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Fitch eleva nota de crédito do Brasil a ‘BB’ com perspectiva estável; entenda

Segundo a Fitch, a melhora reflete “desempenho macroeconômico e fiscal acima do esperado em meio a sucessivos choques nos últimos anos”

Fitch Rating escrito em letra garrafais em um vidro
A Fitch Ratings é uma das agências de análise de crédito mais respeitadas no mundo. Foto: reprodução

A agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito (rating) do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável nesta quarta-feira, 26/07.

Esse movimento pode ajudar a economia brasileira na atração de investimentos estrangeiros, além de valorizar o real.

Em 2018, o país havia sido rebaixado para o patamar BB-. Na época, o governo Michel Temer vivia uma crise nas contas públicas e não havia conseguido aprovar a reforma da Previdência.

O relatório da Fitch afirmou que a melhora da nota de crédito reflete “um desempenho macroeconômico e fiscal melhor do que o esperado”. Disse ainda esperar que as novas regras fiscais e medidas tributárias “levem a uma consolidação fiscal gradual”.

Em junho, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings alterou a perspectiva para a nota de crédito do Brasil de estável para positiva.

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Mas afinal, por que é importante para o Brasil ter uma boa nota com a Fitch?

As notas de crédito servem para avaliar a capacidade do país de pagar as suas dívidas.

Para esse trabalho, as agências de classificação de risco (como a Fitch) usam as chamadas notas de crédito (rating). Quanto melhor for a nota, mais seguros os países são considerados pelos investidores e mais baixos os juros das dívidas dos governos.

Com decisão de hoje, o Brasil ainda fica com uma classificação que indica um ‘grau especulativo’, ou seja, está menos vulnerável a riscos no curto prazo, mas ainda enfrenta incertezas financeiras e econômicas.

No entanto, o país passa a ficar a duas notas da obtenção do grau de investimento, ou seja, de bom pagador. Esse selo ajuda o Brasil a atrair mais investimentos.

Na classificação da Fitch, a escala para o grau de investimento vai de ‘A’ a ‘D’. O primeiro nível (triplo A) é o de mais alta qualidade e o ‘D’ a pior, ou seja, quando um país está próximo da inadimplência.

Qual o impacto dessas mudanças para o mercado?

O mercado financeiro usa as notas de crédito como termômetro para decidir os seus investimentos. Assim essa melhora ajuda o país a mostrar que tem capacidade de pagar as suas dívidas no curto prazo.

O sócio sênior da Seneca Evercore, Daniel Wainstein, explica que a avaliação das agências serve como termômetro para saber se a remuneração de uma ação está adequada ao risco do investimento.

“O custo de capital – tanto da ação quanto de dívida – tende a cair com a percepção de menor risco. Com essa redução do retorno requerido por um investidor para comprar em ações de empresas brasileiras, o preços desses papeis devem subir”.

Outro benefício direto para a economia é a queda do dólar, diante da entrada de mais capital estrangeiro no país. A moeda americana mais baixa ajuda na desaceleração da inflação.

A melhora da nota da Fitch pode impactar na decisão de juros?

Sim. O economista, André Perfeito, acredita que o avanço na nota do Brasil – assim como a melhora na trajetória da dívida e do crescimento resiliente – é mais um elemento para o Comitê de Política Monetária rever a trajetória da taxa básica de juros.

“Tudo isso conspira para um corte de 0,50 ponto percentual. Talvez a decisão pela intensidade do corte não seja unanimidade entre a diretoria do BC, mas a questão é saber como vão encaminhar a discussão sobre os próximos passos”.

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Repercussão

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu os resultados positivos da economia brasileira à harmonia entre os poderes. No entanto, disse “não ter sentido” o Brasil não receber “grau de investimento” pelas agências de classificação de risco.

“A Fitch é a primeira das grandes agências que muda a nota. (…) Não tem cabimento o país viver o que viveu nos últimos dez anos. Fico feliz de, em seis meses de trabalho, a gente já ter conseguido sinalizar ao mundo que o Brasil é o país das oportunidades”, afirmou. Em uma rede social, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) classificou a mudança na nota de crédito brasileira como “uma importante conquista para a economia do país”.

Cenários para o Brasil

Em seu relatório, a agência afirmou que, mesmo com as persistentes tensões políticas desde o rebaixamento de 2018, o Brasil teve um “progresso em importantes reformas” para enfrentar os desafios econômicos e fiscais.

Em relação ao governo Lula, a Fitch afirmou que espera “que o pragmatismo e os freios e contrapesos institucionais mais amplos evitem desvios radicais de macro ou micropolítica”. E que vê iniciativas para apoiar o setor privado, como a reforma tributária.

A Fitch projeta que a dívida/PIB aumente, mas em um ritmo mais lento. E que a nota do Brasil é sustentada por sua grande e diversificada economia.

Brasil já teve grau de investimento?

Sim. O país conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch e Standard & Poor’s, pela primeira vez, em 2008. Um ano depois, conseguiu a classificação pela Moody’s.

A S&P foi primeira a tirar o selo de bom pagador, em setembro de 2015. Depois foi seguida pela Fitch e Moody’s. Os países costumam levar de cinco a dez anos para recuperar o selo de bom pagador.

“Mesmo tendo enfrentado uma das maiores crises de liquidez de crédito, o governo soube aproveitar a lua de mel em início de mandato com o Congresso e aprovou medidas importantes. Esse ritmo precisa continuar até atingirmos grau de investimento”, conclui o especialista da Seneca Evercore.

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