Tenho compulsão por compras, e agora?
O distúrbio da compulsão por compras, caracterizado pela gastança incontrolável, deve ser tratado com ajuda de psicólogos e planejadores financeiros
Por Guilherme Naldis
Comprar é bom e todo mundo gosta. O problema é que, sem o devido controle, o desejo de consumir pode se tornar uma compulsão por compras, que adoece a mente e o bolso.
Estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que 8% da população mundial sofra com oniomania – o vício ou obsessão por comprar. O transtorno, segundo a psicóloga Beatriz Bonfim, é caracterizado pela vontade quase incontrolável de adquirir novos bens sem que haja uma real necessidade ou, mesmo, recursos financeiros suficientes.
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Era o caso da diretora de ensino Luciane Carvalho, de 53 anos, que ama roupas novas. O que hoje é uma vontade contida de estar bem vestida já foi motivo de muito endividamento. Ela admite que era comum checar o preço de um vestido novo somente no final do mês, quando a fatura do seu cartão de crédito chegava.
“Cheguei a entrar em uma loja só para olhar e sai de lá com 20 peças de roupa. Eu só ia pegando o que achava bonito: provava e nem olhava a etiqueta”, relembra. Por isso, a contratação de empréstimos para pagar as dívidas também era recorrente na rotina da professora.
O problema era que, a cada mês, novas compras eram feitas mesmo que as anteriores mal tivessem sido pagas, e a bola de neve ia crescendo. Bonfim conta que disfunções psíquicas como essas são, muitas vezes, frutos de um trauma mal resolvido do passado.
De onde vem a compulsão por compras?
Todo acontecimento na vida de alguém causa um impacto em sua mente e pode gerar comportamentos nocivos, explica a especialista. No caso de Luciane, a raiz do problema pode estar na infância. Ela conta que sua família era muito pobre e, como tinha muitos irmãos, passar por apertos financeiros não era raro.
“Quando eu era pequena, eu e minhas duas irmãs tínhamos de dividir o mesmo vestido. Primeiro, nossos pais compravam para a mais velha, no tamanho dela. Minha irmã do meio, que era mais alta, usava como um vestido curto e eu, menorzinha, usava de vestido longo”, relata, entre risos.
Anos mais tarde, já com um emprego fixo e um poder aquisitivo maior, o trauma de infância pôde ser “suprido” às custas de sua saúde financeira. Ela só melhorou quando decidiu sair do aluguel e comprar uma casa própria, há dez anos. “Eu estava muito endividada e fui buscar ajuda. Tomei vergonha na cara e comecei a me controlar”.
Como tratar a compulsão por compras?
A planejadora financeira Paula Bazzo, da SuperRico, explica que um planejamento financeiro pode ajudar quem enfrenta a oniomania e é decisivo para casos mais leves e que dispensem ajuda médica.
Para Bazzo, a pessoa compulsiva vê uma oportunidade de compra e, apesar de reconhecer as consequências adversas, ou mesmo as suas próprias limitações, não consegue se segurar. Os frequentes casos de comprar desenfreadas que resultam em endividamento pode ser fruto, na verdade, de um desconhecimento das próprias finanças.
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“Um planejamento financeiro ajuda nos dois casos porque estimula a realização de sonhos e o sentimento de conquista das coisas, que aplaca parte da frustração com bens materiais. A delimitação ajuda na clareza dos objetivos e, também, na percepção de que você consegue chegar lá”, afirma.
Veja quatro dicas para evitar compras impulsivas. Veja!
1. Use dinheiro físico
Se há um descontrole financeiro, pagar em dinheiro vivo vai causar uma espécie de reflexão sobre o dinheiro, que está na sua mão.
Muitas vezes, diz Bazzo, o pix ou o cartão de crédito não tem essa materialidade. Por isso, passam batido nos gastos corriqueiros. Neste sentido, a compra com cédulas e moedas pode ajudar a dar o devido peso a cada aquisição.
2. Utilize um cartão pré-pago
Outra opção é usar os cartões pré-pagos. Eles funcionam assim: o usuário transfere uma quantidade determinada de dinheiro no cartão e pode usá-la até acabar.
“Se delimito, por exemplo, o quanto eu posso gastar com vestuário, quando o limite é atingido o impulso de gastar será inibido”, diz a especialista.
3. Evite a tentação
Quando se trata de comprar online, o risco de perder as rédeas dos gastos é ainda maior, já que a rede é dominada por publicidade de marcas e lojas.
Por isso, Bazzo recomenda que quem estiver passando por algum nível de descontrole aquisitivo deve cancelar inscrições em e-mails promocionais de lojas e sites de comércio eletrônico.
4. Faça listas e espere
Montar um carrinho de compras online ou listar o que se deseja é um dos mandamentos das boas compras. Depois de fazer a lista, Bazzo recomenda deixe pra comprar daqui a dois ou três dias.
“Muitas vezes, você vai até esquecer que montou aquele carrinho. E aí, quando a temperatura baixar, vai olhar com mais clareza e decidir o que pode e o que não pode”, explica.
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