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Entenda o impasse em torno da elevação do teto da dívida dos EUA

Governo e Congresso tentam fechar acordo para elevar o limite de endividamento. Acerto precisa sair até o fim do mês para evitar a inadimplência e o bloqueio de serviços públicos

Notas de dólares sobrepostas. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Nos EUA, a inflação e a taxa básica de juros preocupam tanto quanto no Brasil. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O governo dos Estados Unidos e o Congresso do país vivem um impasse diante da necessidade de um acordo para evitar um default (calote) histórico americano. Desde a semana passada, o presidente dos EUA, Joe Biden e da Câmara, Kevin McCarthy, negociam a elevação do teto da dívida americana.

O impasse acontece porque os deputados Democratas e Republicanos divergem sobre os requisitos para elevar o teto de gastos do país. A maioria dos congressistas exige cortes de gastos como contrapartida para liberar mais gastos acima da arrecadação do país. O problema é que se nenhum acordo for feito até 1º de junho, segundo o Tesouro Nacional americano, o governo não terá dinheiro para pagar as suas contas.

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O que um possível calote causaria nos EUA?

Um possível calote derrubaria os mercados, aumentaria o custo dos empréstimos para famílias e governos, além do forte impacto na confiança e no emprego. Ocorreria também uma paralisação na prestação de serviços governamentais (shutdown) e a economia entraria rapidamente em recessão. O problema se arrasta desde janeiro, quando o governo dos Estados Unidos atingiu o limite de empréstimos de US$ 31,4 trilhões.

O economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, explica que a discussão sobre a elevação do teto de dívida americana é mais política do que econômica. O analista afirma que os Estados Unidos dificilmente vão dar um calote. Desde 1960, os governos do país já aumentaram o teto de gastos 78 vezes.

“Os Estados Unidos sempre podem imprimir dólar. Eles nunca vão dar calote, mas é uma briga. Sempre que se chega nesse teto de dívida, há uma discussão importante entre republicanos e democratas para ver qual é a barganha que vai ser feita para aumentar esse teto. Talvez a gente veja alguma solução já nessa semana”.

Joe Biden e Kevin McCarthy voltam a se reunir nesta terça-feira, 16/05, para tentar um acordo antes de um possível calote em junho. Os negociadores do governo correm contra o tempo para tentar acabar com o problema antes do embarque (na quarta-feira, 17/05) do presidente americano para uma viagem ao Japão, Papua Nova Guiné e Austrália. No fim de semana, Biden afirmou que as discussões estão “avançando”.

“Continuo otimista porque sou um otimista congênito, mas realmente acho que há um desejo da parte deles, assim como nosso, de chegar a um acordo e acho que seremos capazes de fazê-lo”, disse no domingo, 14/05.

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O Teto da Dívida

O teto da dívida dos Estados Unidos é o valor máximo que o governo pode emitir em títulos para honrar as suas obrigações como salários de servidores, pagamentos de benefícios sociais, juros da dívida e investimentos. Ou seja, é o dinheiro que o país está autorizado a tomar emprestado para cumprir as suas funções.

Segundo o Departamento do Tesouro americano, o teto permite que o governo financie as obrigações legais existentes, mas não autoriza novos compromissos de gastos. Hoje o máximo de dívida emitida pelos EUA é de US$ 31,4 trilhões. Esse é a quantia que precisa ser elevada. Segundo um levantamento da XP, esse valor representa um aumento de 42,7% em relação a 2019, antes das medidas extraordinárias relacionadas à pandemia, e 250% maior que 2007, antes da Grande Crise Financeira.

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Funciona assim: a Casa Branca envia ao Congresso uma proposta de aumento do teto junto com um plano orçamentário. Esse texto é discutido e votado nas duas casas (Câmara e Senado) e depois de aprovado sancionado pelo presidente.

Atualmente o governo americano conseguiu cumprir as suas obrigações com o dinheiro que tem em caixa. Segundo a secretária do Tesouro, Janet Yellen, o valor hoje está em US$ 88 bilhões.

O Impasse

Os problemas do governo Joe Biden estão concentrados principalmente na Câmara – onde os Republicanos, partido de oposição ao democrata, assumiram o controle em novembro do ano passado ao conquistar a maioria das cadeiras. O atual presidente da casa, Kevin McCarthy, entrou com a promessa de pressionar o governo a cortar gastos em troca da aprovação da elevação do teto.

Em abril, o líder republicano viu aprovada a sua proposta de elevar o limite de dívidas em US$ 1,5 trilhão, com a contrapartida de limitar o crescimento dos gastos públicos a 1% na próxima década. O texto, no entanto, empacou no Senado – onde o partido Democrata junto com os senadores independentes – conseguiram segurar a votação. Dá-se aí o impasse.

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A equipe de economistas e analistas políticos da XP, acredita que vai haver uma solução para o impasse do teto de gastos. Segundo os especialistas, não faltam credores dispostos a comprar as dívidas americanas, ao mesmo tempo que também não seria benéfico para o país um caos administrativo e os efeitos negativos de um calote.

“A realidade é que ambos os partidos têm bons argumentos para trazer à mesa de negociações e vemos méritos tanto na austeridade proposta pelo partido Republicano, que tem o objetivo de equilibrar as contas públicas, quanto na segregação dos temas proposta pelo partido Democrata, que prefere evitar disfunções no curto prazo e adiar as discussões sobre questões orçamentárias para um momento posterior”.

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