Fundos de Investimento

Marco dos fundos de investimentos: quais são as mudanças?

Com a mudança, será possível investir diretamente em fundos de criptoativos, por exemplo. Saiba o que muda de fato

O ambiente regulatório dos fundos de investimentos está prestes a receber mudanças importantes. Em 23 de dezembro de 2022, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou a Resolução 175, que estabelece novas regras para os fundos geridos e acessados por investidores brasileiros. O novo Marco dos Fundos de Investimentos passa a valer em 3 de abril e serão implementadas de forma escalonada – com todas as etapas em vigor a00té o dia 31 de dezembro do ano que vem. 

A nova regra é composta por um núcleo de diretrizes fixas, que regulam o mercado de fundos como um todo, e por anexos específicos de cada tipo de carteira. Até o momento, existem seções que tratam, especificamente, de Fundos de Investimento Financeiro (FIF) e de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Mas o plano da CVM é que o Marco dos Fundos de Investimentos se aprimore e se expanda com o tempo.

Os FIFs você já conhece. São investimentos em fundos de câmbio, renda fixa, multimercado ou ações de empresas. As novas normas também adicionam duas novas modalidades à categoria: os fundos de criptoativos e os de ESG.

Já os FIDCs eram restritos aos investidores qualificados – os que têm mais de R$ 1 milhão sob gestão. Quando a nova norma vigorar, clientes do varejo também terão acesso. 

“Muitas das regras são criadas para fomentar o retorno para o investidor, mas também para proteger os negócios que são feitos pelo fundo. Especialmente no que diz respeito à preservação de patrimônio do cotista”, avalia Felipe Enes Duarte, da Comissão de Direito Bancário da Ordem dos Advogados Brasileiros de São Paulo (OAB-SP) e sócio do Abrão Camargo Advogados.

Mas, e aí? O que essa nova normal traz de mudança pra você, investidor?

Fundos de investimento serão mais seguros?

O Marco dos Fundos de Investimentos dará mais transparência à gestão dos fundos e permitirá acesso a mais produtos. A iniciativa faz parte do projeto da CVM de fortalecer o lado do investidor varejista no mercado de capitais por meio de informações mais abundantes e de qualidade superior. 

Todos os dados de remuneração dos gestores, administradores, distribuidores e custodiantes de um fundo precisarão ser destrinchados na apresentação do ativo. Na regra atual, entretanto, estas informações estão embutidas na taxa de administração.

+ Número de investidores em fundos imobiliários cresce 950% em 4 anos

Outro ganho para o investidor mais preocupado é a possibilidade de limitação da responsabilidade de cada cotista e gestor ao valor das cotas subscritas. Hoje, a regulamentação prevê uma responsabilidade ilimitada. Então, se o fundo perder dinheiro e ficar com patrimônio líquido negativo, o administrador pode chamar capital adicional, ou seja, pedir que os cotistas do fundo façam novos aportes.

O problema, entretanto, é que esse dinheiro pode ser mais do que o cotista se comprometeu a aportar. Com a nova regra, o administrador do ativo será obrigado a dizer se essa responsabilidade é ilimitada ou não. Em outras palavras, se há um limite para a desvalorização antes da retirada do capital investido. 

O cliente passa a assinar todas as possibilidades, agora explícitas. “A regulamentação vai se alinhar à Lei da Liberdade Econômica [de setembro de 2019] que já disciplinava a limitação de responsabilidade dos cotistas”, explica Luciana Costa Engelberg, advogada do escritório Machado Meyer.

Assim, ela conta que as responsabilidades também aumentam do outro lado do balcão. “Com o novo arcabouço, você tem a possibilidade de prever, no regulamento, uma responsabilidade limitada dos prestadores de serviço que gerem o fundo. Cada um responde pelos prejuízos que causar dentro do seu perímetro de atuação”, diz.

O mercado terá mais opções de investimento?

Alguns trechos do Marco dos Fundos de Investimentos facilitam o acesso a ativos internacionais, enquanto outros permitem que o investidor iniciante acesse fundos antes restritos aos investidores qualificados, mais experientes.

Com a mudança, será possível investir diretamente em fundos de criptoativos. Antes, este tipo de investimento era indireto, com fundos que tivessem cripto no exterior. Agora que o Brasil tem seu próprio Marco Cripto, a CVM permitiu que se crie fundos com estes ativos e se invista neles diretamente. 

A autarquia estabeleceu regras para os fundos socioambientais, como a obrigatoriedade da descrição dos benefícios sociais, ambientais e de governança corporativa que o fundo trará. Além disso, será necessário certificar a entidade que garantiu o título ESG. “Ao mesmo tempo que a mudança amplia o ramo de produtos do mercado para o investidor iniciante, ela também traz a proteção”, avalia Engelberg.

Os fundos de investimentos vão se tornar mais democráticos?

A novidade para investidores pessoa física são os FIDCs. Este tipo de fundo aloca o dinheiro dos seus cotistas no pagamento dos créditos que uma empresa tem a receber, como duplicatas e cheques. Então a empresa antecipa o recebimento destes recursos em troca de uma taxa de desconto que, por outro lado, remunera seus investidores.

Para os investidores institucionais e os mais antigos no mercado financeiro, os FIDCs já eram conhecidos. Agora, enfim, qualquer pessoa que tenha um recurso mínimo de investimento conseguirá participar.

“Este é um tipo de fundo que tende a crescer bastante no Brasil. Especialmente por conta dos movimentos mais recentes, como o caso Americanas e da nova recuperação judicial da Oi. Sobretudo, são uma série de outras situações que demonstram que o mercado de crédito vai sofrer alguns abalos. Os bancos, provavelmente, vão ofertar ativos novos”, pondera Duarte, da OAB. 

Quer saber mais sobre fundos de investimentos? Acesse os conteúdos gratuitos do Hub de Educação Financeira da B3.

Sobre nós

O Bora Investir é um site de educação financeira idealizado pela B3, a Bolsa do Brasil. Além de notícias sobre o mercado financeiro, também traz conteúdos para quem deseja aprender como funcionam as diversas modalidades de investimentos disponíveis no mercado atualmente.

Feitas por uma redação composta por especialistas em finanças, as matérias do Bora Investir te conduzem a um aprendizado sólido e confiável. O site também conta com artigos feitos por parceiros experientes de outras instituições financeiras, com conteúdos que ampliam os conhecimentos e contribuem para a formação financeira de todos os brasileiros.