Influenciadoras contam sobre seus maiores desafios no mundo dos investimentos
Amanda Dias, Bea Aguillar e Carol Dias contam suas experiências com dinheiro, desafios, inspirações e dão conselhos
As mulheres vêm conquistando seu espaço na sociedade ao longo do tempo, e no mundo dos investimentos não é diferente. Mas apesar de serem maioria na população brasileira, na bolsa elas ainda representam apenas 22,8% dos investidores. As influenciadoras de finanças querem ampliar esse porcentual, pois sabem da importância da independência financeira feminina.
Ao Bora Investir, as influenciadoras de finanças e investimentos, Amanda Dias, do canal Grana Preta, Bea Aguillar, do canal Papo de Bolsa e Carol Dias, do Riquezas em Dias falaram sobre a sua história, relação com o dinheiro, desafio de ser mulher na área e dão dicas para outras mulheres que desejam controlar suas contas e ter liberdade financeira.
A seguir, confira os principais trechos das conversas e o que podemos aprender com cada uma delas.
Relação com o dinheiro na infância
A relação com o dinheiro na infância e como esse assunto é tratado na família é o primeiro contato que temos com as finanças em nossas vidas. Para Amanda, essa realidade veio acompanhada de muito controle financeiro e organização por parte de seus pais.
“Na infância eu via o meu pai sempre acompanhado de um bloquinho, fazendo conta, anotando e planejando os seus gastos. Já a minha mãe usava as notas fiscais, anotava os gastos e grampeava as notas junto. Nada era comprado fora do orçamento, tudo era muito controlado,” relembra.
Ela afirma que na época era difícil entender a importância de tanta rigidez em relação ao dinheiro, mas depois aprendeu que todo sacrifício da família tinha um propósito maior. “A organização financeira dos meus pais com certeza ampliou a minha visão sobre o tema. Percebi que meu comportamento financeiro era diferente das minhas amigas na faculdade e me tornei a conselheira financeira do grupo. Elas passaram a me incentivar para compartilhar esse conhecimento com as pessoas”.
Para Bea Aguillar, a realidade já era diferente. O pai trabalhava no mercado financeiro e era ele quem passava conhecimento sobre o assunto para ela e a irmã. O alerta sobre a importância de guardar, economizar e ter consciência dos seus gastos era um lembrete frequente dele em casa.
“Quando arrumei meu primeiro emprego, aos 15 anos, o conselho era: olha, aproveita para guardar dinheiro enquanto você mora com os pais, sem custos altos, porque depois ficará muito mais difícil”, ela recorda.
Essa influência fez com que Bea entrasse no mercado financeiro e trabalhasse em bancos até 2014, quando decidiu criar um negócio próprio. O canal Papo de Bolsa nasceu em 2017, depois dela perceber que existiam muitas dúvidas sobre o assunto e que ela poderia ajudar com o seu conhecimento.
“O canal já passou por diversas fases porque fui amadurecendo como investidora e depois virei analista de investimentos. Parecia que eu realmente precisava disso porque chegou um momento em que eu me orgulhava dos meus investimentos e do dinheiro que tinha guardado. Mas eu precisava fazer algo além disso. Com o canal, eu realmente me encontrei e me sinto realizada”, diz Bea.
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Já Carol Dias, criadora do ‘Riquezas em Dias’, traz na memória de sua infância o orgulho pela história de seu pai que, nascido em Portugal, veio para o Brasil fugido da guerra sem oportunidade de estudar. Aqui, ele conseguiu se tornar empresário no setor têxtil e possibilitou um bom estudo para ela. Porém, a realidade da família mudou por volta dos seus 15 anos.
“Meu pai passou por uma crise financeira muito grande e a gente teve de mudar o nosso padrão de vida do A pro Z. Isso me fez aprender a viver diante de dificuldades. Em casa a gente sempre teve um controle muito grande das finanças, sabíamos o valor dinheiro e meu pai falava bastante sobre isso”, conta.
Os maiores desafios com as finanças
Ainda que sejam boas investidoras, é pequeno o número de mulheres que investem no Brasil e falam sobre o assunto. Aumentar o interesse sobre a educação financeira é um dos desafios do país, segundo a criadora do Papo de Bolsa.
“Quando eu criei o canal achei que iria me comunicar muito com as mulheres mas, talvez por eu falar praticamente de renda variável, o meu público é majoritariamente masculino”, diz Bea. “Meu desafio é sempre ampliar o número de investidoras, tanto no meu canal quanto investindo na bolsa”.
A influenciadora afirma que vê uma cobrança maior sobre a credibilidade que passa por ser mulher nessa área. “Acabo sempre estudando muito e gerando conteúdo com seriedade para mostrar que, sim, eu sei muito bem do que eu estou falando”.
Para a CEO do Grana Preta, essa invalidação das mulheres no mercado também é um desafio. Ela percebe que tentam encontrar erros em seus conteúdos e a corrigirem a todo momento.
“O meu método de organização financeira não valoriza o acúmulo a qualquer custo porque, para mim, esta estratégia favorece a desigualdade estrutural. Meu método é voltado para alcançar equilíbrio financeiro, bem estar e sustentabilidade. Isso vai contra o discurso que estimula a mentalidade de curto prazo, do lucro pelo lucro e que ignora a realidade financeira da maior parte dos brasileiros”, afirma.
Carol lembra que sofreu preconceito no início do canal por já ter trabalhado como modelo antes de ser influenciadora. “Era chamada de burra, maluca, diziam que eu não sabia do que estava falando, que entraria em uma área que não entendia, que não iria dar certo… mas eu segui em frente. Não me importei com isso porque eu sabia onde eu queria chegar”, conta.
“Quero mostrar que qualquer pessoa pode investir, pode começar a ganhar seu dinheiro e, principalmente, que esse não é um mercado fechado só para quem é economista”.
Mulheres que as inspiram
Na trajetória das influenciadoras, mulheres as inspiraram.
Amanda Dias relembra a avó, Dona Juliana, que era empregada doméstica desde os 9 anos. “Ela me confessou certa vez que só pedia uma coisa a Deus: que tivesse saúde para ver os seus netos em cima do palco enquanto ela aplaudia da plateia. E ela me estimulou muito a estudar porque encarava a educação como uma forma de romper com o ciclo da pobreza e ser independente, ascender financeiramente”, conta ao Bora Investir.
Para Bea Aguillar, outras influenciadoras, como Mirna Borges e Nathalia Arcuri foram fonte de inspiração quando decidiu criar o Papo de Bolsa. “Eu analisava a linguagem, cenário, como elas gravavam e faziam as pautas delas”.
A admiração pela economista Zeina Latif também inspirou Bea. “Eu sempre ouvi ela falar muito de economia e ficava muito ligada no que ela falava para tentar aprender. Gostava muito da seriedade de como ela transmitia o conhecimento dela”.
Já Carol Dias conta que se inspira em mulheres não só da área de finanças, mas também grandes empreendedoras, como a empresária Cristiana Arcangeli. “Acho que ela construiu um império, sabe lidar com todos os tipos de público, soube criar um produto muito vendável em todas as pontas e continua sendo uma pessoa incrível”.
Conselhos e dicas para mulheres
Amanda Dias, do Grana Preta
“O primeiro passo é entender: o que é prosperidade para você e o que te faz se sentir uma pessoa próspera? Saber disso vai te ajudar a entender melhor para onde você deve direcionar o seu dinheiro e quais aspectos da sua vida você quer potencializar com aquele recurso. Nas minhas redes sociais eu compartilho muitas dicas práticas e gratuitas sobre organização financeira.
Depois é preciso ficar atenta aos perigos do abuso patrimonial. Muito se fala sobre a mulher que não trabalha e depende financeiramente do marido, mas pouco se fala sobre a mulher que trabalha, é independente, sustenta a família, mas que por causa da dependência emocional acaba tendo seus recursos drenados pelo parceiro”.
Bea Aguilar, do Papo de Bolsa
“Busquem ser independentes e autônomas financeiramente. É muito interessante quando a gente consegue unir forças com alguém e todo mundo se ajuda, cresce e avança junto. Mas também podem acontecer diversos reveses na vida e ter um certo conforto financeiro pode ajudar muito.
Um exemplo que eu cito é o da mulher que está em em um relacionamento abusivo, quer sair, mas não consegue por ser dependente financeira do parceiro. Criar autonomia e independência facilita a vida das pessoas, inclusive para que elas saiam de situações que não querem mais viver.
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Além de casos extremos, ao longo da nossa vida teremos vários planos, fases e desejos. Todos estes objetivos precisarão envolver finanças de alguma forma, a exemplo de ter um filho ou comprar uma casa.
Sem contar, óbvio, que vamos envelhecer e precisamos pensar na aposentadoria. Será que a aposentadoria do INSS vai trazer a qualidade de vida que eu almejo? Provavelmente não. Então, é importante investir, pensar no longo prazo. Acho que traçar todos esses objetivos e buscar essa autonomia já são grandes motivadores para a mulherada começar a guardar dinheiro e depois investir”.
Carol Dias, do Riqueza em Dias
“As mulheres têm que trabalhar com o que elas amam e traçar planos para que aquilo dê certo. Sonhar é muito bom, mas a ação é muito importante. É preciso que entendam o seu potencial e desenvolvam autoconfiança e segurança para aos poucos ganhar mais dinheiro, economizar e investir. É o seu futuro e o dos seus filhos que está em jogo. Ela não depende de ninguém: a independência financeira e qualquer coisa relacionada à felicidade depende apenas dela”.
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