmos essa diferença.

O PIB foi forte por conta do setor agrícola, especialmente do milho e soja. É um movimento motivado pelo câmbio e inflação mais baixa. Contudo, a bolsa brasileira é desbalanceada em reação ao PIB. Quando falo em commodities, são as metálicas, especialmente o petróleo e o minério de ferro.

Estamos mais cauteloso nessa transição do mercado. Ficaremos otimistas quando o ciclo de queda dos juros de fato se iniciar. Será um momento bom para a bolsa, pois a renda disponível da população deve aumentar, haverá uma melhora da inadimplência nos bancos e a economia vai girar. Mas não sabemos quando essa transição vai acontecer.

Bora Investir – A bolsa já se valorizou bastante. O nível de preço continua atrativo?

Vimos um primeiro movimento positivo na bolsa baseado em expectativas. Do nível de 100 mil voltamos para o patamar de 120 mil. Mas não sabemos ao certo quando o corte de juros vai efetivamente acontecer, nem em que nível e velocidade. Chegamos a ficar comprados na bolsa em mais de 60%, mas já reduzimos a fatia para 53%.

A minha impressão é de que o Copom está vendo sinais de melhora da inflação. Mas o núcleo da inflação não caiu como deveria, e as reformas fiscais ainda precisam ser aprovadas no Congresso. Para que seja possível projetar a inflação de longo prazo, em 2024 e 2025, é necessário ter expectativa fiscal. Se não existe compromisso do governo e do Congresso nesta trajetória, o Copom não faz esse movimento: ele prefere esperar pela aprovação final das novas regras.

Bora Investir – É hora de apostar em small caps? Ou a estratégia exige cuidados, ainda mais em um ciclo de queda de juros que não está ‘dado’?

As empresas de crescimento precisam, naturalmente, de capital para crescer, financiar seu próprio crescimento. Costumam, portanto, contrair dívidas e emitir ações. Por isso, elas se beneficiam muito de um ciclo virtuoso no qual o custo do capital fique mais barato.

Contudo, vemos um fenômeno nos últimos 12 meses no fluxo de resgate de ações: como as small caps são papéis mais ilíquidos, elas tecnicamente sofrem mais. Como resultado, as empresas têm performance regular e estão gerando caixa, mas seus papéis sofrem mais quando os fundos são alvos de resgates. Por isso, se a bolsa entra em um período positivo, elas se beneficiam mais.

Mas é necessário cuidado. Na hora de escolher small caps o stock picking é relevante, pois a dispersão do nível de qualidade dessas ações é grande.

Neste momento de transição, preferimos estar comprados no ETF do índice de small caps, o SMAL11. Dessa forma, conseguimos diminuir a exposição a papéis específicos, mas ao mesmo tempo capturar a valorização das empresas de menor capitalização. Se o mercado, de fato, iniciar o corte de juros, buscaremos estar posicionados na melhor small cap, e substituiremos a nossa posição no ETF.

Bora Investir – O ciclo positivo para ações de empresas resilientes se encerrou?

Não. Em um momento de transição como o atual eu quero investir em empresas mais resilientes, nas quais tenho visibilidade mais constante do que vem pela frente. Sempre haverá lugar para estas empresas na carteira: só iremos ajustar seu peso.

Todo mundo tem de ter um porcentual em renda variável, nem que seja 5% ou 10% da carteira. Quem estava fora da bolsa perdeu esse rali. Achamos que, neste momento, o investidor deve considerar aumentar a sua exposição à renda variável.

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