Copom de setembro: o que o mercado espera para a decisão
Colegiado entrou na reunião para decidir o rumo da Selic nesta terça-feira, 19/09
Por Guilherme Naldis
O início dos cortes na Selic, a taxa básica de juros do Brasil, começou depois de um ano de espera. O Mercado, enquanto isso, já está fazendo suas previsões: há quem ache que o patamar do juro básico deva chegar ao final do ano maior, menor… Mas, entre todos os cálculos e discordâncias, o consenso dos agentes econômicos é que o Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro do Banco Central do Brasil (BCB) deve seguir reduzindo a Selic em 0,50%.
O colegiado entrou na reunião para decidir o rumo da Selic nesta terça-feira, 19/09. A decisão será divulgada no fim do encontro, amanhã, 20/09, após às 18h, que é quando o pregão da B3 se encerra.
Segundo os economistas ouvidos pelo Bora Investir, a inflação teve o comportamento esperado pela autoridade monetária. Ainda assim, nenhum outro indicador teve um desempenho excepcional ao ponto de fazer os juros caírem mais do que o sinalizado pelo BCB na última ata.
Por que a Selic deve cair 0,50% no Copom de Setembro?
Os dados sobre inflação e crescimento foram relativamente equilibrados desde a última reunião do Copom, em agosto, afirma o economista-chefe da XP, Caio Megale, e os economistas Rodolfo Margato e Alexandre Maluf. “O Copom não deverá alterar, significativamente, o seu balanço de riscos para a inflação nesta reunião. Um novo corte de 0,50% – unânime, desta vez – é de longe o cenário mais provável”, afirmaram em relatório.
Para eles, a queda do real perante o dólar, a elevação dos preços do petróleo e atividade doméstica resiliente são pesos contrários aos juros baixos. Já as leituras de IPCA melhores do que o esperado, incluindo a inflação de serviços, que está entre as principais atenções do BC, contribuem para um afrouxamento monetário.
Porém, a discussão sobre uma eventual aceleração no ritmo de redução de juros deve continuar acesa, na visão da XP, devido à dinâmica benigna da inflação de serviços e o patamar bastante restritivo da política monetária.
Por que a Selic não deve cair mais?
O comunicado e a ata do último Copom indicaram que o Banco Central está criterioso para avaliar uma intensificação do ritmo de ajuste. Os documentos assinados pelo presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e os demais diretores do BCB afirmam que cortes mais expressivos exigiriam surpresas positivas substanciais, que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionaria.
Na visão de Sérgio Goldenstein, economista-chefe Warren Rena, desde a última reunião as condições necessárias para acelerar a redução da Selic não se materializaram. Os requisitos eram:
- Uma reancoragem mais sólida das expectativas
- Uma abertura contundente do hiato do produto, indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia
- Queda intensa da inflação
Goldenstein diz que, dos três pontos, só a inflação tem dado bons sinais. “Mas ainda é cedo para se ter uma confirmação de ‘uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada’ da inflação de serviços”, disse.
Ao mesmo tempo, as expectativas de inflação vêm mostrando rigidez e mantém, portanto, um desvio significativo com relação à meta de inflação – de 86 pontos base para 2024 e de 50 pontos base para 2025 e 2026.
Ele também afirma que os dados de atividade vêm surpreendendo para cima, levando a revisões altistas para o crescimento do PIB de 2023. “O mercado de trabalho também se mostra sólido, com a taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho em 7,9%, menor resultado para o período desde 2014”, afirmou.
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O que deve vir no comunicado do Copom de setembro?
Na visão de Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, as coisas não devem ser tão diferentes assim. No comunicado, o comitê reforçará que, por ora, há unanimidade para manutenção do ritmo. Portanto, não deve abrir espaço para discussão de aceleração do ritmo de cortes no curto prazo, estima o economista.
“O Copom de setembro, provavelmente, manterá a sinalização de serenidade e moderação na condução da flexibilização monetária, a fim de que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, disse.
Para ele, a dinâmica mais benigna da inflação de serviços, assim como a esperada desaceleração da economia (que deve ficar mais evidente ao longo da segunda metade do ano) devem permitir cortes maiores a partir de dezembro, bem como um ciclo mais profundo.
O que deve vir nas reuniões do Copom do final do ano?
Já que o decorrer das coisas foi alinhado com as expectativas do comitê, diz Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander tanto em inflação quanto em crescimento, é provável que o Copom mantenha o mesmo ritmo de afrouxamento nas reuniões futuras. Além disso, a diretoria da autoridade monetária deve reafirmar a intenção de manter sua política monetária em um nível contracionista.
“Não há evidência de que o Bacen vá acelerar o corte de juros nem de que ele possa assumir uma postura mais dovish, por enquanto”, explicou.
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