O que o Drex pode mudar (ou não) na sua vida
A nova moeda digital deve revolucionar o uso do dinheiro, mas não por agora
Por Guilherme Naldis
Após três anos de estudos, o Banco Central do Brasil anunciou o Drex, a moeda digital oficial do Brasil, que tem previsão de lançamento para o final de 2024 e o início de 2025. A divisa, que também é conhecida como real digital, já está em fase de testes e promete promover uma verdadeira revolução nas finanças do País inteiro. Mas, de imediato, o que deve mudar para você?
Nada, segundo os especialistas ouvidos pelo Bora Investir. Isso porque, diferentemente do Pix, que é um meio de pagamento instantâneo que se baseia no real tradicional, o Drex vai fornecer a infraestrutura necessária para um novo tipo de transação. Mas essas transações, chamadas de tokenizadas, só se tornarão realidade no futuro, quando bens como veículos e imóveis entrarem na blockchain.
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Afinal, o que é o Drex?
O Drex é uma moeda emitida pelo Banco Central do Brasil (BCB) que está lastreada na blockchain: uma cadeia de computadores que se verificam o tempo todo e podem sustentar todo o tipo e coisa, desde que se faça um “cadastro” — conhecido como tokenização — dessa coisa na rede.
Ou seja: todo o dinheiro será emitido pelo Banco Central com base neste sistema. Isso faz do Drex uma Moeda Digital de Banco Central (CBDC), que visa preservar as características essenciais do dinheiro físico, como sua estabilidade e função como meio de troca, mas incorpora os benefícios tecnológicos das criptomoedas.
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Os principais objetivos do real digital são simplificar as transações financeiras, mitigar riscos de fraudes e diminuir os custos associados à produção de papel-moeda, ao mesmo tempo, em que amplia a segurança e promove um ambiente propício à inovação.
Mas o meu dinheiro já não é digital?
Faz tempo que você não pega em uma cédula de dinheiro ou conta moedinhas para comprar algo, né? De acordo com o estudo Evolução de Meios Digitais para a Realização de Transações de Pagamento no Brasil, realizado pelo BCB, o número de saques de dinheiro em caixas eletrônicos caiu 16% entre 2021 e 2022, enquanto o uso do celular para a realização de transações financeiras saltou de 9% em 2016 para 79% em 2022.
A questão é que os números no aplicativo do seu celular representam os reais físicos. Eles podem não estar ali e você pode nem ter visto a cor do dinheiro. Mas eles estão em algum lugar físico (no caso, na agência física do banco), tanto é que você consegue usá-los para comprar coisas e pagar boletos.
Já o drex estará na rede abstrata e tecnológica da blockchain, e isso pode ser bom ou ruim.
Vantagens do Drex
A professora de ciências contábeis da Faculdade Anhanguera, Valéria Eduardo, afirma que a nossa relação com os bancos não sofrerá mudanças drásticas. Continuaremos a ter contas correntes, a usar o Pix e manter as nossas atividades financeiras habituais. A diferença é o aparecimento de alguns princípios das criptomoedas, “que permitem a transformação de ativos em tokens verificáveis, redefinindo como compramos e vendemos”, explica a professora.
Ela conta que uma das premissas do real digital é diminuir o risco de contraparte em transações comerciais: “Esse risco é a possibilidade de uma das partes envolvidas em uma transação financeira não cumprir sua obrigação contratual, causando perda para o outro lado. Por exemplo, se você compra um veículo e efetua um pix, mas o vendedor não efetua o registro em seu nome, você sofre um risco de contraparte”.
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É algo como um calote, mas mais complexo. Assim, para garantir confiança às transações de compra e venda de imóveis, veículos e investimentos, por exemplo, serão simplificadas. Enquanto isso, os intermediários como o Detran e os cartórios, que tradicionalmente garantem a legitimidade das transações, perderão espaço aos tokens digitais que contam com smart contracts – contratos inteligentes, em português, que são uma parte das moedas digitais que só “se entregam” a um vendedor uma vez que a mercadoria esteja com o comprador.
“Esses documentos digitais executam automaticamente acordos pré-definidos, eliminando intermediários e garantindo que as condições sejam cumpridas. Isso impulsiona a segurança jurídica e a eficiência nas transações comerciais”, explica.
Desvantagens
O Drex será baseado em blockchain, o que significa que será mais confiável e eficiente do que as moedas físicas e as criptomoedas. No entanto, também pode apresentar algumas desvantagens no futuro, como a possibilidade de ser mais vulnerável a ataques cibernéticos do que as moedas físicas. Isso ocorre porque o blockchain é uma tecnologia relativamente nova, da qual hackers podem tentar explorar vulnerabilidades na tecnologia para roubar e acessar dinheiro ou dados.
“Outra desvantagem do Drex é que ele pode ser menos privado do que as moedas físicas. Isso ocorre porque todas as transações de Drex são registradas no blockchain, que é um livro-razão público. Isso significa que qualquer pessoa pode ver quem está enviando e recebendo dinheiro. Será preciso que o Banco Central garanta a privacidade e o sigilo das operações financeiras”, alerta a professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich.
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