Investir melhor

Previdência privada é para você? Saiba como avaliar

Produto traz vantagens tributárias, mas é preciso se atentar aos prazos e taxas do investimento

O mercado de previdência privada tem crescido nos últimos anos. Em 2023, a captação líquida do setor foi de R$ 42 bilhões, um aumento de 28,4% na comparação com um ano antes, de acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Os ativos investidos somam R$ 1,4 trilhão, o equivalente a 13% do PIB nacional.

“Nos últimos anos, mesmo em cenários mais adversos, vimos o crescimento da previdência aberta. Com a queda do desemprego e o aumento da renda real, a indústria mostrou mais crescimento ainda no ano passado”, comenta Marcelo Mello, diretor-estatutário da Fenaprevi.

Além disso, ele ressalta que as mudanças regulatórias mais recentes estimularam o segmento ao flexibilizar os ativos que podem compor fundos de previdência. Além dos valores, tem crescido também a oferta de fundos de previdência. Se antes os grandes bancos e seguradoras eram praticamente os únicos a oferecer os produtos, hoje o número de gestoras independentes com versões de fundos adequadas à previdência complementar tem crescido.

“As novas regras atraíram gestores mais competitivos, que conseguem entregar retornos adicionais”, comenta. Isso trouxe uma maior concorrência na indústria da previdência aberta, o que estimulou uma queda nas taxas cobradas. “A taxa de administração ponderada dos fundos de previdência caiu nos últimos anos, o que é positivo para os clientes”, resume.

Segundo ele, o grande desafio agora é ampliar a diversificação dos investimentos em previdência. Hoje, 77% dos R$ 1,4 trilhão investidos estão alocados em renda fixa. “À medida que tivermos uma política monetária mais frouxa e uma Selic menor, o ambiente começa a estimular a diversificação da indústria”, diz.

Para Bernardo Martins, diretor comercial do Grupo Fractal e planejador financeiro CFP pela Planejar, o crescimento da previdência privada também pode ser atribuído a fatores como a maior facilidade de adesão, maior flexibilidade dos planos, além da maior transparência na comunicação das instituições financeiras.

Com o objetivo de estimular a poupança de longo prazo no País, existem diferentes benefícios tributários para os aportes em previdência. Mesmo assim, é importante adequar os investimentos ao objetivo e prazo.

O Bora Investir conversou com especialistas em finanças e planejamento financeiro para explicar as principais características e te ajudar a descobrir se a previdência privada vale a pena para você.

O que é previdência privada?

A aposentadoria complementar é um tipo de fundo de investimento voltado para o longo prazo. Apesar do nome, não há relação com a previdência pública, lembra Arnóbio Durães, professor da FIA Business School. Ou seja: uma pessoa pode ter um ou mais planos de previdência privada, independente de se contribui ou não para o INSS.

“A ideia é complementar a previdência pública. Para isso, a pessoa adquire um plano de uma administradora especializada, como uma seguradora ou instituição bancária”, diz Durães. A partir daí, o investidor pode fazer aportes mensais, ou esporádicos. “Normalmente, é um investimento de longo prazo, em torno de 20 a 30 anos. Quanto mais longo o prazo, melhor”.

O gestor, por sua vez, reúne o capital aportado por diversos investidores e aplica de acordo com a política do fundo.

Quais os benefícios tributários?

PGBL x VGBL?

Existem duas modalidades de previdência no Brasil: o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). A diferença entre eles basicamente é no pagamento do imposto renda.

No VGBL, o imposto é cobrado apenas no momento do resgate dos valores investidos, e só recai sobre os rendimentos, e não sobre o que chamamos de principal, aquele valor que o investidor aportou ao longo dos anos.

Já no PGBL, o imposto será cobrado sobre todo o valor resgatado. Mas há uma vantagem: na fase de acumulação, os valores investidos no PGBL podem ser deduzidos do cálculo do imposto de renda, para aqueles que contribuem para o INSS, no limite de até 12% da renda tributável por ano. Na prática, isso significa que quem faz aportes em um PGBL terá de pagar menos na declaração anual do imposto de renda, ou terá um valor maior a restituir.

A escolha entre PGBL ou VGBL precisa ser feita na hora da contratação do plano, mas uma pessoa pode ter os dois.

Tabela progressiva x regressiva?

Outra escolha a ser feita é sobre a tabela regressiva ou progressiva. A regressiva beneficia quem investe por mais tempo: quem deixa o dinheiro lá por até 2 anos paga 35% de imposto, mas esse valor cai gradativamente até chegar em 10%, para quem investe por mais de 10 anos.

Prazo de acumulaçãoAlíquota %
Inferior ou igual a 2 anos35
Superior a 2 anos e inferior ou igual a 4 anos30
Superior a 4 anos e inferior ou igual a 6 anos25
Superior a 6 anos e inferior ou igual a 8 anos20
Superior a 8 anos e inferior ou igual a 10 anos15
Superior a 10 anos10

Já na tabela progressiva, a alíquota depende do valor resgatado por ano, e vai de 0% até 27,5%.

BASE DE CÁLCULO (R$)ALÍQUOTA (%)DEDUÇÃO (R$)
Até 24.551,92
De 24.551,93 até 33.919,807,51.838,39
De 33.919,81 até 45.012,60154.382,38
De 45.012,61 até 55.976,1622,57.758,32
Acima de 55.976,1627,510.557,13

Uma novidade é que a partir de agora, essa escolha pode ser feita no momento do resgate.

Vantagens da previdência privada

Além das questões tributárias, os planos de previdência trazem algumas benefícios na sucessão, “facilitando a transferência de patrimônio para os herdeiros de forma eficiente e segura”, explica Bernardo Martins. Isso porque o valor investido em planos de previdência não precisam passar pelo inventário no caso de morte do titular. Assim, os herdeiros conseguem acesso a esse patrimônio com mais agilidade.

Arnóbio Durães, da FIA, lembra ainda da possibilidade de converter o saldo investido em renda no momento da aposentadoria, como uma renda mensal vitalícia ou a renda por um prazo determinado. Quem preferir não fazer essa contratação, entretanto, pode fazer resgates periódicos.

Desvantagens

Uma das desvantagens é justamente o inverso da moeda do benefício tributário. Quem investir em um plano de previdência privada e resgatar o dinheiro em menos de dois anos pode ter de pagar a salgada alíquota de 35% de imposto de renda, que poderá corroer boa parte da rentabilidade obtida.

Além disso, Bernardo Martins cita a complexidade na escolha do plano, que muitas vezes afasta os investidores. “A variedade de opções disponíveis pode tornar a escolha do plano ideal uma tarefa complexa, exigindo um bom entendimento das características de cada modalidade”, afirma.

Como escolher um fundo de previdência?

“A decisão de investir em um plano de previdência privada deve ser precedida por uma análise cuidadosa dos objetivos financeiros individuais, perfil de risco e horizonte de investimento”, ressalta Martins. Segundo ele, é importante avaliar as características de cada plano, considerando aspectos como tipo de tributação (PGBL ou VGBL), prazo, taxa de administração e histórico de rentabilidade do fundo.

Ele lembra ainda a importância da diversificação, considerando diferentes classes de ativos, a depender do perfil do investidor. “Além disso, é importante verificar a reputação e experiência da gestora do fundo, bem como os custos associados e a flexibilidade oferecida em termos de contribuições, resgates e portabilidade”, diz.

Quer aprender mais sobre a previdência privada e sobre como se preparar para a aposentadoria? Confira este curso gratuito do Hub de Educação da B3.