Desafio do ESG é chegar ao investidor iniciante, diz professor Ricardo Rocha
Esse déficit se tornou um dos principais entraves para o ESG se expandir além das grandes corporações
Por Rogério Piovezan
A agenda de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) ainda não chegou aos investidores iniciantes no mercado financeiro devido à pouca instrução e difusão desse conhecimento ainda na fase da escola. É o que afirmou ao Bora Investir, nesta quarta-feira (28), o professor de Finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Ricardo Humberto Rocha, durante o painel Planejamento Financeiro: inovações e desafios dos profissionais da área, na sede do Insper.
Esse déficit se tornou um dos principais desafios para a expansão do ESG além das grandes corporações. O que pode reverter esse cenário é a iniciativa nas escolas, justamente onde esse conhecimento deve ser difundido.
“Não é preservar por preservar. É preservar porque senão seremos extintos. Ainda é um longo caminho para chegar nas pessoas físicas. Isso ainda está muito preso nos investidores profissionais. Já o cara que tem R$ 5.000 ou R$ 10.000 ainda não investe nisso. Então, tem um grande desafio de como atrair esse público de investidores. São iniciativas que podem começar nas escolas”, afirmou.
Segundo o professor, o investidor iniciante precisa ter consciência dos impactos ambientais e sociais de seus investimentos na vida real. “Como levar a isso ao investidor iniciante? Eu acho que esse é o desafio para ele ter consciência e, eventualmente, poder comprar uma petrolífera que tenha ações para minimizar o impacto ambiental”, disse.
Por onde começar
Rocha explicou que os investidores iniciantes podem começar a avaliar empresas com base nos critérios ESG após verificar minuciosamente os relatórios de análises independentes sobre as práticas da companhia a ser escolhida para aplicar o investimento.
“Basta olhar as menções às práticas ambientais e sociais. Já a parte governamental, a CVM, o Banco Central e o Ministério Público são bastante atuantes nesse sentido, mas acho que para o investidor chegar mais perto do S e do E é através das análises no próprio informe anual da companhia. Hoje, temos a pesquisa por achado tudo em PDF dentro do site da própria empresa”, disse.
Já o consultor financeiro e escritor Gustavo Cerbasi afirmou que, como toda decisão de investimento, os critérios ESG precisam ser levados em conta antes de aportar recursos. Além disso, ele explicou que há uma diferença entre o discurso ESG adotado por algumas empresas e a prática, de fato, dessa agenda na atuação da companhia.
Fundos ESG
Conforme Rocha, os fundos denominados ESG têm critérios autorregulados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Mas não basta apenas depender desses critérios para a escolha, lembra Cerbasi.
“Os fundos ESG têm limitações iguais às das empresas. Alguns podem estar investindo em empresas que adotam o discurso ESG ao mesmo tempo em que outros fundos, na prática, atuam no ESG. O principal é avaliar se o ESG é o critério para direcionar valor das empresas ou é um critério de não exclusão do fundo, que são os com menos ativos na carteira”, afirmou.
O que é ESG?
O termo apareceu pela primeira vez em um relatório chamado Who Cares Wins (Ganha Quem se Importa, em tradução livre), feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004. Desde então, a sigla ganhou destaque por unir as preocupações que as empresas devem seguir para serem certificadas com boas práticas.
A urgência desse debate se faz necessária em meio às mudanças climáticas, que estão interferindo na saúde humana, de acordo com a Fiocruz, assim como na qualidade da água, na poluição do ar e na propagação de doenças.
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