Entrevistas

“Possível vitória de Trump coloca Brasil em situação difícil”, diz professor da FGV

Para Sérgio Praça, um novo mandato do republicano Donald Trump traria incerteza à economia e geopolítica global

Republicano Donald Trump nas prévias das eleições presidenciais de 2024

2024 é um ano histórico para as eleições no mundo. Em todo o globo, mais de 2 bilhões de pessoas irão às urnas em 50 países, maior número já registrado, de acordo com o instituto norte-americano The Center for American Progress. Mas um país concentra grande parte das atenções, por sua importância econômica e geopolítica: os Estados Unidos. Em uma reedição da disputa eleitoral de 2020, o ex-presidente republicano Donald Trump deve enfrentar o atual presidente democrata, Joe Biden. Ainda que os candidatos não sejam novidade para ninguém, a campanha se passa em um ambiente doméstico e internacional distinto de quatro anos atrás.

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Para o professor Sérgio Praça, da FGV, esta eleição é decisiva. “Se Trump ganhar, é um resultado para 8 anos, provavelmente”, resume. “Quando ele foi eleito pela primeira vez, ele era mais imprevisível do que perigoso. Agora acho que é imprevisível e perigoso”.

O pleito só acontece em novembro, mas os discursos na pré-campanha de ambos os candidatos e seus conhecidos estilos de gestão podem apontar os possíveis impactos da vitória de Trump ou Biden sobre a economia global. Confira trechos da entrevista do Bora Investir com Sérgio Praça.

Bora Investir: A eleição será provavelmente disputada por dois candidatos que já ocuparam a presidência. Isso faz com que já saibamos o que esperar dos dois, ou há diferenças no cenário agora?

Sérgio Praça: É sempre difícil prever o resultado de uma eleição nos EUA, mas o que parece mais provável é uma eleição do Trump. Acho que seria desastroso do ponto de vista político, social e econômico. E colocaria o Brasil em uma situação difícil do ponto de vista internacional, porque obviamente o País não pode romper relações com os Estados Unidos, mas por outro lado também não poderia fingir que o Trump é um presidente qualquer.

Fato é que Trump, apesar de ter sido presidente já, faria um novo mandato não só mais caótico mas também com a perspectiva de se reeleger.

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Bora: Em que sentido a eleição de Trump seria desastrosa?

Praça: O primeiro mandato presencial dele piorou as divisões sociais, sociais e políticas na sociedade americana, com um efeito muito semelhante ao que [Jair] Bolsonaro teve aqui. E tem um partido estruturado por trás dele. Se o Trump já tentou dar um golpe, poderia criar mais confusão na política.

Bora: Pensando na relação dos EUA com a China, Trump tem uma postura bastante dura na relação comercial com o país asiático. O que uma vitória do republicano poderia trazer de impacto para o Brasil, considerando que a China é nosso maior parceiro comercial?

Praça: Acho que o Brasil ficaria ainda mais perdido nessa questão do alinhamento econômico entre China e Estados Unidos. EUA deixaria de ser um superpoder econômico relativamente previsível. O que o Trump traz é imprevisibilidade, incerteza. Isso para a economia nunca é bom.

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Bora: E pensando também na posição dos Estados Unidos nos conflitos geopolíticos, temos um mundo hoje com tensões em várias regiões. Como uma possível vitória do Trump e uma mudança no posicionamento dos EUA poderiam afetar a economia global?

Praça: Acho que fortaleceria a Rússia e o Putin, vejo isso como um efeito imediato. De resto, o protecionismo dele, a relação com a China, tem muito disso que é só retórica. O Trump é um político muito difícil de interpretar. Ele exagera em discursos, ele anuncia medidas repentinas em discursos, depois deixa de fazer. Enfim, é um político imprevisível. Não dá pra dizer que se ele for eleito, certamente tomará medidas protecionistas radicais contra a China. Eu acho que a tendência é essa, mas pode ser só retórica de campanha. E um ponto importante é que as decisões políticas dependem de ter maioria na Câmara e no Senado.

Bora: Economicamente, os EUA estão em uma posição mais delicada também, certo? Apesar da queda da inflação, os juros elevados têm trazido dúvidas sobre quanto a atividade vai se manter resiliente. Como uma possível eleição de Trump poderia afetar a economia por lá?

Praça: Não sei exatamente se o Trump traz incerteza para a política econômica doméstica tão diretamente. Mas tem um impacto na economia mundial que é claro. E aí pode afetar os EUA, porque os países não são fechados. É tudo interligado. Então, eu acho que traz mais incerteza do ponto de vista geopolítico do que econômico interno.

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