Fundos de Investimento

Fundos têm mais resgates do que saques pela 1ª vez em 5 anos

A indústria de fundos de investimento registrou resgates líquidos de R$ 82,1 bilhões de janeiro a março, segundo a Anbima. Há motivo para pânico?

A indústria de fundos de investimento registrou resgates líquidos de R$ 82,1 bilhões de janeiro a março, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). É a primeira vez em cinco anos em que os fundos fecham os três primeiros meses do ano com mais resgates do que aportes.

Mas o que está provocando esse movimento de resgate de fundos de investimento? Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, destaca que tanto no Brasil quanto no exterior, a economia pós-pandemia trouxe surpresas negativas, que provocam um cenário de aversão a risco.

Um exemplo é a inflação, com preços pressionados pelo desequilíbrio nas cadeias de produção resultante da pandemia e, depois, pelos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Soma-se à alta de preços a falta de previsibilidade sobre a queda na taxa de juros, incertezas relacionadas à política econômica do novo governo e casos envolvendo crédito privado de grandes empresas do mercado.

Fuga para a renda fixa

O atual cenário faz com que os fundos percam espaço para a renda fixa, principalmente títulos isentos da cobrança de Imposto de Renda, como LCIs e LCAs. Um levantamento da Anbima mostra que, em 2022, houve crescimento de quase 70% no volume investido em títulos isentos.

Fundos multimercados e de ações lideram o movimento de saída de investidores, com resgates líquidos de R$ 37,4 bilhões e de R$ 23,9 bilhões, respectivamente.

O movimento é esperado, já que os fundos perderam para o CDI no período, indica William Eid, professor do Centro de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Cef). O índice de fundos multimercado da Anbima subiu 1,25% no período, enquanto o CDI foi de 3,71%.

O que fazer com a cota agora?

Ainda que hajam muitas incertezas no cenário, não há motivo para pânico e para resgate do investimento em fundos, especialmente os multimercado e que investem em ações, diz Eid. “O investidor brasileiro tem uma visão de curto prazo. Se o fundo perde, ele resgata. Mas oscilações no curto prazo são esperadas. O que ele deve mirar é o médio e longo prazo”.

Em fundos de crédito, o prazo de investimento também deve ser mais longo, especialmente porque o mercado brasileiro não tem ainda tanta liquidez como lá fora. Por ser mais arriscado, também deve corresponder a apenas uma parte da carteira de investimentos.

+ Luciana Seabra explica o novo marco dos fundos de investimento: “É revolucionário”

Antes de retirar investimentos de um fundo de renda fixa para colocar em CDBs, LCIs e LCAs isentos de Imposto de Renda, ele aponta que é necessário fazer o cálculo se a troca, de fato, vale a pena, considerando os impostos que incidirão no resgate do dinheiro.

“Se o problema é a volatilidade, ela também existe em CDBs, LCAs e LCIs. O investidor só não vê porque esses títulos não são marcados a mercado”. A escolha deve ser sempre por fundos de renda fixa bem geridos e com taxas baixas.

Fundos de renda fixa que têm títulos com duração baixa na carteira registram o melhor desempenho nos últimos três anos, pois não sofrem tanto com o aumento taxa juros. Mas, atualmente, fundos com títulos de duração longa podem fazer sentido, se o investidor acreditar que a taxa de juros vai cair no país, diz Eid.

Como escolher fundos

Para não entrar em pânico em momentos de turbulência, o segredo é não colocar os ovos na mesma cesta, diz o professor do FGV-Cef. “Quem tem pouco dinheiro deve dar preferência a investimentos mais seguros. Mas para quem tem uma carteira maior é bom ter uma parte do dinheiro em títulos com duração alta, baixa, pré e pós fixados”.

Saber escolher bons gestores, que conseguem passar por crises sem muitos prejuízos, também ajuda. “Claro que esses gestores vão errar: não tem como acertar sempre. Mas no médio e longo prazo entregarão bons resultados”.

O desempenho tem de ter consistência. Eid sugere não olhar apenas o retorno acumulado do fundo, mas, sim, subperíodos: trimestre, semestre, anual e dez semestres, por exemplo. Dessa forma, é possível ficar tranquilo em crises, e não pular de um fundo para outro”.

Desempenho dos fundos no trimestre

Dentre os tipos com maior patrimônio líquido da indústria, todos os fundos de renda fixa tiveram rentabilidade positiva no período.

As maiores valorizações foram obtidas pelos tipos que investem em papéis de longo prazo: o renda fixa duração alta soberano (que investe 100% do patrimônio em títulos públicos), com 3,9%, e o renda fixa duração alta grau de investimento (que investe, no mínimo, 80% em títulos públicos), com 3,3%.

+ Volume de negociação dos Fiagros atinge patamar histórico. Confira os 10 mais negociados

Entre os multimercados, o retorno dos principais tipos também foi positivo: o multimercado macro (que baseia suas estratégias em cenários macroeconômicos de médio e longo prazo) avançou 1,5%; O multimercado livre (sem compromisso de concentração em nenhuma estratégia específica) cresceu 1,1%. E o multimercado investimento no exterior (que podem aplicar mais de 40% em ativos internacionais) obteve valorização de 0,3%.

no recorte de ações, houve queda na rentabilidade. O tipo com o pior retorno no primeiro trimestre de 2023 é o ações small caps (investem, no mínimo, 85% da carteira em ações de empresas que não fazem parte do top 25 do IBrX – Índice Brasil), que recuou 8%. Em seguida, estão os tipos ações livre (sem compromisso de concentração em nenhuma estratégia específica) e ações investimento no exterior (podem aplicar mais de 40% em ativos internacionais), com baixa de 5% e de 4,6% respectivamente.

Fundos imobiliários continuam a atrair investidores

Nos últimos 12 meses, os FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário) ficam em primeiro lugar em aumento do número de contas, com mais 3 milhões no período, um crescimento de 44,9%. A quantidade total de fundos aumentou de 26.929 para 29.331, um avanço de 8,9% em 12 meses.

“Cada vez mais pessoas estão conhecendo os fundos imobiliários, que geralmente são a porta de entrada para quem está começando a investir em renda variável. É um fundo democrático, negociado em bolsa e isento de Imposto de Renda, o que o torna atraente em um cenário de alta na inflação e na taxa de juros”, observa Rudge, da Anbima.

Para saber ainda mais sobre investimentos e educação financeira, não deixe de visitar o Hub de Educação da B3.