“ETF de bitcoin é marco de integração entre cripto e economia tradicional”, diz presidente da ABCripto
Em entrevista ao Bora Investir, Bernardo Srur, diretor-presidente da ABCripto, comentou a aprovação de ETFs de bitcoin à vista nos Estados Unidos
Na noite desta quarta-feira (10/01), a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos) aprovou os primeiros fundos negociados em bolsa (ETFs) de bitcoin à vista, uma demanda antiga do setor de criptoativos. O movimento foi visto como um passo importante na legitimação das moedas digitais frente ao mercado financeiro e a notícia impulsionou os preços do bitcoin. A cotação da criptomoeda chegou a alcançar o patamar de US$ 49 mil, maior nível desde dezembro de 2021. Segundo a Bloomberg, o primeiro lote de ETFs cripto ultrapassou US$ 2 bilhões em volume de negociações.
Bernardo Srur, diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), define a aprovação como um marco da integração entre criptoeconomia e o mercado financeiro tradicional. Segundo ele, o Brasil anda hoje na vanguarda desse movimento, com uma regulação à frente de outros países. Vale dizer que a ABCripto tem como associadas empresas como Itaú, Visa, Mastercard, Mercado Bitcoin, Foxbit e Ripio.
Bora Investir: O mercado já esperava a aprovação de um ETF de bitcoin à vista há algum tempo. Agora que isso aconteceu, o que significa para o mercado de criptoativos?
Bernardo Srur: Sim, isso está em discussão há alguns anos. Foram feitos pedidos no passado, que foram adaptados e reavaliados. Mas eu acredito que nesse momento, justamente por causa da evolução regulatória e por causa da evolução no mercado e da confiança dos investidores institucionais na tecnologia, tivemos uma mudança muito positiva de cenário. Temos ali o pedido icônico da BlackRock, que foi um divisor de águas.
Independente do tempo, vejo que o cenário da criptoeconomia no geral mudou. Essa mudança que nós já percebíamos, que nós do setor já vivenciávamos, agora foi percebida de uma forma global. Acho que a gente está dando os primeiros passos de uma interligação total entre criptoeconomia e a economia tradicional, e considero que essa aprovação é um marco histórico desse princípio de integração.
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Bora Investir: Quais que são os próximos passos essa interligação entre esses dois mundos?
Bernardo Srur: O ETF traz uma série de possibilidades, justamente pela adoção de cripto pelo mercado institucional, de uma forma mais geral. Cripto não está sendo adotado apenas por pessoas físicas, mas por grandes organizações e entidades que entendem o seu potencial. Mas o ETF é uma legitimação de que cripto também é mercado financeiro e mercado de capitais. Também pode ser utilizado, assim como outros instrumentos e formas de liquidez, de uma forma global e muito mais interligada.
O grande potencial de cripto está em algumas conjunções. A primeira delas é a possibilidade de integração de forma global, que é importante para vários aspectos. Uma delas é a mais óbvia de todos, que são os pagamentos cross-border [entre pessoas de diferentes países]. Outro ponto é a utilização de tecnologia a fim de modernizar a infraestrutura financeira. O Brasil tem uma das infraestruturas financeiras mais robustas do mundo, mas isso não é uma realidade global. Nos Estados Unidos, quando um banco consegue fazer transferência para outro no mesmo dia, isso vira tema de propaganda.
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Outro potencial é na própria emissão de dinheiro digital, com as CBDCs (Central Bank Digital Currency, ou moeda digital de bancos centrais). Aqui, o Brasil está à frente de novo, já estamos discutindo o Drex.
Além disso, essa mesma tecnologia que ajuda o sistema financeiro pode melhorar o mercado de capitais, ao trazer mais eficiência por meio da sua infraestrutura para emissão, liquidação, transferência e negociação de ativos, o que a gente chama de tokenização.
E há muitas aplicações fora do mercado financeiro, que, com os ETFs, poderão ser interligadas ao sistema financeiro tradicional muito mais facilmente.
Bora Investir: Além da demora na aprovação da SEC, houve bastante ruído em relação à aprovação, inclusive um tuíte falso do órgão regulador. Isso afetou o mercado no curto prazo, mas trouxe também alguma preocupação maior com a volatilidade desse mercado?
Bernardo Srur: É normal do sistema financeiro essa variação das cotações com base em notícias. A ação de uma empresa, por exemplo, pode ser influenciada tanto por fatos reais como variação de juros, projeções do mercado e notícias relacionadas ao setor como por rumores que não refletem a realidade daquela empresa.
Então, a alta e queda por conta do tuíte foram vistas como um movimento normal. O interessante é que, quando veio a notícia de que a conta da SEC tinha sido hackeada e a informação era falsa, o mercado voltou ao preço de antes, não caiu mais.
Bora Investir: Apesar da aprovação, a Sec veio com um discurso relativamente duro, dizendo que isso não é um endosso ao bitcoin, e afirmou que o bitcoin é um ativo especulativo e volátil. O que isso traz de sinalização para o mercado de criptoativos?
Bernardo Srur: Esse discurso já era esperado. O cenário americano é um pouco diferente do brasileiro nesse sentido, é mais conservador do que o brasileiro. E faz parte da cultura das agências reguladoras fazer os alertas, pontuar as preocupações, principalmente olhando o mercado de capitais como americano, que é mais conservador, mais antigo, mais estruturado e mais fundamentado. Então é natural que se tenha essa preocupação.
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Mas qual foi a mensagem que foi passada? Que a SEC aprovou a criação do ETF de bitcoin à vista. Então, dentro desse cenário, a mensagem é positivíssima. Tanto é que o mercado não precificou queda em nenhum momento. Eu sinceramente não interpretei a mensagem como dura.
Bora Investir: E qual é o impacto dessa aprovação para os investidores que estão aqui no Brasil?
Bernardo Srur: É maravilhoso. Isso não afeta só o Brasil, afeta o mundo. E o Brasil hoje é um dos países que mais caminha com para uma segurança regulatória cada vez mais robusta para o mercado cripto. Temos as primeiras regulações, temos a consulta pública do Banco Central, a regulação da CVM quanto a tokenizadoras. Então a gente já tem um cenário de regulatório robusto, se comparado a outros países.
Essa aprovação do ETF nos Estados Unidos, que ficou muito para trás nessa discussão regulatória, mostra um cenário cada vez mais seguro para operações, não só no Brasil, mas no mundo. Então, a mensagem que passa é que o Brasil está no caminho correto. O Brasil tem cada vez mais chance de se transformar no grande polo nas Américas de cripto. A gente tem essa possibilidade em mãos e a gente está fazendo o caminho correto.
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