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Brasil tem o maior juro real do mundo; veja o ranking 

Levantamento feito pela Infinity mostra que o país também teve a maior queda percentual da inflação

Dados com setas exemplificam o aumento e baixa de juros; renda fixa. Foto: AdobeStock
A Selic é taxa básica de juros do Brasil, e grande parte dos investimentos de renda fixa se baseiam nela

O Brasil lidera o ranking mundial de juros reaisaqueles que descontam a inflação – em todo o mundo, e também é o com a maior queda percentual da inflação, segundo ranking elaborado pela Infinity Asset Management

A Selic, a nossa taxa básica de juros, está no patamar de 13,75% há cinco reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A instituição afirma esperar que a subida dos preços se estabilize e o governo sinalize sua nova política fiscal antes de tomar uma decisão sobre o rumo da taxa referencial. Já os juros reais estão em 6,94% ante a projeção de inflação para os próximos 12 meses. 

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Depois de nós, vem o México, com a taxa real em 6,05%, e o Chile, com 4,92%. O fato dos três primeiros colocados serem países latinos não é coincidência, afirma o economista responsável pelo estudo, Jason Vieira.

“A situação do Chile ficou mais agravada recentemente, mas o Brasil e o México têm cenários semelhantes. Em comum, todos esses países já lidam com inflações persistentes e muito altas, então os bancos centrais já têm uma experiência na hora de apertar a política monetária. O Brasil foi o primeiro a iniciar a alta dos juros, e os outros dois países vieram em seguida”, afirma Vieira. 

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Comparação mundial

Apesar de seus frequentes usos políticos, o juro real não tem muito a ver com o poder de compra do país ou a inflação corrente. Na verdade, tem a ver com uma combinação dos dois, visto que é calculado a partir da subtração da taxa referencial pela inflação anualizada.

Por isso, os juros reais são um termômetro do ritmo da política monetária em vez de um dado econômico sobre consumo ou crescimento. “O Brasil tem o maior juro real que a Argentina, por exemplo, que tem -19,61%. Dá pra dizer que o argentino tem mais poder de compra ou investimento que o brasileiro? Nem de longe”, exemplifica o economista.

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Isso porque, segundo ele, a taxa de aumento dos preços é fundamental para este cálculo. O último informe de inflação do Brasil, conhecido como IPCA, registrou alta de 0,84% entre janeiro e fevereiro e 5,60% entre o mês passado e o mesmo período do ano anterior

Para seguir o exemplo, a inflação argentina cresceu 6,6% nos primeiros dois meses deste ano e 102,5% entre fevereiro de 2022 e de 2023. A taxa básica de juros do país está, atualmente, em 75%.

O ranking dos juros reais nos países

Por isso, o economista afirma que os dados devem ser lidos em seus contextos de política fiscal e monetária antes de ser feita uma leitura social. Além disso, é preciso ter em conta um cenário mundial de subida de juros.

“O movimento global de políticas de aperto monetário continuou a ganhar força, com o aumento expressivo no número de BCs sinalizando preocupação com a inflação, mesmo com a queda do preço de commodities”, diz o relatório da gestora.

O ranking é o seguinte:

RankingPaísJuro real
1Brasil6,94%
2México6,05%
3Chile4,92%
4Filipinas2,62%
5Indonésia2,45%
6Colômbia1,93%
7Hong Kong1,74%
8África do Sul1,60%
9Israel1,57%
10Índia1,29%
11China0,37%
12Estados Unidos0,36%
13Hungria0,34%
14Rússia0,19%
15Nova Zelândia0,15%
16Malásia0,11%
17Reino Unido-0,15%
18Suíça-1,30%
19Taiwan-1,53%
20Japão-1,54%
21Coréia do Sul-1,86%
22Canadá-2,35%
23França-2,44%
24Cingapura-2,50%
25Austrália-2,92%
26Turquia-3,71%
27Suécia-4,03%
28Dinamarca-4,16%
29Tailândia-4,19%
30Portugal-4,34%
31Espanha-4,78%
32Alemanha-4,87%
33Áustria-4,87%
34Itália-4,95%
35Grécia-5,61%
36Bélgica-6,42%
37Polônia-6,68%
38República Checa-7,17%
39Holanda-7,42%
40Argentina-19,61%
Fonte: MoneYou e Infinity Asset Management

A listagem acima considera que a Selic deva se manter no nível atual, de 13,75%, nos próximos trimestres, seguindo as expectativas do relatório Focus. Nas outras duas projeções menos prováveis, de alta e de baixa da taxa terminal em 0,25%, o Brasil se manteria, de qualquer forma, como líder global de juros reais.

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Juros reais mundo afora

O cenário atual de juros é reflexo de uma elevação global dos preços em todo o mundo, afirmam especialistas ouvidos pelo Bora Investir. “Cada momento histórico desse tem suas particularidades”, afirma Ian Caó, gestor e fundador da Gama Investimentos.

Para ele, o mundo está passando por uma transição econômica e social, onde a inflação e os juros mais altos serão mais frequentes e, até mesmo, habituais. “Os últimos dez anos foram marcados por uma liquidez absoluta nos mercados do mundo inteiro. Agora, depois da pandemia e com uma nova guerra lá fora, as coisas começaram a mudar e os países começaram a se posicionar diferentemente”, contextualiza. 

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“A sinalização majoritária entre as autoridades monetárias é de um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias, o que requer maior cautela na condução das políticas econômicas também por parte de economias emergentes”, aponta um relatório do Itaú sobre a ata do Copom, que saiu na última terça-feira, 28/03.

Os economistas do banco, liderados por Mário Mesquita, afirmam no informe que o comitê demonstrou muito cuidado na análise da trajetória da inflação e na ancoragem das expectativas. E que, para que os juros caiam, os dois fatores precisam entrar em harmonia.

O que vem por aí?

“Também foi destacado que as expectativas de inflação seguiram em processo de

desancoragem, atribuído em parte aos questionamentos sobre mudança nas metas de inflação”, consta no relatório do banco. O Itaú projeta que os juros referenciais do Brasil atinjam 12,50% ao final do ano, com o primeiro corte ocorrendo no quarto trimestre.

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Já o Bank of America avaliou que a ata trouxe sinais mistos: com uma visão moderada sobre as condições financeiras nacionais e globais ao mesmo tempo que se mostrava pessimista com as expectativas de inflação. 

A análise assinada pelos economistas David Beker e Natacha Perez aponta que o comitê reconheceu que “uma nova âncora fiscal crível pode reduzir as expectativas de inflação”, o que faz o banco americano projetar a Selic encerrando 2023 em 11%.

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