Commodities

Entenda o impacto mundial do corte na produção de petróleo pela Opep+

Organização dos Países Exportadores de Petróleo diminuiu a produção da commodity em 1 milhão de barris diários. Impacto passa pela inflação e pode chegar nos juros e na bomba

Petróleo, Opep. Foto: Pixabay
Os contratos futuro de petróleo para dezembro abriram a sessão de hoje em leve queda. O movimento é considerado uma correção técnica, após o barril ter subido mais de 4% ontem. Foto: Pixabay

Os preços do barril de petróleo dispararam nesta segunda-feira, 03/04, após a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de cortar a produção em 1 milhão de barris diários a partir de maio. Em outubro do ano passado, a Opep+ já havia reduzido a produção em 2 milhões de barris por dia. Diante de mais essa iniciativa, o corte chega a 3% da produção mundial.

A redução da produção de petróleo bruto acontece em meio a queda nos preços que estavam, em média, a US$ 70 o barril. É o nível mais baixo em 15 meses, diante das preocupações com a menor demanda por conta da desaceleração da economia mundial.

Com a redução da oferta e a manutenção da demanda, os preços tendem a se apreciar. Diante do anúncio, os analistas do Goldman Sachs aumentaram a sua previsão de preços para o barril do tipo Brent – referência internacional – para US$ 95 até dezembro. O movimento foi considerado uma surpresa pelo mercado.

“O petróleo avança 5% após o corte. Esta decisão surpreendeu os investidores. Juros dos Treasury Bonds [investimentos em renda fixa nos Estados Unidos] se elevam, pois, este choque negativo de oferta pode exigir uma resposta mais dura dos bancos centrais para mitigar os efeitos secundários da elevação dos combustíveis”, explicam os analistas da LCA Consultores.

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O especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, afirma que a decisão impacta a economia mundial através de uma inflação mais alta, que pode mexer nas decisões de juros. Importante lembrar que os países seguem no combate a alta dos preços com políticas monetárias cada vez mais apertadas.  

“Na economia mundial, o corte na produção representa mais inflação – dado que os preços vinham convergindo para baixo. Em especial na economia americana que começava um arrefecimento dos choques de oferta. Então essa decisão pode causar mais desequilíbrio e isso, obviamente, mexe bastante na inflação e, consequentemente, demanda uma postura de rigidez monetária das autoridades na figura dos bancos centrais”, explica.

Impactos no Brasil

No Brasil, a postura da Opep+ de cortar a produção de petróleo pode aumentar os preços dos combustíveis. Os analistas explicam que os efeitos podem ser ainda mais fortes, mesmo após a reoneração parcial dos impostos sobre a gasolina.

“No ano passado houve uma política para aliviar o preço dos combustíveis e isso ajudou a arrefecer a inflação. Hoje, essa diminuição de oferta, pode novamente causar um cenário de estresse nos preços”.

Para o especialista, mais do que olhar possíveis reajustes nos combustíveis, é preciso ficar atento a como a nova diretoria da Petrobras vai lidar com esse choque de oferta. Desde antes de assumir o comando da estatal, o presidente Jean Paul Prates fala de discutir mudança na política de preços da companhia.

“É o primeiro teste para entender se a política de preços vai ser mantida. A partir dessa decisão é que podemos olhar o impacto nos combustíveis – se haverá ou não repasse tarifário. Portanto é muito importante monitorar qual vai ser a decisão da Petrobras em termos de política de preços e como que o governo vai ter influência em relação a isso”.

Preços            

Em março deste ano, o governo retomou parcialmente a cobrança de impostos federais sobre a gasolina. A medida elevou os valores nos postos nas primeiras semanas, mas depois houve uma desaceleração.

Na semana passada, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a gasolina era vendida nos postos, em média, por R$ 5,48 o litro. Já o diesel custava R$ 5,80.

O barril do tipo Brent fechou a sexta-feira, 31/03, custando US$ 79,77. No auge da crise de preços dos combustíveis em 2022, turbinada pela guerra na Ucrânia, chegou a US$ 140. Hoje, por volta das o 11h30, o Brent para junho subia 6,18%, a US$ 84,77. O WTI – referência americana – para maio subia 6,28%, saindo a US$ 80,43.

Impacto Estados Unidos

O presidente da regional do Federal Reserve (Fed) de St. Louis, James Bullard, disse, hoje, que a decisão inesperada da Opep+ criou um cenário de incerteza para o futuro da política monetária americana.

“Parte dessa alta pode fazer com que a inflação volte a subir e tornar o trabalho do Fed mais difícil”, disse. Ainda segundo o dirigente, os juros devem subir para um nível de 5% para que a inflação volte para a meta de 2%.

James Bullard afirmou ainda que o banco central americano já acreditava que os preços do petróleo iam subir com a volta da China ao mercado, após o fim da política restritiva da ‘Covid-Zero’.

A decisão da Opep+ abre mais uma ferida nas já tensas relações entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita. No ano passado, diante da guerra na Ucrânia, os americanos tentaram convencer o reino a bombear mais petróleo – o que não aconteceu.

 O governo saudita disse no domingo que as reduções são uma “medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo”. Já a Casa Branca afirmou que a decisão não era aconselhável nas atuais condições do mercado.

Em relação a Rússia, terceiro maior produtor mundial, o país já havia anunciado a redução de 500 mil barris diários em retaliação as sanções ocidentais provocadas pela invasão da Ucrânia.

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