É melhor financiar um imóvel ou ficar no aluguel para sempre?
Comprar o primeiro imóvel é uma das maiores decisões da vida de alguém; veja o que especialistas recomendam
Por Guilherme Naldis
A decisão de mudar de casa é uma das mais importantes – e difíceis – que alguém pode tomar. Seja para sair do ninho dos pais, morar sozinho ou procurar um imóvel melhor, vários aspectos sempre entram na conta: distâncias, custos, acessos são alguns deles.
E a dúvida fica ainda mais crítica quando o planejamento financeiro entra no meio. Com a taxa de juros atual, em 13,75%, e as incertezas sobre o cenário fiscal dos próximos meses, aluguéis e financiamentos de imóveis ficam ainda mais incertos.
Segundo Ricardo Natali, CEO e cofundador da Aira Investimentos, essa decisão deve levar em conta fatores como emprego atual, família, locomoção e, principalmente, fase da vida. “Quando se antecipa ou se posterga um desejo, como o de comprar um imóvel para morar, acaba se pagando mais caro – por isso sempre é importante consultar um planejador financeiro”, afirma.
Ele explica que fatores como comportamento e expectativa de mudança podem fazer o aluguel ou a compra do imóvel se tornarem mais ou menos atrativas. “Por exemplo: uma pessoa jovem não sabe se vai ficar muito tempo na mesma cidade a trabalho. Então, pode não ser tão interessante pensar em comprar nesse período”, diz.
Mudanças e permanências de imóvel
Marcelo Milech, educador financeiro da Planejar, afirma que, para a maioria da população mundial, a compra de um imóvel próprio configurará no maior investimento do indivíduo ou da família. Por isso, ele diz que “é algo para se pensar a longo prazo e que não pode ser encarado como uma aventura”.
Muitas das questões envolvidas na escolha entre o financiamento ou o aluguel não são econômicas. Só a expectativa de empregabilidade a curto, médio e longo prazo já é o bastante para alguém mudar seu planejamento de moradia. A condição se agrava quando quem vai tomar a decisão precisa escolher por outras pessoas com si, como filhos, cônjuges e parentes.
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“Até ter pets ou não deve ser levado em consideração”, diz Milech. Para ele, é preciso calcular este investimento com muito cuidado, pensando no presente e no futuro. Mas, nas condições ideais e em cenários positivos, ele recomenda a compra.
“No mundo inteiro, o investimento imobiliário ou a casa própria são fatores determinantes na poupança e na riqueza. Isso remete até aquela velha frase de ‘quem casa, quer casa’. É o sonho da maior parte das pessoas,”, justifica. Nas palavras dele, o aluguel é, em muitos casos, a melhor ou a única alternativa do momento. Mesmo assim, ele não deixa de ser algo que sempre se paga, mas nunca se tem.
Fatores como a despreocupação com gastos de moradia uma vez que o imóvel está quitado também favorecem a escolha, ele diz. Ainda mais se a compra for feita à vista. Mas, dado o tamanho do gasto, a poupança de uma reserva para uma entrada e o parcelamento realista com a receita da família também são escolhas razoáveis, diz Milech.
O imóvel na macroeconomia
Casas e apartamentos também são reservas de valor e proteções contra a inflação importantes. Afinal, os casos de regiões que se desvalorizam a ponto de seus imóveis darem prejuízo em relação ao investimento são raros.
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“A população do Brasil ainda está em crescimento e ainda é relativamente jovem. Dado que há um déficit habitacional muito grande no país, a gente pode imaginar que existe um certo potencial de valorização de longo prazo no imóvel”, argumenta o especialista.
“A maior parte do dinheiro mundial é constituído por imóveis próprios e, muitas vezes, financiados pelo mundo afora”, diz. Mas, no Brasil, a realidade é um tanto diferente. O volume de crédito imobiliário, de 2% em comparação ao PIB do país, ainda é baixo, e o número de pessoas proprietárias de imóveis é pequeno.
Ponderação
A importância da decisão e seu volume financeiro impedem que a compra de uma casa seja feita de imediato em muitos casos. Em outros, até a reserva para uma entrada seguida de parcelamento é difícil.
Por isso, Ricardo Natali, CEO e cofundador da Aira Investimentos, dá alternativas para o curto prazo.
“Um aluguel costuma ser algo em torno de 0,4% e 0,5% do valor total do imóvel mensalmente. Enquanto isso, as parcelas de um financiamento são cerca de 0,7% desse montante. Assim, se uma pessoa decide pagar aluguel, ela poderia investir a diferença do financiamento para pagar um imóvel à vista no futuro”.
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Ele afirma que o valor do imóvel próprio na vida de qualquer pessoa e sua resiliência perante a inflação e a economia num geral são indiscutíveis. Mas pondera que um erro comum é resumir todo o patrimônio familiar à casa – o que imobiliza, portanto, toda a riqueza.
“Se você gasta muito com moradia, mesmo que a longo prazo, não dá pra acessar o seu patrimônio porque ele está estacionado”, explica. “Um imóvel é um patrimônio? Sem dúvida. Mas ele não vai te fazer viver de renda”.
Por isso, o planejador financeiro afirma que é necessário gastar, no máximo, 30% da renda mensal com gastos de moradia – aluguéis ou parcelamentos -, independentemente do orçamento da família. Mas, é claro, a habitação pode e deve refletir o salário e o poder de compra do morador.
De maneira a não congelar toda a renda acumulada, Natali recomenda que, pelo menos, 10% da receita deva ser transformada em investimentos com liquidez – as aplicações tradicionais que você já conhece, aqui do Bora Investir.
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