Diversificação de investimentos: por que é tão importante e como fazer
Investir em ativos de diferentes tipos e prazos, ligados a diferentes setores, indexadores e até países é a estratégia mais indicada para minimizar riscos e ter mais segurança em relação ao retorno no longo prazo
Da proteção do patrimônio ao aumento das possibilidades de bons retornos com os investimentos, a diversificação da carteira é um ponto essencial para qualquer investidor – desde aquele que está começando agora, até os mais experientes do mercado financeiro.
De acordo com Christianne Bariquelli, superintendente de Educação da B3, a Bolsa de Valores brasileira, quando o investidor trabalha com uma estratégia de diversificação de investimentos, o equilíbrio entre os ativos escolhidos para compor o portfólio vai reduzir os riscos contra a volatilidade e, possivelmente, potencializar o retorno. “O investidor tem mais chance de chegar perto da rentabilidade que imaginou para o seu dinheiro”, afirma Christianne.
+ Leia também: A importância da diversificação de investimentos em cenários de risco local
Quais os benefícios da diversificação?
Ela explica que, com uma carteira diversificada, o investidor evita que a rentabilidade de todo o seu dinheiro fique exposta a apenas um tipo de risco, seja ele de setor (comércio, construção civil, transporte, saúde etc.), mercado (juros, câmbio, entre outros) ou indexador (IPCA, juros). “A diversificação não se reduz aos ativos em si, mas também aos prazos do investimento, à localização geográfica e outros pontos que podem ser levados em consideração”, ressalta ela.
Uma expressão que resume muito bem essa estratégia é: “Não ponha todos os ovos em uma única cesta”. Grandes investidores, como Warren Buffett e Benjamin Graham, estão entre os defensores da prática de dividir o dinheiro em aplicações diferentes com o objetivo de se proteger das oscilações comuns do mercado.
Você sabia?
A estratégia de diversificação ou Teoria Moderna do Portfólio surgiu com o economista Harry Markowitz na década de 1950. Em 1990, seu trabalho foi reconhecido com o Prêmio Nobel de Economia
Os investidores pessoa física vêm aderindo à diversificação – e os dados da própria B3 comprovam isso. De 2016 para 2020, caiu de 61% para 40% o patrimônio alocado apenas em ações. De lá para cá, cresceu o número de pessoas investindo em outros produtos como fundos imobiliários (FIIs), fundos de índices (ETFs) e ativos no exterior, por meio dos BDRs, por exemplo.
Como diversificar sua carteira?
Para começar a traçar sua estratégia de diversificação, é essencial acompanhar as notícias sobre o mercado e ter uma base de qualidade de educação financeira. Uma boa dica são os cursos gratuitos que estão no hub de educação da B3.
Com mais conhecimento, você vai conseguir avaliar como cada ativo pode reagir a diferentes fatores – como crises políticas ou um cenário macroeconômico adverso, por exemplo –, montando seu portfólio em busca de um equilíbrio para reduzir impactos de possíveis acontecimentos futuros.
É nesse momento que o autoconhecimento entra em jogo. O investidor precisa saber – e respeitar – qual o seu perfil nos investimentos, a fim de avaliar as características de cada produto, e analisar quais as melhores estratégias com base na sua tolerância ao risco e aos seus objetivos.
Nessa hora, principalmente para investidores que têm menos experiência, vale a pena buscar a ajuda de profissionais qualificados na sua corretora de valores de preferência.
“A diversificação de investimentos, levando em conta o seu perfil de investidor e seus objetivos de investimento, é a melhor saída para atingir uma boa rentabilidade ao custo de um risco controlado”, diz Christianne.
Quais tipos de risco devo considerar na diversificação?
Mais do que senso comum, essa estratégia tem sido comprovada historicamente. Mesmo em situações de crise, alguns tipos de investimento podem oscilar de forma diferente. No momento em que uns registram queda, outros acumulam ganhos ou permanecem estáveis.
Imagine, por exemplo, uma empresa do setor de alimentos que se torna alvo de uma fiscalização que descobre que ela não está seguindo os padrões mínimos de higiene. É muito provável que o mercado entenda que as vendas dessa empresa cairão e, consequentemente, também os preços de suas ações.
Esse fato é praticamente imprevisível, contudo, não tem impacto para a maioria das outras empresas negociadas no mercado. E, para algumas, pode até ter o efeito oposto, já que concorrentes dessa hipotética empresa poderiam ver suas vendas aumentarem.
Isso se chama risco específico ou diversificável. Um investidor que detiver apenas ações da empresa afetada terá uma perda muito maior do que outro que tiver uma carteira com mais ações.
É claro que o contrário também pode acontecer. Um fato positivo, que afete apenas uma empresa, pode fazer com que suas ações subam, enquanto outras caiam ou permaneçam inalteradas. Nessa hipótese, o investidor que tiver apenas a ação afetada ganhará mais do que o que tiver uma carteira diversificada. Entretanto, ele terá assumido um risco maior para isso, mostrando a relação direta entre risco e retorno.
Quais critérios escolher na hora de diversificar?
Em uma carteira de investimentos bem diversificada, os papéis precisam “discordar” entre si. Ou seja, uns sobem, outros caem, mas o todo fica preservado. Se alguém tem uma carteira em que tudo sobe ao mesmo tempo, significa que, quando algo der errado, todos os investimentos também vão cair ao mesmo tempo. Então, a estratégia de diversificação não foi bem feita.
Vale destacar, porém, que a diversificação não é capaz de eliminar todo o risco de um investimento. Há o chamado risco sistêmico, quando fatos afetam todos os ativos no mesmo sentido, seja positivo ou negativo. Nessas situações, resta aos investidores decidir realizar lucros (em caso de alta) ou esperar a retomada, lembrando que a economia funciona em ciclos e ativos de maior risco devem ser considerados no longo prazo.
Os benefícios da diversificação
Diminuição de riscos
Uma carteira bem diversificada elimina os efeitos dos riscos específicos, deixando apenas o risco sistêmico. Se uma empresa ou um só setor apresentarem problemas, o prejuízo será pequeno dentro do total da carteira e tende a ser compensado por outros ativos que estão com desempenho melhor.
Potencialização de ganhos
Ao diversificar a carteira de investimentos de acordo com seu balanceamento estratégico, você abre diversos caminhos para uma boa rentabilidade. Caso alguns deles despontem como grandes oportunidades, você eleva o retorno da sua carteira de investimentos como um todo.
Equilíbrio
Uma carteira diversificada e balanceada traz equilíbrio para o investidor, sendo a melhor forma de construir um patrimônio a longo prazo.
Como funciona o balanceamento de portfólio?
Diversificar investimentos não é colecionar aplicações, numa gincana de quanto mais ativos diferentes, melhor. O ideal é ter um planejamento prévio feito a partir do seu perfil de investidor.
A partir do perfil, cada pessoa descobre e define quanto deve manter em uma reserva de emergência (com liquidez imediata), quanto pode ficar mais tempo investido (em busca de um retorno melhor) e qual a distribuição entre renda fixa e variável, conforme a tolerância ao risco. É importante ainda diversificar setores (agronegócio, indústria, imobiliário etc) e pensar em investimentos internacionais, para balancear o risco-Brasil, por exemplo.
Digamos que alguém pretenda ter 70% das reservas em renda fixa e 30% em renda variável. Ela vai distribuir seu dinheiro nos ativos escolhidos conforme o planejamento e, de tempos em tempos, vai revisitar essa divisão para ver se ainda está adequada ao seu perfil e objetivos.
Com o passar do tempo, os ativos vão tendo resultados diferentes. Alguns vão valorizar bastante, outros vão valorizar menos e, por óbvio, alguns vão desvalorizar. O primeiro passo aqui é entender que é para isso que serve a diversificação.
Muita gente quer que todos os ativos se valorizem e na mesma magnitude. Não é assim que funciona. É esperado que parte dos ativos se desvalorize e que a valorização de alguns compense a desvalorização de outros.
Com o tempo, as condições da economia vão mudar e aqueles que estavam se valorizando mais vão desvalorizar um pouco, enquanto os que estavam caindo começam a ganhar valor. É o conjunto que importa, não o resultado individual de cada classe de ativos.
Porém, o efeito desse descompasso entre os resultados dos diferentes ativos é que aquela proporção inicial planejada vai se desequilibrando com o tempo. Com isso, rebalancear a carteira é algo importante e que o investidor deve fazer, redistribuindo os investimentos para que a composição volte a ter as proporções planejadas.
Digamos que após um período os investimentos de renda variável tenham se desvalorizado e os de renda fixa valorizaram, de tal forma que a composição atual da carteira ficou distribuída 85% em renda fixa e 15% em renda variável. Seria o momento de fazer alguns ajustes para que a composição volte a ser de 70% em renda fixa e 30% em renda variável. Isso pode acontecer com a transferência de parte do que está em renda fixa para a renda variável ou por meio de novos aportes apenas na renda variável.
O contrário também, se a renda variável tivesse valorizado muito e já ocupasse uns 50% da carteira, o ideal seria vender parte desses ativos e investir em renda fixa, retomando a divisão inicialmente planejada.
É importante entender que os preços oscilam o tempo todo e que, por isso, a divisão original nunca vai se manter exatamente como planejado. Não se deve ficar rebalanceando a carteira a todo momento, isso vai implicar excesso de operações, que vão custar o pagamento de corretagens, comissões e tributos. Em geral, uma reavaliação por ano já é suficiente.
Uma maneira simples de diversificar
Existem alguns tipos de produtos que concentram, em uma única operação, diversos papéis. É o caso dos ETFs e BDRs de ETFs. Os ETFs são fundos que investem em uma cesta de ativos – sem que seja preciso “comprar” cada um separadamente. O ETF BOVA11, por exemplo, tem em sua carteira ações das mais de 60 empresas que compõem o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira. Isso quer dizer que esse ETF se valoriza ou desvaloriza seguindo o movimento do Ibovespa.
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