Mercado

PIB do Brasil cresce 2,9% em 2022, apesar da queda no 4º trimestre

O setor de serviços impulsionou o resultado diante da reabertura da economia no pós-pandemia. Segundo o IBGE, no último trimestre o PIB caiu 0,2%

Os serviços tiveram um papel fundamental no resultado positivo da economia em 2022.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 2,9% no ano passado, segundo divulgou nesta quinta-feira, 02/03 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, a economia brasileira cresce pelo segundo ano consecutivo – em 2021 o PIB teve alta de 5% – após uma forte retração de 3,3% em 2020 por conta da pandemia.

A atividade foi impulsionada pelos serviços – que tem o maior peso na economia brasileira – e aceleraram forte principalmente no 1º trimestre. Além dos estímulos fiscais dados pelo governo – como a liberação antecipada do FGTS e aumento do Auxílio Brasil – a reabertura de bares, cabeleireiros e principalmente a volta do turismo no pós-pandemia ajudaram o setor.

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“Os serviços foram destaques de 2022 no mundo. A gente olha o PIB dos Estados Unidos e ele é bem semelhante. Essa foi a dinâmica das pessoas que puderam sair de casa em 2022. Deixaram de gastar com varejo para gastar com os serviços – como shows e eventos, por exemplo”, explica o estrategista da RB investimento, Gustavo Cruz.

Com o fim do efeito da reabertura econômica, a desaceleração dos estímulos fiscais e principalmente com o avanço dos juros – que atingiram 13,75% ao ano em agosto – houve uma perda de ritmo da atividade brasileira. O resultado é a queda de 0,2% no PIB do 4º trimestre de 2022 – interrompendo uma sequência de cinco trimestres positivos.

Em valores correntes, o PIB brasileiro totalizou R$ 9,9 trilhões no ano passado – com taxa de investimento de 18,8%. O PIB per capita em 2022 teve um avanço real (descontada a inflação) de 2,2% em relação ao ano anterior e alcançou R$ 46.154,60. O PIB per capita é calculado pela divisão de uma economia pelo tamanho da sua população. Ele relaciona o crescimento do país com a riqueza de seus habitantes.

Para o economista da WHG, Danilo Passos, os dados de 2022 vieram um pouco mais fracos que o esperado pelo mercado e isso traz um viés de baixa importante para a atividade econômica brasileira em 2023. Segundo ele, os aumentos da taxa básica de juros, a Selic, desde 2021 começam, enfim, a trazer consequências mais fortes para a economia.

O aperto monetário [alta dos juros] vai pegar a economia com força e o crescimento global que era favorável em 2021 e 2022 não vai ajudar em 2023. Os preços das commodities – que ajudaram tanto no ano passado – também não vão salvar. Portanto tudo aponta para um crescimento mais fraco em 2023”

Gráfico de curvas mostrando a trajetória do PIB nos anos recentes
O PIB representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado.
Fonte: IBGE

Setores que avançaram em 2022

Os serviços prestados no país tiveram alta de 4,2% – em valores correntes, foram R$ 5,8 trilhões no ano. O setor foi o que mais cresceu em 2022 e deu tração para a economia. No 4º trimestre, o setor avançou 0,2% – uma perda de ritmo na comparação com os trimestres anteriores.

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirma que as duas atividades que mais se destacaram no setor foram Transportes (8,4%) e Outros Serviços (11,1%), que inclui categorias de serviços pessoais e profissionais.

“Foi uma continuação da retomada da demanda pelos serviços após a pandemia de COVID-19. Em outros serviços, podemos destacar setores ligados ao turismo, como serviços de alimentação, serviços de alojamento e aluguel de carros”, explica.

A indústria fechou 2022 em alta de 1,6%, no entanto nos últimos três meses do ano, o setor teve queda de 0,3% – após três trimestres seguidos de alta.

O maior destaque foi a atividade Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (10,1%), que possibilitou bandeiras tarifárias mais favoráveis no ano. Em seguida veio o bom resultado da Construção – com alta de 6,9% – puxado pelo aumento das obras públicas em ano eleitoral

“O crescimento dessa atividade está muito relacionado à recuperação em relação à crise hídrica de 2021. Além do crescimento da economia, houve o desligamento das térmicas, diminuindo os custos de produção, o que contribui para o aumento do valor adicionado da atividade”, explica Rebeca Palis, do IBGE.

Setores que caíram em 2022

Na ponta negativa, o destaque fica com as Indústrias de Transformação que caiu 0,3%, diante da escalada dos juros e dos preços das matérias-primas. Resultado ruim também da indústria extrativa -1,7%, diante da queda na extração de minério de ferro – relacionada ao lockdown na China, nosso maior comprador.

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Juntos, os serviços e a indústria representam cerca de 90% do PIB brasileiro.

A agropecuária fechou 2022 com queda de 1,7%. No 4º trimestre, na comparação aos três meses anteriores, houve alta de 0,3%. O resultado negativo é explicado pela perda de produtividade da Agricultura, que impactou o resultado positivo da pecuária e da pesca.

A coordenadora do IBGE explica que a produção de soja registrou a primeira queda anual do setor desde 2016 – o que pesou no resultado.

“A soja, principal produto da lavoura brasileira, com estimativa de queda de produção de 11,4%, foi o que mais puxou o resultado da Agropecuária para baixo no ano, sendo impactada por efeitos climáticos adversos”.

Gráfico de setores demonstrando a importância dos setores da economia no PIB através do tempo
A indústria e os setores representam, juntos, cerca de 90% do PIB do Brasil

Consumo interno, externo e investimentos

O consumo das famílias – que avançou 4,3% em 2022 – foi o principal motor da economia brasileira pela ótica da demanda. É mais um efeito da reabertura das atividades após a pandemia de Covid-19. Entre outubro e dezembro, a alta foi de 0,3% – uma desaceleração em relação aos trimestres anteriores.

Já o consumo do governo cresceu 1,5% em 2022 e 0,3% no 4º trimestre – uma perda de ritmo na comparação com os três meses anteriores.

No setor externo, em 2022, as exportações de bens e serviços cresceram 5,5%, enquanto as importações subiram 0,8%. No quarto trimestre ante o anterior, os embarques cresceram 3,5%, enquanto a vinda de produtos para o país caiu 1,9% em relação ao terceiro.

O bom resultado das exportações é reflexo da indústria de transformação e das commodities – apesar da performance ruim da soja que teve baixa produção no ano passado, devido a problemas climáticos.

“Se pela ótica da oferta quem puxou foi o setor de Serviços, na ótica da demanda foi o Consumo das Famílias. É importante dividir a demanda interna do setor externo, pois dos 2,9% do crescimento, 2 p.p. foram da demanda interna principalmente do consumo das famílias, e 0,9 p.p. da demanda externa, que também subiu, já que as nossas exportações cresceram mais do que as importações”, conclui Rebeca Palis.

O estrategista da RB investimentos explica que havia um receio de que a exportação tivesse uma queda por conta da política de ‘covid-zero’ na China – altamente aplicada no 4º trimestre do ano passado. A China é o nosso principal parceiro comercial.

“É sempre importante olhar tendências. Hoje temos a notícia de que a China está com uma previsão de meta de crescimento de 6% – o dobro do que cresceu no ano passado. Portanto, provavelmente vão demandar muitos itens do Brasil, o que pode ser uma dinâmica bem favorável para a gente”, conclui Gustavo Cruz.

Pelo lado dos investimentos, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou 1,1% no quarto trimestre de 2022, em relação ao terceiro trimestre. No entanto, os investimentos tiveram alta de 0,9% no ano de 2022.

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