Novo arcabouço fiscal: como ficam meus investimentos?
O Bora Investir ouviu agentes do mercado sobre a nova proposta de marco fiscal e como a regra pode impactar seus investimentos daqui para frente
Por Guilherme Naldis
A discussão sobre um novo arcabouço fiscal impulsionou a volatilidade e a aversão ao risco entre agentes do mercado em relação aos investimentos. O movimento afetou a bolsa de valores, o câmbio, os juros futuros e a maioria dos ativos nacionais, para o bem ou para o mal. Analistas ouvidos pelo Bora Investir afirmam que, diante do cenário incerto que marcou os últimos meses, a apresentação do novo marco fiscal deve contribuir para reduzir parte dessa incerteza.
As próximas semanas serão importantes para que analistas e investidores detalhem suas análises sobre a regra proposta e sua sustentabilidade — ou não. A falta de detalhamento sobre as fontes de receita é o que mais chama atenção, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.
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De maneira simplificada, a regra do arcabouço fiscal determina que os gastos públicos devem crescer de acordo com a arrecadação do governo – quanto mais se arrecadar, mais se poderá gastar.
A proposta determina que:
- As despesas passarão a ser corrigidas pela inflação, acrescida de 70% da variação real da arrecadação
- Exemplo: com uma variação das receitas em 6% e uma inflação de 4,5%, o crescimento das despesas seria de 1% acima da inflação
- Se o crescimento da receita acima da inflação for menor que zero, a despesa terá um crescimento de 0,6%. No outro extremo, o aumento das despesas ficará limitado a 2,5% acima da inflação
O mecanismo adiciona um componente “anticíclico” à economia. Em outras palavras, ele permite que, se a economia for mal, o governo não se limite à arrecadação mais fraca e possa gastar mais para impulsionar uma retomada. Mas, se a economia deslanchar, o governo pode pagar uma parte maior de sua dívida e construir um colchão nos tempos de bonança.
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O momento do arcabouço fiscal pede quais investimentos?
Tiago Sbardelotto, economista da XP Investimentos, conta que a percepção da gestora é de que o governo não “contou toda a história” durante o anúncio da nova regra. “Embora o ministro tenha falado em medidas para incrementar receitas com a correção de distorções no sistema tributário, não foram apresentados maiores detalhes, exceto uma previsão preliminar de um ganho de R$ 100 a R$ 150 bilhões”, afirma.
Por isso, apesar de afastados os temores mais urgentes, visto que o mercado reagiu bem ao parâmetro fiscal, ainda não é hora de se arriscar. Todos os perfis de investidores devem ter uma boa parcela de suas carteiras em títulos de renda fixa pós-fixados, assim como títulos indexados à inflação. Os fundos de investimento multimercado são boas opções para quem tem um estilo mais arrojado, recomenda a economista da Rico.
“Manter uma reserva de emergência segura em investimentos líquidos e conservadores, como Tesouro Selic ou Fundos DI sem crédito privado, segue sendo uma estratégia essencial em momentos de incerteza como o atual”, explica de Sá.
“Não se expor a riscos excessivos nos investimentos ou fora deles (como endividar-se no cartão de crédito, por exemplo) e garantir a diversificação da sua carteira serão os melhores amigos do seu patrimônio nesse momento”, completa.
“Na bolsa, mantemos nossa recomendação de posições mais defensivas, como empresas no setor de commodities, aquelas com história de crescimento sólido e estável, e de qualidade e a um preço razoável”, afirma a XP Investimento, em relatório.
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O que vem por aí após o arcabouço fiscal?
A manutenção de um limite de gastos é visto com bons olhos por agentes do mercado. Mas, diante do crescimento esperado das despesas públicas nos próximos meses, só será possível atingir as metas de resultado primário se houver um aumento expressivo nas receitas, apontam.
“A regra apresentada não encerra a discussão sobre o orçamento dos próximos anos. Ainda há detalhes a serem apresentados acerca da regra fiscal que podem modificar nossa análise”, diz Sbardelotto.
A leitura geral foi positiva, diz Jorge Vargas Neto, CEO e fundador da BHub. “Se os planos do governo derem certo, vão se criar as condições necessárias para a queda da Selic, a nossa taxa básica de juros, o que vai dar mais oportunidades para os investidores e para os empreendedores do país”, detalha ele.
O principal desafio da nova regra do arcabouço fiscal está em seus detalhes, apontam os entrevistados. Em especial, nos parâmetros necessários para a estabilização da dívida pública – uma vez que a regra não prevê redução de despesas nem aumento de receitas, avalia de Sá, da Rico.
“Nesse cenário, dado as metas de resultado primário bastante ambiciosas propostas para os próximos anos, fica a dúvida de como isso efetivamente irá acontecer. De acordo com anúncios iniciais do governo, iniciativas de natureza tributária poderão elevar a receita. Porém, essas não foram detalhadas ainda. Assim, a regra apresentada não encerra a discussão sobre o orçamento dos próximos anos.”, diz.
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