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O que é a curva de juros e como ela afeta meus investimentos?

Muito além de estimar a taxa selic, a curva de juros é capaz de mexer com toda a economia

Cédula de R$ 100 onde duas moedas de um real e uma cédula de R$ 10 enrolada formam um símbolo de percentual.
Veja como a macroeconomia pode afetar seu bolso Foto: Adobe Stock

A curva de juros é um gráfico composto por contratos futuros da expectativa da taxa Selic. Enquanto, no mercado à vista, um comprador paga pelo preço atual de um produto – e o recebe de prontidão -, no mercado futuro, ele paga pelo preço estimado que esta mercadoria terá. Assim, a curva de juros é “a expectativa de juros para um determinado período de tempo”, nas palavras de Alexandre Cabral, professor de derivativos da B3 Educação.

De maneira geral, a curva de juros representa as estimativas dos agentes do mercado para os patamares de juros de um determinado período de tempo, com base nas informações políticas, econômicas, monetárias e sociais disponíveis no momento. 

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“É uma especulação sobre o futuro. Uma aposta sobre o acumulado de juros até essa determinada data. Quando se compra um contrato de juros futuros, o investidor crê que, no devido período de tempo, a Selic subirá. Quando ele vende um destes contratos, ele imagina que os juros cairão”, explica Cabral. 

O que move a curva?

Os contratos de juros futuros são uma das formas do Tesouro Nacional captar recursos. Funciona assim: o governo precisa pagar suas contas e, para isso, vai ao mercado pedir empréstimos na forma de títulos. Ao comprar um destes contratos por um determinado valor, o investidor receberá uma remuneração diária até o dia do vencimento estipulado, que deverá compensar ou superar o investimento inicial. 

Quando o governo não consegue pagar esse rendimento ou, pior, quebrar o contrato, diz-se que entrou em insolvência. É claro que este é um caso extremo, já que os Governos são considerados os melhores pagadores possíveis e possuem o menor risco de calote. 

É aqui que entram os fatores políticos: o mercado precifica quanto o governo deve pagar por um título baseado na percepção de riscos fiscais. Ou seja: se o governo gasta muito e não apresenta formas de arrecadar mais para cumprir com suas dívidas, fica mais arriscado emprestar dinheiro para o Tesouro e, portanto, o contrato fica mais caro. 

Agora, se a gestão atual dá sinais de que as contas públicas estão sob controle e que a economia está em um caminho estável, o contrato futuro fica mais barato. Quando o mercado acha que os juros vão subir, os contratos de cada período de vencimento são elevados no gráfico. A curva empina ou, no jargão, abre. Mas, se as expectativas para o futuro melhorarem, a curva tende a aterrissar. 

Por que ela é importante?

Na hora de adquirir algo caro, pessoas ou empresas compram estes produtos parcelados. Por não ter o dinheiro necessário para pagar pela mercadoria à vista, o comprador recorre a um banco que fará um financiamento – que, ao final, sairá mais caro que o preço à vista, já que está pegando dinheiro da instituição financeira emprestado. 

O preço que se paga pelo “empréstimo” do dinheiro é o juro. Mas, como as parcelas não se limitam ao dia seguinte e rolam por meses e meses, é necessário projetar o valor dos juros para o futuro. Assim, o banco calcula o juro do parcelamento pela curva de juros futuros, a representante das expectativas da Selic. 

Portanto, uma piora nas expectativas fiscais, como gastos governamentais desenfreados ou sem propósito, encarecem o crédito de toda a sociedade, que precisa pagar mais pelos parcelamentos de suas compras. “Isso vale para você, que quer comprar um celular novo, ou para uma empresa que quer fazer um investimento novo em máquinas ou em uma unidade nova”, exemplifica Cabral, da B3.

Como a curva de juros afeta meus investimentos?

Quando se fala do mercado de ações, a curva de juros e seus movimentos podem ter várias implicações – simultâneas e distintas. A primeira delas, que pode afetar todo o mercado acionário, é o preço real das ações. À medida que uma ação é uma expectativa de fluxo de caixa presente, seu preço atual é a conversão desse valor futuro para o agora. Essa conversão é feita através da expectativa de juro e inflação, que converterá os valores monetários. 

“Então pode ser que não aconteça nada com a ação, mas os juros caem ou sobem e o preço dela acaba sendo alterado”, diz Rachel de Sá, economista-chefe da Rico Investimentos. Ela também menciona os impactos setoriais da curva. 

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Empresas ou setores mais expostos ao consumo da população tendem a ser mais penalizados por uma curva de juros mais aberta na medida em que seus serviços fiquem mais caros. Com preços mais elevados, passam a ser menos requisitados, como é o caso de lojas de roupas, tecnologia ou turismo.

“Se eu estiver falando, por exemplo, de uma empresa varejista, ela acaba perdendo tração em um aumento de juros. Isso não acontece com uma instituição financeira, por exemplo, ou empresas que são do setores menos cíclicos, como saneamento. As pessoas não vão consumir mais ou menos água se os juros estão altos”

Um cenário de aumento de juros também pode ter mais ou menos impacto conforme o endividamento das empresas, segundo de Sá. Denominam-se “alavancadas” as companhias que têm percentuais de dívida muito grande em relação ao seu fluxo de caixa ou seu patrimônio. Quando o preço dos juros aumenta, os gastos financeiros para se quitar uma dívida também encarecem. Este movimento pode afetar o balanço das empresas alavancadas e, por conseguinte, o valor de suas ações. 

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