De pirâmides aos FIIs: conheça a trajetória da Diarista Investidora
Vera Lúcia Santos Silva, 41 anos, aplica 94% do seu patrimônio em fundos imobiliários e ações que rendem dividendos e recebe R$ 180 de proventos mensais. Ela conta sua experiência em canal Diarista Investidora.
Por Marília Almeida
A diarista Vera Lúcia Santos Silva, 41 anos, caiu em uma grande armadilha antes de conhecer os investimentos regulados e listados na bolsa de valores: uma pirâmide financeira. Quem lembra do caso Telexfree, que chegou a arrebanhar 1 milhão de divulgadores e foi extinta em 2014 por fraude? Vera Lúcia era um deles.
Nascida na Paraíba, ela passou a sua infância em Alagoas e, aos 13 anos, foi morar na cidade de Paulo Afonso, na Bahia. Posteriormente, com 19 anos, Vera veio para São Paulo para trabalhar como doméstica, e há nove anos trabalha como diarista.
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Cansada de perder dinheiro com soluções milagrosas, Vera resolveu estudar sobre o assunto. Foi aí que conheceu os fundos imobiliários e as ações que pagam dividendos, e gostou da possibilidade de ter uma renda mensal gerada por essas aplicações.
Conforme foi aprendendo sobre investimentos, Vera criou um canal no YouTube, o Diarista Investidora, que já reúne quase 300 vídeos e 20 mil seguidores. Ganhando R$ 3,2 mil por mês, ela já conseguiu investir R$ 16 mil.
Veja abaixo a entrevista completa concedida por Vera Lúcia Santos Silva ao Bora Investir:
Bora Investir – Qual é a sua meta financeira?
Vera Lúcia Santos Silva – Quem vem da classe baixa, como eu, que sou MEI e diarista independente, tem a expectativa de que vai se aposentar e terá ao menos um salário mínimo do governo. Mas meu objetivo maior, a médio e longo prazo, é receber mais um salário mínimo em proventos e dividendos. Sei que pelo valor dos meus aportes vou demorar um pouco para chegar nisso, mais de cinco anos.
Então, resolvi fracionar as minhas metas. A minha primeira meta, que já atingi, era receber 10% de um salário mínimo, que é R$ 130, investindo em FIIs e Fiagros. No último mês recebi R$ 143 e em dezembro pretendo chegar a R$ 200 de proventos por mês.
Bora Investir – Como você começou a investir?
Vera Lúcia Santos Silva – Depois de cair em pirâmide financeira, eu conheci um investimento que rendia 70% da Selic. Hoje sei que o rendimento é pouco, pois atualmente em tenho uma LCI que paga 86% da Selic, mas não tem cobrança de Imposto de Renda. Porém, naquela época o rendimento era bom, pois a Selic estava muito alta. Mas eu precisava ter R$ 5 mil para investir.
Eu não tinha R$ 5 mil para aplicar, e fiquei triste pensando que poderia ter guardado os R$ 3 mil que perdi na pirâmide financeira. Então, comecei a pesquisar sobre investimentos e descobri canais como o Me Poupe!, da Nathalia Arcuri, o Primo Rico e o canal do Bruno Perini. Até que conheci os fundos imobiliários em 2019 e resolvi comprar cotas dos fundos, na maluquice.
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Quando vi que teria de declarar esses investimentos no Imposto de Renda, eu vendi. Segurava por um bom tempo, mas depois vendia, temendo ser obrigada a fazer a declaração. Até que contratei uma contadora, que fez todo o processo para mim.
Não tenho problema em pagar pelo serviço de alguém, caso seja necessário. Até porque também sou uma prestadora de serviços. Ela me cobrou R$ 150 por ano e disse que se eu precisasse ajustar a declaração ela não cobraria.
Bora Investir – Você gasta a renda que recebe como dividendos mensais?
Vera Lúcia Santos Silva – Já cheguei a usar por um tempo, mas hoje só reinvisto o dinheiro.
Eu sempre tive o sonho de ter uma casa para alugar, mas vi que os FIIs eram mais vantajosos, já que permitem que eu possa investir no mercado imobiliário sem ter R$ 300 mil para adquirir um imóvel, algo irreal para mim. Então, pensei: é a minha chance. Dessa forma, consigo ir aumentando meu patrimônio e o meu ganho mensal
Não é fácil reinvestir, mas tudo o que recebo eu reinvisto em um fundo de fundos (FoF), que já representa quase 8% da minha carteira.
Bora Investir – Já houve algum momento no qual precisou resgatar seus investimentos?
Vera Lúcia Santos Silva – Houve um período no qual vendi quase todas as minhas cotas. Adquiri uma cozinha planejada e deixei apenas um pouco do dinheiro aplicado. Mas desde 2021, quando fiquei sem trabalhar por problemas de saúde, decidi não vender mais.
No último um ano e meio eu passei a investir regularmente. Tanto que o que recebo em proventos por mês vem subindo constantemente até chegar a R$ 158,91 em agosto, que é um valor cada vez mais próximo do meu objetivo.
Bora Investir – O que você tem na sua carteira de fundos imobiliários?
Vera Lúcia Santos Silva – Tenho 57,9% do meu dinheiro aplicado em fundos de papéis, enquanto 28,27% invisto em fundos de tijolo. Aplico em diversos segmentos, como logística, fundos de desenvolvimento, lajes corporativas, além do fundos de fundos.
Também estou montando uma carteira previdenciária de ações, que atualmente corresponde a 5,94% do meu patrimônio total e tem foco em dividendos.
Venho buscando diversificar cada vez mais a minha carteira. É difícil, pois tenho um fundo de papel que gosto muito e sei que hoje ele está abaixo do seu valor patrimonial. Mas eu respiro e busco comprar fundos de tijolo, para não ficar muito concentrada nesta classe de ativos.
Bora Investir – Quanto você consegue economizar por mês?
Vera Lúcia Santos Silva – Como sou autônoma a minha renda varia bastante, mas em média eu trabalho quatro dias por semana, e recebo R$ 800 semanais bruto.
Em alguns meses eu consigo investir R$ 1 mil, que é algo bem surreal. Sou muito controlada com o dinheiro, e recebo rendimentos do meu canal no YouTube também. Coloco minha chave PIX lá, e algumas pessoas acabam me ajudando.
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Às vezes meus clientes viajam ou eu fico doente e acabo indo trabalhar apenas 3 dias na semana. Se eu fico três dias sem trabalhar tenho um desfalque de R$ 600. No início, até de domingo eu ia trabalhar. Mas hoje eu não aguento mais, pois já tenho 41 anos. Por isso invisto: se ganhar uma renda de R$ 200 consigo deixar de fazer uma diária para estudar e fazer cursos, o que pode me ajudar muito.
Quando temos um dia difícil, muita gente sente que preciso comprar algo para extravasar ou desestressar. Eu penso diferente: quanto mais difícil é o meu dia, mais acelero o meu objetivo para conseguir ter flexibilidade do meu tempo. Eu sei que preciso renunciar a passeios no presente em troca de sonhos maiores.
Bora Investir – Você tem uma reserva de emergência? Porque resgatar fundos imobiliários e ações em momentos de baixa pode gerar prejuízos
Vera Lúcia Santos Silva – Eu sei que essa é uma falha minha. Uso R$ 1.800 para viver do que recebo, mas tenho apenas R$ 450 na reserva de emergência. Eu sei que está péssima, e ninguém deve seguir isso. Me apoio muito na flexibilidade que tenho de pedir o adiantamento de uma diária aos meus clientes, mas sei que não deveria.
Minha reserva de emergência está aplicada em LCIs e LCAs, que não têm liquidez diária. Costumo dizer que faço isso para proteger o dinheiro de mim mesma. Como a Selic ainda está alta, a renda fixa está rendendo bem. Meu objetivo é criar um fluxo de investimento no qual seja possível ter um título vencendo a cada mês. Dessa forma, eu conseguiria ter algum valor para emergências.
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Eu venho de uma situação humilde, e já economizo muito na minha vida cotidiana. Compenso esse sacrifício buscando rendimentos maiores, pois me dá mais ânimo.
Sempre que vendia fundos imobiliários eu tinha prejuízo. Mas penso que foi melhor do que ter gastado com outras coisas. Afinal, conseguia vender e ainda ter grana: se tivesse ido fazer compras não teria nem o investimento com desconto.
Bora Investir – Você entende os riscos da renda variável?
Vera Lúcia Santos Silva – Sei que estou exposta aos riscos do mercado e também à má-gestão. Alguns ativos decepcionam, mas estou aprendendo.
Tenho na minha carteira um Fiagro que está muito concentrado em algumas empresas e tem 22% do patrimônio em um único CRA. Em outros fundos o máximo alocado em um CRA é 12% do patrimônio líquido. Alguns FIIs nos quais invisto têm uma lâmina gigantesca e não têm mais de 1% alocado em cada título.
Fico feliz quando o ativo que quero comprar desvaloriza para que eu possa comprar mais. Pois meu objetivo é de longo prazo. Portanto, pouco importa se ele está oscilando para baixo agora. Meu objetivo é ter o rendimento. A oscilação do mercado acontece a todo momento e às vezes despenca. Mas eu comecei a investir sabendo como funcionava.
Bora Investir – Por que você acredita que caiu em ciladas?
Vera Lúcia Santos Silva – As pirâmides financeiras prometem altos retornos diários, e cai nisso porque não tinha conhecimento nem sobre o que era taxa Selic. Se soubesse o que era, eu veria que hoje um investimento em renda fixa bem vantajoso dá retorno líquido de 1% ao mês. Então, como posso ganhar 6% em um dia? Muita gente não tem conhecimento, mas tem ganância de prosperar porque leva uma vida difícil.
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Por isso, acredito que a educação financeira seja boa até quando você não tem dinheiro. E hoje temos conhecimento pela internet: está ridiculamente fácil. Basta disponibilizarmos tempo para isso. Costumo ver conteúdo sobre investimentos no ônibus: não perco meu foco. Não leio relatórios de fundos, mas vejo vídeos sobre esses relatórios, que resumem o conteúdo.
Hoje muita gente vai entrar em um bancão e não vai cair na armadilha da capitalização. Porque tem conhecimento. Sabe que pode não ter promessa de sorteio, mas rende mais. O banco não explica que está ganhando muito mais do que o investidor nesses produtos, pois caso eles sejam resgatados antes da data o investidor recebe bem menos e o rendimento no final não supera nem a poupança.
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