Organizar as contas

Ferrou! Crônicas da reserva de emergência

Se você ainda não tomou coragem para criar uma reserva de emergência, estas duas histórias vão te convencer

Cada um começa sua reserva de emergência por uma razão. Às vezes, é por causa de um perrengue que seria facilmente contornável se houvesse um colchão de segurança. Também tem os casos de quem quer começar a investir e precisa arrumar as contas. Mas há ainda aquelas pessoas que tinham uma reserva, mas nem sabiam que tinham.

Foi o caso da professora aposentada Carla Limeira, de 43 anos. Há dois anos, ela resgatou um gato vira-lata da rua onde mora, em Embu das Artes (SP), e o chamou de Negresco, em razão da cor de seus pelos. 

Quando ele chegou, era magrinho e tímido. Mas, com menos de dois meses de afeto e ração boa, se tornou um gatão gordo e preguiçoso que mal cabia no colo da dona. O peso do animal impedia que ele pulasse entre os móveis da casa. Mesmo assim, ele tentava. Mas não conseguia, se espatifando no chão. Por isso, Negresco vivia lesionado, o que o tornava paciente frequente do pronto-socorro veterinário da cidade. 

Um dia, preocupada com os gastos recorrentes com medicação para o gato, Carla decidiu poupar uma grana para castrá-lo, algo que, segundo a veterinária, o faria perder peso. Acontece que a cirurgia era cara e a ex-professora havia acabado de se tornar avó. Por isso, estava sem limite no cartão de crédito, pois já havia gastado muito mimando sua nova netinha. Então, no começo de fevereiro, ela poupou R$ 100 da sua aposentadoria e os aplicou em um CDB oferecido pelo seu banco digital. 

No mês seguinte, mais R$ 100, e no outro também. E foi assim até a metade do ano, quando ela pôde resgatar a grana acrescida de um juro maior que o da inflação para, enfim, castrar Negresco. O problema era que a veterinária estava sem agenda para fazer a cirurgia. Não foi um problema para Carla, que decidiu continuar engordando a reserva. Quem sabe, compraria um brinquedo novo para o gato depois da operação. 

Reserva de oportunidade: o que é? Veja como criar a sua!

Já perto do fim do ano, Negresco perdeu alguns quilos com a ração nova e já conseguiu correr mais livremente. Na véspera de Natal, saiu na rua e matou um rato. Com muita gratidão, trouxe o cadáver para a dona, que recusou o presente. Sem ter o que fazer com a caça, o felino decidiu comê-la. Nos dias seguintes, ficou desanimado e com náusea: teve uma intoxicação por causa do roedor, que provavelmente tinha vindo do esgoto.

Foram três dias consecutivos de idas e vindas ao hospital veterinário. O gato vomitava, miava mole de dor e reclamava ao ser pego. E nada de melhorar. Na segunda semana de medicação, ainda sem resultados, o médico de plantão mudou a receita de medicamentos e Carla pensou que não tinha mais dinheiro para comprar os remédios. 

Mas tinha sim! Aproveitou a liquidez diária dos CDBs e pronto: resgatou a aplicação imediatamente e comprou tudo o que Negresco precisava.

Desta vez, o tratamento fez efeito e o felino ficou bom a tempo de ser castrado, no mês seguinte, com as reservas da responsável.

Grata por ter montado o colchão de segurança e se lembrado dele, Carla decidiu encarar a reserva de emergência, que ela nem sabia que tinha esse nome, com mais seriedade. Hoje, a cada salário que cai, uma parcela é destinada a ela. Afinal, vai saber, né?

É melhor prevenir do que remediar 

Quando entrou na faculdade, Amanda Souza foi uma das primeiras visualizadoras do canal de finanças pessoais “Me Poupe”, da influenciadora Nathalia Arcuri. Ela começou a trabalhar bem cedo, aos 15 anos, como jovem aprendiz. Mas até conhecer a influencer, recebia seus salários para pagar boletos.

Antes de conhecer a página do YouTube, ela deixava o pouco dinheiro guardado que tinha na poupança. Depois, começou a montar sua reserva de emergência com títulos do Tesouro por recomendação da youtuber.

Por alguns meses, ela manteve uma planilha para se programar e guardar 10% da sua receita, mas não funcionou muito bem. E, aí, ela mudou de estratégia: começou a guardar o que sobrava do seu salário e, aos pouquinhos, conseguiu completar a reserva depois de quatro anos.

“Tem meses e meses. Na teoria é muito lindo ter que montar a carteira de emergência o mais rápido possível. Mas, na prática, leva tempo para adquirir o hábito de controlar as finanças pessoais e os gastos”, desabafa.

No meio do caminho, houve meses em que ela gastou por impulso e não colocou dinheiro na reserva. Mas, no fim, ela conseguiu. Coincidiu com o tempo da formatura e do casamento, assim como do primeiro emprego formal. Foi um começo de ano intenso, porque as restrições para conter a pandemia de covid-19 estavam sendo relaxadas e ela também tirou a habilitação para dirigir. 

Dólar, ouro e imóveis: o que é reserva de valor e como montar uma

Dois meses após a viagem de lua de mel, Amanda foi ao seu trabalho, que ainda seguia o regime híbrido. Na maioria das vezes, havia espaço de sobra no estacionamento da empresa de meteorologia. Ela sempre procurava o lugar mais afastado para manobrar o carro novo, comprado com o marido, com folga e segurança. Mas, naquele dia, não.

O escritório estava lotado e o estacionamento tinha pouquíssimas vagas. Não tinha para onde correr. Só havia um espaço livre: entre outro carro e uma pilastra. Com todo cuidado, ajeitou o carro e foi colocando o veículo no ângulo certo. Deu ré para entrar na vaga e, aos poucos, se enfiou no espaço. Erro de cálculo: o carro estava torto e a porta do carona ficou para trás. O pilar do prédio raspou em metade do automóvel. Ela estava bem, mas o carro não.

“O que vou dizer pra ele?”, pensou, antes de ligar para o seu marido. Ele, que dirige muito bem, pensou que se tratava de uma piada. Mas, quando viu o estado do carro, mudou de expressão. Afinal, era o primeiro carro zero dos dois. Por sorte, a reserva de emergência estava lá.

“Ficou um climão por alguns dias por causa do carro, mas ele não ficou bravo comigo, nem nada. Acidentes acontecem, mas a reserva de emergência com certeza evitou uma DR”, relata a habilitada. Por sorte, o carro tinha seguro. Como o acidente foi feio, era necessário pagar uma franquia de cerca de  R$ 3 mil. Felizmente, o valor era só uma parcela da reserva, que já estava constituída há alguns meses.

Os três meses seguintes foram de aperto. Amanda deixou de almoçar em restaurantes e começou a levar marmita. Também parou de aplicar em seus fundos de ações, já que estava em uma força-tarefa para reconstituir o colchão de segurança.

Mas conseguiu. Hoje, é mais prudente no trânsito: não estaciona de ré e já recompôs a reserva de emergência. “Fiquei com muita dó de resgatar o dinheiro, que estava lá bonitinho. Mas, ainda bem que eu tinha”.

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