7 fatos ou frases que resumem o mercado financeiro da última semana de abril
Debate sobre até onde vão os juros brasileiros é o destaque da semana - que ainda teve confusão na economia do país, PIB dos Estados Unidos e IPO do planeta Terra
O amplo debate sobre juros, inflação e o crescimento da economia marcou a última semana de abril. Em dois eventos importantes, ambos no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi muito claro quanto à tecnicidade das decisões da instituição em relação aos juros. Na outra ponta, o governo se esforça em argumentos para trazer o BC para a realidade brasileira.
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se desdobra para criar medidas que aumentem a arrecadação e tornem a nova âncora fiscal crível. A última cartada mexe em um vespeiro chamado ‘desonerações tributárias’. Nesse jogo de forças, é preciso esperar para ver quem vai ‘trucar’ no final.
Do lado macroeconômico do país, diversos índices mexeram com os ânimos do mercado. De um lado números positivos: desaceleração da prévia da inflação, setor de serviços em alta, mais vagas formais. De outro, varejo em queda e desemprego de volta ao topo com 9,4 milhões de desocupados. No meio disso tudo, a prévia do PIB indicou o melhor fevereiro em quase três anos – o que colocou um enorme símbolo de interrogação em cima da cabeça dos economistas.
Nos Estados Unidos, a economia cresceu nos primeiros três meses do ano. No entanto, a demanda dos consumidores em alta ainda pressiona o Federal Reserve a apertar a política monetária. Na primeira semana de maio, na chamada ‘Super Quarta’, o BC americano e o brasileiro definem os rumos dos juros.
Para encerrar a semana, uma análise mostrou que o mercado de renda variável depende mais do cenário externo que interno para deslanchar em 2023. Enquanto isso, o Planeta Terra fez o seu primeiro IPO e o Imposto de Renda entra no seu derradeiro mês de maio.
Relembre, a seguir, os principais fatos e frases que marcaram a semana:
1. “NÃO CONSIGO DIZER QUANDO JUROS VÃO CAIR, MAS ESTAMOS NO CAMINHO CERTO”. (Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central)
A frase da semana foi dita durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Campos Neto foi convidado pelos parlamentares para explicar por que os juros no país estão no maior patamar em 6 anos, Selic em 13,75%, e as expectativas para a queda da taxa.
Na apresentação, o presidente do BC também falou de inflação. Para ele, o controle dos preços só será possível diante do ajuste das contas públicas, que trarão um crescimento sustentado no médio e longo prazos. Em Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o alto patamar da taxa básica de juros no país. Lula também defendeu que os juros caiam para que haja um estímulo ao crédito.
Um outro encontro com a mesma temática (agora no plenário do Senado) reuniu, além do dirigente do BC, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Apesar dos diferentes pontos de vista, ficou clara a disposição de conseguir um caminho para a economia brasileira.
“Não vejo a política fiscal, monetária e prudencial separadas umas das outras. Elas fazem parte da mesma engrenagem. Se a economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária [taxa de juros alta, fixada pelo Banco Central], vamos ter problemas fiscais, porque a arrecadação vai ser impactada. Não tem como separar. Se desacelero a economia, vou ter impactos fiscais”. (Fernando Haddad)
“Não há contradição em dizer: o Banco Central é autônomo, e é bom que o seja. (…) Portanto, o governo não interfere nas decisões técnicas do Banco Central. Mas o Banco Central não pode considerar que suas decisões são apenas técnicas. Também interferem na política, especialmente os seus comunicados e suas atas”. (Simone Tebet)
“Na parte dos juros, a gente não pode confundir causa e efeito. A dívida não é alta porque o juro é alto. É o contrário, o juro é alto porque a dívida é alta. Quando você vai endividado vai ao banco, e o banco faz uma análise que você é endividado e não paga a dívida, o juro é alto”. (Roberto Campos Neto)
Essa análise da jornalista do O Globo, Mirian Leitão, afirma que no debate sobre inflação e juros, todos têm um pouco de razão.
2. “VAMOS ABRIR A CAIXA-PRETA DE RENÚNCIAS FISCAIS”. (Fernando Haddad, ministro da Fazenda)
O arcabouço fiscal, que foi entregue na semana passada pelo governo ao Congresso Nacional, também foi destaque na semana que passou. Em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Fernando Haddad, afirmou que o volume de recursos que o governo desiste de arrecadar produz um buraco de R$ 600 bilhões no Orçamento.
Segundo o ministro, a equipe econômica prepara junto com a Controladoria Geral da União (CGU) a divulgação da lista de “CNPJ por CNPJ” das empresas que hoje são beneficiadas por renúncias e subsídios, chamados de “gastos tributários”.
Nas discussões do projeto da nova âncora fiscal na Câmara dos Deputados, o destaque fica para o descontentamento dos parlamentares sobre a falta de punição contra o presidente da República pelo descumprimento da meta fiscal e a quantidade de exceções presentes na norma.
“As colocações evidenciadas são em cima de não ter uma punição na falta do atingimento da meta, a questão das excepcionalidades” (Cláudio Cajado – PP-BA, deputado e relator do arcabouço fiscal).
3. INFLAÇÃO, VENDAS DO VAREJO, SERVIÇOS E EMPREGO
A semana foi marcada por diversos índices econômicos brasileiros. Pelo lado da inflação, o IPCA-15 trouxe uma leve desaceleração dos preços em abril na comparação com março – apesar da gasolina ainda pesar no bolso dos brasileiros.
Os economistas alertam, no entanto, que embora a prévia da inflação mostre uma continuidade da trajetória de baixa, os indicadores de núcleo (que excluem os itens mais voláteis e apontam uma tendência para o índice) mostram que o combate aos preços altos será demorado.
O setor de serviços, que mais emprega no país, conseguiu reverter em fevereiro o tombo do mês anterior puxado pelos serviços de tecnologia da informação e o setor de transportes. Já o varejo veio no sentido oposto. Depois de começar o ano com crescimento recorde, o comércio perdeu força no segundo mês de 2023.
Pelo lado do emprego, os sinais da economia brasileira também foram bastante contraditórios. Enquanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicou a criação de 195 mil vagas com carteira assinada, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou aceleração na taxa de desemprego no 1º trimestre para 8,8%. São 9,4 milhões de brasileiros desocupados.
Para encerrar o momento dúbio que a atividade econômica do país passa, a prévia do PIB (IBC-BR) indicou aceleração do crescimento em 3,32% em fevereiro. A surpresa deixou economistas de cabelo em pé, já que o país está com uma taxa de juros no maior patamar em seis anos e mesmo assim a demanda segue em expansão.
Importante lembrar que nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne pare decidir a taxa básica de juros. A expectativa é pela manutenção da Selic em 13,75%. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve também vai decidir sobre mais um aperto monetário para a economia americana. Enquanto isso, o Produto Interno Bruto desacelerou no 1º trimestre – nosso próximo assunto.
4. PIB DOS EUA CRESCE 1,1%, ABAIXO DO ESPERADO
A economia americana perdeu ritmo nos primeiros três meses deste ano, em meio ao menor apetite por investimentos empresariais que impactou nos estoques e moderou a retomada dos gastos do consumidor. O principal componente para essa desaceleração foi a taxa básica de juros que já subiu nas últimas dez reuniões do BC americano. Hoje está no intervalo entre 4,75% e 5% ao ano.
Além dos problemas de inflação – pressionados pelo mercado de trabalho resistente e o consumo das famílias ainda elevado – a economia dos EUA ainda enfrenta problemas em um dos principais bancos do país, o First Republic Bank. Segundo analistas, esse pode ser um gatilho para um eventual ‘stop’ na subida dos juros na semana que vem.
5. “RECUPERAÇÃO DA BOLSA DEPENDE MAIS DO CENÁRIO EXTERNO QUE INTERNO”. (Sara Delfim, sócia e gestora da Dahlia Capital).
A discussão em torno da economia americana e das altas taxas de juros em todo o planeta, bate no mercado de ações brasileiro. Em uma entrevista ao B3 Bora Investir, a sócia e gestora da Dahlia Capital, Sara Delfim, afirma que a recuperação do mercado de ações depende muito mais do cenário externo do que o interno.
“Os investidores tendem a atribuir muito peso ao cenário interno para a recuperação da bolsa. É claro que ele influencia, mas grande parte dos movimentos são determinados pelo cenário global”.
6. PLANETA TERRA ABRE O CAPITAL NA B3
A oferta inicial de ações do planeta Terra – sim o Globo terrestre fez um IPO na Bolsa do Brasil (B3) na semana que passou – teve até o tradicional toque da campainha que marca a estreia de novas empresas no pregão.
A iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil chamou a atenção do setor privado para a urgência de se engajar e ampliar a atuação nas causas em favor da preservação ambiental, da responsabilidade social e de governança corporativa.
7. TÁ NA HORA, TÁ NA HORA: IMPOSTO DE RENDA
A semana também teve diversas dicas sobre a declaração do Imposto de Renda, que entra na sua reta final em maio. O período de entrega vai até o dia 31 do mês que vem.
O B3 Bora Investir explicou o que pode ser dedutível no IR 2023. Uma despesa dedutível é aquela que pode ser abatida com o objetivo de reduzir a base de cálculo do imposto. Assim, o contribuinte pode diminuir o montante de imposto pago ou somar o valor na restituição.
Os imóveis constituem parte importante dos bens de um contribuinte. A posse, compra ou venda deles, assim como o pagamento ou o recebimento de aluguéis, podem ser tributados a depender do valor. Uma reportagem explicou, então, como prestar essas contas com o Leão.
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