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O que é o risco-país e como ele pode afetar seus investimentos

Também conhecido como risco-soberano, o risco-país é um índice econômico que mede a chance de um país não pagar o que deve

Em geral, cada agência de avaliação e cada banco adota seus próprios critérios de avaliação de risco.

Depois que duas das principais agências de rating aumentaram a nota de risco do Brasil, o ambiente de negócios do País ficou diferente. Conforme a agenda de reformas progride e o Banco Central, junto do ministério da Fazenda, dão sinais para os agentes econômicos, a percepção dos investidores estrangeiros sobre o Brasil muda. E essa visão subjetiva pode ser quantificada, através do risco-país. Mas o que é isso, afinal?

Basicamente, o risco-país é um indicador que mostra a probabilidade de um país não pagar o que combinou com os detentores de títulos da sua dívida pública externa. Em outras palavras: dar um calote nos investidores internacionais. 

E aí, essa taxa pode subir ou descer conforme se desenrola o noticiário político e econômico do país em questão. As notícias que derem bons sinais para economia e mostrem que o ambiente de negócios tende a estabilidade, vão fazer o risco-país diminuir. 

Já as más notícias, como de crescimento fora das expectativas, inflação descontrolada ou irresponsabilidade fiscal, farão o risco aumentar.

O que é risco-país? 

Segundo Carla Beni, professora de macroeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o risco-país é uma medida de classificação de títulos públicos e a expectativa de que um Estado emergente honre seus compromissos. Assim, quanto maior o risco-soberano, maior a chance de insolvência – que acontece quando as contas públicas não fecham e as dívidas com o credor estrangeiro atrasam. 

Mas o risco-país é diferente de uma nota de crédito: ele mede a insegurança dos títulos da dívida externa, vendida em dólar, enquanto uma nota de crédito mede a dívida interna, vendida em real. Por isso, é comum que as duas notas não batam.

No caso do Brasil, por exemplo, o risco-país é bem baixo, ao passo que a nota de crédito não seja das melhores. “O Brasil tem um volume de dívida externa baixíssimo, e a maioria está alocada no médio prazo”, explica a especialista.

Em comum, as duas taxas são analisadas com muito cuidado por investidores do mundo inteiro antes de aplicarem seus recursos em um território. Afinal, se algum dos dois indicadores for muito preocupante, a chance de perder dinheiro em vez de ganhar é alta. 

O que é uma nota de risco?

Como o risco-país funciona?

Em geral, cada agência e cada banco adota seus próprios critérios de avaliação de risco. Os principais são o EMBI+, emitido pelo J.P. Morgan, e os ratings soberanos de instituições de rating como a Moddy’s, a S&P e a Fitch.

O cálculo é mais ou menos assim: faz-se uma média ponderada do spread dos papéis da dívida pública do país e a compara com os títulos do tesouro americano, que são isentos de risco. 

Quanto maior for a diferença em relação ao título americano, maior será o risco oferecido. O EMBI+, por exemplo, usa pontos-base para medir o risco-país, sendo que 100 pontos equivalem a um percentual de juros.

Isto é: se o risco-Brasil for de 500 pontos-base, a remuneração dos títulos públicos deve ser de, ao menos, 5% mais que os títulos do tesouro americano. Afinal, se o risco é maior, a remuneração também precisa ser para compensar a disposição do investidor de comprar essa briga. 

Para que serve o risco soberano?

Nos bancos afora, o risco-país de países como Brasil, Argentina, México, Índia, é monitorado por analistas de bancos de investimento internacionais para avaliar quando há uma boa oportunidade de lucro no mercado financeiro. Ao mesmo tempo que é possível verificar quais países evitar, também se pode apontar onde há possibilidade de lucro acima da média (desde que se tolere alguma volatilidade).

O que significa a elevação da perspectiva da nota de crédito do Brasil pela S&P?

Ao mesmo tempo, a medida pode ser utilizada para fins políticos. “A nota dos EUA diminuiu por causa de questões fiscais e o partido de oposição tem usado esse fato como arma política”, exemplifica Beni.

Segundo Walter Franco, professor de macroeconomia no Ibmec, o risco-país tem impacto em quase toda a cadeia de produção do lugar em questão. “A forma como ele é percebido nos mercados internacionais, além de deixar os empréstimos mais caros, muitas vezes o impossibilita de acessar alguns tipos de crédito”, justifica.

Como está o Risco-Brasil?

Do ponto de vista das agências de Rating, o Brasil está no nível especulativo. Ou seja: ainda não alcançou as qualidades necessárias para receber aportes grandiosos e permanentes do capital extrangeiro. Ainda assim, poderia ser pior. Veja as notas do País segundo as três principais instituições de avaliação de risco:

  • Fitch: BB-
  • Moods: BA2
  • S&P: BB-

Hoje, a percepção de risco está calcada em uma série de fatores, segundo Franco. Elas incluem a taxa de juros local, a amplitude de flutuação do câmbio, o índice de crescimento, a inflação, o déficit em conta corrente, o nível da balança comercial, reserva internacionais, entre outras.

Para o diretor-executivo da Fitch no Brasil, Rafael Guedes, as perspectivas fiscais do País entraram em um viés negativo desde julho, quando a agência elevou a classificação de BB- para BB. Ele pondera, no entanto, que o resultado fiscal do ano que vem não vai determinar a trajetória de rating do Brasil.

“Obviamente, os números de déficit fiscal têm um viés negativo alto. Nós ainda damos o benefício da dúvida de que o governo vai conseguir passar medidas para aumentar a arrecadação e, se não for o caso, tomar medidas para, pelo menos, reduzir o déficit em 2024”, afirmou, em entrevista do Broadcast.

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