Quais as diferenças entre renda fixa e variável? Entenda
Entender as características básicas de cada modalidade é fundamental para montar a melhor estratégia de acordo com seus prazos e objetivos
Entender as características básicas de cada modalidade é fundamental para montar a melhor estratégia de acordo com seus prazos e objetivos
Renda fixa ou variável? Essa é uma questão comum enfrentada pelos investidores, especialmente os iniciantes. Na renda fixa há maior previsibilidade do retorno e, em alguns casos, prazos definidos. Na renda variável, o retorno pode ser maior, mas há também mais riscos.
Isso não quer dizer que a renda fixa seja boa e a variável, ruim. O importante é conhecer bem as diferenças de cada uma para decidir qual se adequa melhor aos seus prazos e planos – levando em consideração também as perspectivas para a economia. E, claro, lembrar de diversificar a carteira para minimizar possíveis riscos.
Apresentamos abaixo as características de cada uma para ajudar você na escolha.
O que é renda fixa?
Com menor risco e boa liquidez, os investimentos em renda fixa atraem muitas pessoas, especialmente no Brasil, país com histórico de taxas de juros mais altas. Até pouco tempo atrás, porém, muitas pessoas só conheciam a caderneta de poupança.
Pela regra atual, o rendimento da poupança varia de acordo com a Selic. Quando a taxa básica de juros está abaixo de 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic. Quando está acima desse patamar, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a taxa referencial (TR).
Diante das mudanças no cenário econômico do país e de um amadurecimento do mercado financeiro, as pessoas começaram a buscar opções mais rentáveis de investimento, mesmo na renda fixa.
O termo “fixo” não quer dizer, necessariamente, que se saiba qual será o retorno final do investimento. Em alguns casos, isso está combinado com bancos e corretoras (pré-fixado): um título pode prometer pagar, por exemplo, 12% ao fim de 1 ano.
Em outros casos, o investimento em renda fixa é chamado de pós-fixado e está atrelado a um critério pré-definido, como a taxa básica de juros (Selic), o CDI, ou a inflação oficial (IPCA). Há ainda os investimentos híbridos, que têm parte da rentabilidade pré-fixada e parte pós-fixada, como um título que promete Selic + 1%, por exemplo.
Há duas maneiras de investir em renda fixa: títulos e fundos.
Principais títulos de renda fixa
Emitidos por um banco, pelo governo federal ou por empresas, visam a captação de recursos. Ao comprar os títulos, o investidor empresta dinheiro ao emissor e recebe em troca uma remuneração de acordo com a taxa de juros.
Os títulos de renda fixa mais conhecidos são:
- CDB (Certificado de Depósito Bancário)
- Títulos do Tesouro Direto;
- LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio);
- CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários);
- LC (Letra de Câmbio) e LF (Letra Financeira);
- Debêntures.
Principais fundos de renda fixa
Outra alternativa para investir em renda fixa é por meio de fundos de investimento. Neles, as pessoas detêm uma fração do patrimônio coletivo – formado pelas aplicações de todos os investidores – proporcional ao valor aplicado. Os fundos de investimento em geral são compostos para compra e venda de:
- bens imobiliários;
- títulos bancários;
- cotas de outros fundos.
Ponto de atenção: além do retorno, vale analisar a taxa de administração para calcular a rentabilidade líquida do investimento.
Vantagens da renda fixa
Com critérios de rentabilidade e prazo definidos, os investimentos em renda fixa proporcionam:
- previsibilidade: no caso dos títulos pré-fixados, e se forem mantidos até a data do vencimento, o investidor sabe com antecedência a quantia que irá receber;
- garantia do FGC: o Fundo Garantidor de Crédito, mantido com aportes das entidades do mercado financeiro, cobre perdas de alguns tipos de aplicações, como os CDBs, em caso de quebra da instituição financeira emissora dos títulos. Isso até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por depósitos e investimentos em um mesmo grupo financeiro – limitado ao teto de R$ 1 milhão a cada 4 anos;
- isenção de Imposto de Renda: os ganhos obtidos com algumas categorias de título, como LCI, LCA e CRI, são isentos de tributação. Em alguns casos, a alíquota de imposto é menor quanto maior o tempo de permanência. É o caso do CDB, cujo desconto varia de 22,5% para investimentos por até 180 dias a 15% para aqueles acima de 720 dias.
- liquidez: em alguns casos, é possível resgatar o investimento no mesmo dia. Mas é bom lembrar que investimentos com prazos curtos podem pagar mais imposto de renda e ter rentabilidade menor.
Ponto de atenção: Embora a renda fixa tenha menores riscos, eles também existem. Entre eles está o risco de crédito, ou seja, de não receber de volta o dinheiro que investiu. Esse risco é menor ou maior conforme a capacidade de pagamento de quem emite o título. Portanto, um título do governo tem o menor risco de crédito entre os investimentos brasileiros.
Quando o título é privado, emitido por empresas, o risco será menor quando o devedor forem empresas ou instituições financeiras de grande porte e maior quando forem empresas ou instituições financeiras de pequeno porte.
O que é renda variável?
Por terem maior imprevisibilidade sobre ganhos, os investimentos em renda variável são considerados de maior risco. Porém, também oferecem maiores expectativas de retornos financeiros.
Se considerarmos que o risco de investimento vem das incertezas, é fácil concluir que a renda variável é mais arriscada. As incertezas vêm de cenários econômicos e políticos, tanto nacionais quanto internacionais, além de particularidades de segmentos específicos. São muitos e imprevisíveis fatores, o que aumenta a volatilidade do investimento.
Por outro lado, a renda variável continua sendo atrativa porque seu retorno esperado, no médio ou longo prazos, tende a ser maior do que o da renda fixa.
Assim como em renda fixa, os investimentos em renda variável têm boa liquidez, podendo ser vendidos com facilidade.
Os investimentos de renda variável mais conhecidos são:
- ações;
- fundos imobiliários (FIIs);
- exchange traded funds ou fundos de índices (ETFs);
- Brazilian depositary receipts ou recibos de ações estrangeiras (BDRs);
- fundos de investimentos (fundos de ações; internacionais; multimercado; cambiais ou de outros ativos, como ouro ou criptomoedas).
Renda fixa ou variável: como escolher?
Identifique seu perfil de investimento:
Além de conhecer as diferenças, o investidor deve saber qual é o seu perfil de investimento, quais são suas expectativas e os riscos que está disposto a correr. Deve-se notar, ainda, que escolher um tipo de renda não exclui a outra, pois o conjunto de investimentos pode abrigar os dois, em quantidades que sejam adequadas para cada perfil.
Arthur Vieira de Moraes, consultor financeiro e professor da B3 Educação, diz que investimentos em renda fixa são adequados para conservar valor. “Eles são adequados para qualquer pessoa. Afinal, todos temos algo a conservar. A inclusão de renda variável em um portfólio depende do perfil de cada investidor.”
O perfil do investidor deve levar em consideração questões como idade, renda e gastos cotidianos. “Alguém já aposentado ou bem próximo da aposentadoria tende a se interessar muito mais por conservar o patrimônio construído do que arriscar parte dele em busca de ganhos mais elevados. É o típico perfil conservador”, afirma Moraes. “Provavelmente alguém com esse perfil vai ter a maior parte dos investimentos em títulos de renda fixa. Talvez até tudo em renda fixa.”
Já alguém com bastante tempo pela frente e poucas obrigações financeiras pode arriscar mais do seu patrimônio em busca de multiplicá-lo – porque terá tempo para recuperar eventuais perdas. “Esse perfil pode ser arrojado, ter a maior parte dos investimentos em renda variável. Sem esquecer de conservar uma parte, no mínimo uma reserva de emergência”, explica o consultor da B3.
Perfis conservador e arrojado representam dois extremos de um mesmo espectro, mas ainda há aqueles intermediários. “Uma pessoa que tenha dependentes, muitas contas para pagar, mas que também ainda tem mais uns 15 a 20 anos até a aposentadoria está no meio do caminho: nem totalmente conservador nem tão arrojado. Pode ter um portfólio em que a maior parte seja composta por renda fixa, mas ainda assim com espaço razoável para renda variável. Este é o perfil moderado.”
Identifique seu cenário econômico:
Além do perfil do investidor, há questões econômicas que tornam mais propício escolher este ou aquele tipo de renda. O senso comum diz que juros baixos favorecem investimentos em renda variável, e juros altos, em renda fixa. Mas há outros fatores, explica Moraes, ligados a incertezas (riscos) e objetivos de investimento.
“Em momentos de maior incerteza, por motivos econômicos, políticos ou geopolíticos, é mais provável que os investidores prefiram investir em renda fixa. Se não se consegue medir razoavelmente o quanto se espera ganhar com a renda variável, como saber se vale a pena assumir tal risco? Então, enquanto esperam por condições menos incertas, investidores preferem a renda fixa.”
Analise os prazos e riscos:
O prazo também é um fator relevante na decisão. “Sempre que um investidor tiver destinação de curto prazo para o dinheiro que pretende investir, não faz sentido assumir riscos na renda variável. Por exemplo: alguém que tenha que pagar uma parcela intermediária de financiamento do imóvel, e já tenha hoje boa parte do dinheiro necessário, não deveria investir esse dinheiro, digamos ‘carimbado’ para pagar essa obrigação, em renda variável.”
Já o risco de liquidez se aplica às situações em que não é possível resgatar um investimento no momento desejado ou vendê-lo por falta de interessados. “Quando existem regras claras sobre resgate é fácil identificar o risco. Se o resgate é simples e em curto período (no mesmo dia ou no dia seguinte), o risco de liquidez é baixo. Se a regra pede um período maior para o resgate, o risco é alto.
Além disso, existem investimentos que não permitem resgates e que precisam ser vendidos por quem deseja transformá-los em dinheiro. São casos como debêntures, CRI, CRA, ações, fundos imobiliários, entre outros. Nesses casos, é preciso se informar sobre cada título para saber se a liquidez é alta ou baixa”, aconselha Moraes.
O risco de mercado, por sua vez, vem das oscilações de preços dos ativos, é o risco de precisar vender um ativo abaixo do preço pelo qual comprou, ou seja, vender com prejuízo. Está presente em qualquer tipo de investimento, não importa se de renda fixa ou variável.
Na renda fixa esse risco é bem reduzido quando o investimento é pós-fixado (como Tesouro Selic e títulos atrelados ao CDI) e fica maior quando o título for todo ou em parte prefixado, por exemplo, o Tesouro Prefixado. Já o Tesouro IPCA é parte prefixado. Quanto maior o prazo até o vencimento de um título prefixado (parte ou todo), maior será o nível de oscilação de preços e, portanto, maior o risco de mercado.
Em investimentos de renda variável não há um padrão, é preciso fazer estudos com base em dados históricos para conhecer o nível de volatilidade esperado de cada investimento. De maneira geral, espera-se que tenham volatilidade maior do que os títulos de renda fixa.
É bom lembrar que não existe nenhum investimento livre de riscos, assim como não há problema em assumir riscos ao investir, desde que esteja de acordo com o perfil, com a estratégia e que os riscos tragam uma possibilidade de retorno maior.
“Um título de renda fixa que tenha carência ou prazo longo para resgate deve, por exemplo, oferecer retorno maior do que o de um título que possa ser resgatado a qualquer momento (risco de liquidez). E investimentos em renda variável devem ser feitos quando a expectativa de ganhos for maior do que a de investir em títulos de renda fixa.”
Para saber ainda mais sobre investimentos e educação financeira, não deixe de visitar o Hub de Educação da B3.