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100 dias de Lula: compare o desempenho do Ibovespa no início de cada governo

Os cem primeiros dias do governo Lula foram marcados por ataques ao BC, críticas às metas de inflação e aos juros altos. Mas esforço para criar arcabouço fiscal é ponto positivo

Lula. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Ibovespa recuou 8,12% de janeiro até a quinta-feira, 06/04. No primeiro ano de FHC, o índice despencou 28,48%. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As tensões com o mercado financeiro e o Banco Central marcaram os primeiros cem dias de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nem mesmo a proposta de novas regras fiscais, avaliadas como positivas por parte do mercado, conseguiu ofuscar os ataques à política monetária do BC e às metas de inflação.

Os embates foram sentidos pelo mercado financeiro. Um levantamento do TradeMap mostrou que o desempenho da Bolsa do Brasil (B3) nos primeiros cem dias do terceiro mandato do petista foi o pior desde o início do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995.

O Ibovespa recuou 8,12% de janeiro até a quinta-feira, 06/04. No primeiro ano de FHC, o índice despencou 28,48%. O melhor desempenho aconteceu no 2º mandato de FHC, no qual registrou valorização de 66,98%, seguido pelos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro, com 9,18%.

Para o estrategista chefe da Infinity, Jason Vieira, a culpa dos cem primeiros dias conturbados foi do próprio governo, que não conseguiu fazer as suas próprias propostas andarem.

Os cem primeiros dias andaram de lado porque tudo ficou na expectativa, resume o estrategista. “A primeira semana até foi positiva, com o mercado achando que as coisas iriam avançar. Dali em diante, o governo começou a emitir sinais muito ruins: queria realizar reformas que se configuravam um retrocesso. Depois, desistiu de parte delas e acabou se voltando ao arcabouço fiscal”.

Nas últimas semanas, Vieira aponta que a crise bancária internacional também influenciou o desempenho negativo do principal índice da B3.

Ibovespa nos 100 primeiros dias de governo

Fonte: TradeMap

O primeiro conflito entre Lula e o mercado financeiro aconteceu antes mesmo de começar o governo. Durante a transição, o presidente eleito fez críticas à estabilidade fiscal e levou o índice a desvalorizar 3%, enquanto o dólar subiu mais de 4%. “O mercado fica nervoso à toa”, disse o petista, na época.

Em fevereiro, em uma entrevista à CNN Brasil, Lula disse que não estava governando para o mercado. “Eu sei da existência do mercado, sei o que o mercado faz para ganhar dinheiro, mas eu estou governando para o povo brasileiro”. Na mesma conversa emendou: “Como presidente da República, não me interessa brigar com o presidente do Banco Central, que eu pouco conheço. Eu vi ele uma vez”.

Alterações na meta de inflação

Diante das declarações do presidente, rumores sobre alterações na meta de inflação chegaram ao mercado.

Na última quinta-feira, o presidente voltou a falar sobre mudanças na meta. “Se a meta está errada, muda-se a meta. (…) É humanamente inexplicável a taxa de juros de 13% e juro real de 8,5%. Não é possível a economia funcionar desse jeito”, disse Lula.

As respostas dos agentes financeiros vieram no aumento das expectativas de inflação. Nesta segunda-feira, o boletim Focus voltou a mostrar uma elevação das projeções de inflação para este ano, 2024 e 2025.

Já a manutenção dos juros em 13,75% e o tom crítico nos comunicados e atas do Banco Central foram interpretados como respostas tanto ao governo quanto ao aumento das estimativas de inflação. No último documento, o Comitê de Política Monetária afirmou que a redução dos juros exige “serenidade e paciência”. Disse também que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”, caso a inflação não caia.

“A queda de juros vai acontecer com uma redução de 0,25 ponto percentual em agosto e 0,5 ponto percentual em setembro, novembro, dezembro. Pode ser que seja antecipada, pois o mercado de crédito continua dando problemas”, afirma o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

Novo arcabouço fiscal

Os cem dias do governo Lula também foram marcados pela apresentação do novo arcabouço fiscal em março e o protagonismo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Pelo lado do controle das despesas, que só podem crescer entre 0,6% e 2,5%, a depender da arrecadação, a proposta foi vista como positiva. No entanto, as metas de superávit primário bastante agressivas e o foco na arrecadação para tornar as regras factíveis levantaram dúvidas no mercado.

Apesar de todas as críticas desferidas por Lula, o presidente do Banco Central avaliou a proposta como “super positiva. Roberto Campos Neto também reconheceu o esforço do ministro da Fazenda, mas alertou para como será o processo de aprovação no Congresso.  

“O arcabouço carece de uma série bastante extensiva de detalhes, além de ter premissas relativamente otimistas demais para o atual cenário. A questão é que o governo precisa parar de atrapalhar. Em relação ao consumo, hoje não há mais instrumentos disponíveis para fazer estímulos. Portanto, agora depende do crescimento econômico, e não de coisas que o governo possa fazer”, conclui Vieira.

Apesar dos conflitos, Cruz, da RB Investimentos, acredita em uma recuperação da bolsa brasileira ainda neste ano diante da proposta já apresentada e das discussões em torno da reforma tributária. “Há uma narrativa mais construtiva sobre a reforma fiscal e a tributária. Já se sabe como o governo vai trabalhar nos próximos anos”.

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