Alcançar R$ 1 milhão é mais fácil depois dos R$ 100 mil investidos? Entenda
Especialistas apontam cuidados e alertam sobre os riscos da volatilidade do mercado financeiro
Por Rogério Piovezan
A magia de ver o dinheiro render para você tem nome e sobrenome: juros compostos. E eles ganham força, sobretudo, depois de se alcançar os R$ 100 mil em investimentos, e assim, com o passar do tempo, os rendimentos se tornam maiores ao ponto de atingir a tão sonhada meta de R$ 1 milhão. Especialistas apontam cuidados e alertam sobre os riscos da volatilidade do mercado financeiro, que pode impactar esse cálculo.
No entanto, a teoria de que atingir R$ 1 milhão é mais fácil depois dos R$ 100 mil investidos esconde algumas variáveis, como o impacto da inflação, as taxas de administração sobre o retorno final e o desconto do Imposto de Renda (IR).
A ideia, contudo, é plausível para alguns especialistas e tudo depende, no fim, de uma boa estratégia de investimento diversificada para minimizar exposição a riscos, caso as condições de mercado sofram mudanças, além da disciplina de aportes constantes e sem resgate fora do prazo.
“Os juros compostos são uma das forças mais impactantes para o crescimento do patrimônio ao longo do tempo”, afirma Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments. “Eles funcionam como um efeito ‘bola de neve’, em que os rendimentos gerados sobre o capital inicial começam a render por conta própria, acelerando o crescimento do patrimônio.”
Como começar o investimento?
Redivo explica que essa teoria reforça a importância de começar a investir o quanto antes, mas com uma estratégia disciplinada. “No início, os ganhos podem parecer modestos, mas à medida que o tempo passa, o crescimento se torna exponencial. Isso explica porque o tempo necessário para dobrar o capital vai se reduzindo à medida que o patrimônio cresce. Ao atingir um certo ponto, o retorno sobre o capital investido é tão significativo que se torna possível alcançar novos patamares financeiros em períodos de tempo cada vez menores”, explica.
Esse investimento precisa levar em conta os benefícios dos juros compostos, segundo Gustavo Corradi Matos, CIO da Medici Asset do Grupo NanoCapital. “Para atingir esses objetivos, o investidor precisa se beneficiar dos juros compostos, que permitem que os rendimentos gerem novos rendimentos ao longo do tempo – o famoso ‘fazer o dinheiro trabalhar para você’.”
O controle emocional e a disciplina são essenciais na hora de montar e manter a carteira de investimentos com esse objetivo de R$ 1 milhão. “O investidor precisa de disciplina, paciência e uma estratégia diversificada que minimize riscos, sem abrir mão de uma visão de longo prazo. O poder dos juros compostos pode gerar grandes resultados, mas exige consistência nos aportes e uma análise cuidadosa das oportunidades e riscos ao longo do tempo”, observa Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finanças.
Quais são os riscos desse investimento?
Inflação, taxa de administração sobre o retorno final e desconto do IR, além da volatilidade do mercado financeiro, são algumas variáveis que impactam diretamente o patrimônio a ser construído. Por isso, tudo deve ser avaliado na hora de investir.
“Imaginando que o investidor alcançou o seu primeiro milhão investindo R$ 1.000 ao mês no Tesouro Selic, cuja rentabilidade é próxima de 100% do CDI, ele teria acumulado R$ 1.054.941,05 ao longo de 23 anos. Descontando os R$116.841,16 de IR, a rentabilidade líquida seria de R$ 938.099,89. Sendo assim, para alcançar R$1 milhão líquido, ele precisaria investir consistentemente por mais um ano, totalizando 24 anos para chegar à meta”, lembra Matos
Os efeitos da inflação e da taxa de administração também devem entrar no radar do investidor antes de montar a estratégia de investimento. “Mesmo que o conceito de juros compostos acelere o crescimento do patrimônio, o poder de compra pode ser corroído ao longo dos anos se o retorno real não for suficientemente superior à inflação. Além disso, escolher produtos financeiros com altas taxas de administração pode reduzir consideravelmente o rendimento líquido. Portanto, uma análise contínua do desempenho da carteira e ajustes estratégicos são necessários para que a teoria se materialize de forma mais próxima da realidade.”
Simulação sem aportes mensais
Em um exemplo sem aportes mensais em que é considerado apenas o investimento inicial e a taxa de retorno anual, Redivo faz a seguinte simulação para verificar o impacto dos juros compostos sobre o patrimônio ao longo do tempo:
1. Primeira Fase: R$ 100 mil em 6 anos
- Investimento inicial: R$ 50.000
- Taxa de retorno anual: 12% ao ano (aproximadamente 1% ao mês)
- Tempo necessário: 6 anos
2. Segunda Fase: R$ 200 mil em mais 4 anos
- Patrimônio inicial: R$ 100.000 (acumulado na primeira fase)
- Taxa de retorno anual: 12% ao ano
- Tempo necessário: 4 anos
3. Terceira Fase: R$ 300 mil em mais 3 anos
- Patrimônio inicial: R$ 200.000
- Taxa de retorno anual: 12% ao ano
- Tempo necessário: 3 anos
4. Quarta Fase: Atingindo R$ 1 milhão em 10 anos
- Patrimônio inicial: R$ 300.000
- Taxa de retorno anual: 12% ao ano
- Tempo necessário: 10 anos
“Esses cálculos destacam como o tempo de crescimento pode ser drasticamente reduzido graças à mágica dos juros compostos, sem necessidade de aportes adicionais”, explica Redivo.
Com aportes mensais, sem investimento inicial
Já no cenário no qual o investidor não tem os R$ 50 mil de investimento inicial, mas consegue manter uma rotina de aportes mensais de R$ 1 mil, o tempo para chegar ao R$ 1 milhão é similar.
“Imaginando que o investidor aplique R$ 1.000 todos os meses em um CDB prefixado a 12,10% ao ano, por exemplo, ele atingiria os primeiros R$ 100 mil em 6 anos. Porém, é possível ser ainda mais conservador ao adotar uma taxa de 10,40% a.a., equivalente ao CDI hoje, que levaria ao objetivo em cerca de 6 anos e 2 meses,” calcula Matos. Ele destaca, entretanto, que esses números são apenas uma simulação e podem não refletir a realidade, que pode mudar a depender das condições de mercado. Por isso, deve ter cuidado ao escolher os seus produtos financeiros.
Ao manter esse parâmetro constante nos aportes, segundo ele, o investidor alcançará R$ 200 mil em 10 anos. “Investindo por mais três anos no Tesouro Selic, o montante será de mais de R$ 300 mil, sem que seja necessário aumentar os aportes ou buscar investimentos com retornos mais agressivos. Os próximos R$ 100 mil vêm em apenas dois anos e assim exponencialmente, de modo que, em 23 anos, o investidor poderá atingir R$1 milhão”, calcula.
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