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Copom pede ‘serenidade’ e ‘paciência’ e sinaliza que nova regra fiscal pode ajudar na queda dos juros

Ata do Copom reconhece que arcabouço fiscal pode ter efeito positivo na desaceleração da inflação. BC pede harmonia entre as políticas monetária e fiscal para diminuir as incertezas

Copom. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil
O livro de registros do Copom, o Comitê de Política Monetária. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgou nesta terça-feira, 28/03, a ata da sua última reunião. O BC manteve o tom mais duro visto no comunicado – ao dizer que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”, caso a inflação não caia e afirmou que a redução dos juros exige “serenidade e paciência”.  No entanto, o comitê mandou recados a equipe econômica ao defender a divulgação da nova regra fiscal como uma das indutoras de um processo desinflacionário.

Em um parágrafo inteiro o Copom destacou que “a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno”, com um efeito direto na redução das expectativas de inflação e da incerteza na economia. O BC quis mostrar que com mais confiança fiscal pode reduzir a taxa de juros.

O Comitê, entretanto, ponderou que apenas divulgar não garante que os juros vão cair rapidamente, mas que as novas regras ajudam nesse processo. “Não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços de ativos”, disse o BC.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que comparado com o comunicado a ata veio em um tom mais brando e com acenos ao ministério da Fazenda.

“Especialmente o parágrafo que diz respeito à regra fiscal que se for bem aceita, se tiver credibilidade, vai ajudar a reduzir o prêmio de risco e isso pode levar a uma apreciação da moeda brasileira, reduzir pressões inflacionárias e ajudar a ancorar as expectativa”

O arcabouço fiscal foi elaborado pela equipe do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A nova regra visa limitar os gastos públicos federais e, se aprovado pelo Congresso, deve substituir o atual teto de gastos. A proposta aguarda aprovação de Lula para ser divulgada.

Ainda pelo lado fiscal, o Copom afirmou que a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Na reunião da semana passada, o Copom manteve a taxa básica de juros, Selic, em 13,75% ao ano.

Expectativas de inflação

As discussões sobre mudanças na meta de inflação – que aconteceram em fevereiro, após a primeira reunião do Copom do ano – pioraram as expectativas. Segundo o Copom, a credibilidade das metas contribui para tornar a queda da inflação mais veloz e menos custosa para a economia.

De acordo com o documento, o comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que afeta a definição de preços e salários presentes e futuros.

“À medida que se projeta inflação mais alta à frente, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários”, diz a ata. “Assim, há uma maior elevação de preços no período corrente, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas.”

Harmonia entre o fiscal e o monetário

O Copom reforçou o discurso do Ministro da Fazenda de que é preciso haver uma “harmonia entre as políticas monetária e fiscal” para diminuir incertezas e facilitar a queda da inflação e o pleno emprego.

“O Comitê reforça a importância de que a concessão de crédito, público e privado, se mantenha com taxas competitivas e sensíveis à taxa básica de juros”, afirma a ata.

Para Paulo Gala, é muito importante que o Banco Central ressalte a importância da harmonia entre as políticas fiscal e monetária.

“Se a Fazenda faz uma política fiscal expansionista e o Banco Central faz uma política monetária contracionista, a coisa não funciona bem. É como se você tentar dirigir um carro em que um pé acelera e o outro freia. O que o Banco Central dá a entender é que, se vier uma regra fiscal que ajude a fazer uma contração fiscal, isso colabora com a inflação e isso pode acelerar o processo de corte de juros no Brasil”, explica o economista-chefe do Banco Master.

Mercado de crédito

Os membros do BC também observaram que o país passa por um aperto na concessão de crédito para algumas modalidades. No entanto, a questão está em linha com o esperado, por conta da elevação dos juros até o segundo semestre do ano passado. Diante dessa escassez, integrantes do Copom esperam um aumento ainda maior da inadimplência – que já atinge 70 milhões de brasileiros.

 “O Comitê avalia que o Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para endereçar fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram”.

Recado para o BDNES

O Comitê do Banco Central voltou a mostrar preocupações com a política de crédito com juros subsidiados. Segundo analistas, esse foi um recado explicito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mesmo sem citá-lo.

“Ao avaliar os fatores que poderiam levar à materialização de cenário alternativo caracterizado por uma taxa de juros neutra [que não estimula nem contrai a economia] mais elevada, enfatizou-se a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, que têm o potencial de elevar a taxa neutra e diminuir a potência da política monetária, como já observado em comunicações anteriores do Comitê”, afirmou na ata.

Para a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitoria, a ata do Copom foi mais dura que o comunicado e o cenário de queda de juros próximo ficou menos provável.

“Enquanto expectativas de inflação estiverem contaminadas, com destaque para o risco de expansão parafiscal, leia-se subsídios do BNDES, o custo para a Selic é maior”, afirmou.

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