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“Não consigo dizer quando juros vão cair, mas estamos no caminho certo”, diz presidente do BC

Roberto Campos Neto participou de uma audiência pública no Senado para explicar decisões sobre a taxa básica de juros. Selic em 13,75% ao ano tem sido alvo de críticas do governo

Letreiro na fachada do BC onde se lê Banco Central do Brasil
A taxa básica de juros do país é um dos instrumentos de combate à inflação e de manutenção da trajetória da dívida pública. Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 25/04, que não é possível antecipar quando a taxa básica de juros brasileira, a Selic, vai começar a cair. A declaração aconteceu durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

“Eu não tenho capacidade de dizer [quando vai cair], sou um voto de nove, quando isso vai acontecer, mas é um processo técnico que tem o seu tempo. As coisas têm caminhado no caminho certo”, afirmou.

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Ontem, 24/04, durante um discurso no Fórum Empresarial Portugal-Brasil, em Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a criticar o alto patamar da taxa básica de juros no país. Lula também defendeu que os juros caiam para que haja um estímulo ao crédito – o que pode levar a um crescimento acima do previsto para a economia brasileira ainda em 2023.

Para o presidente do BC, há uma tendência de queda estrutural na taxa de juros brasileiras, diante das reformas econômicas implementadas nos últimos anos, e que esse é um processo contínuo. Segundo Campos Neto, apesar da Selic estar em 13,75% ao ano, não há sinais de recessão à frente.             “Precisamos de juros baixos para o empresário tomar o risco, mas precisamos fazer de forma sustentável. (…) A gente gostaria que fosse muito melhor, mas vemos uma recuperação na margem. Estamos tentando trazer a inflação para a meta, porque é um elemento muito corrosivo”.

Meta e expectativas de inflação

Durante sua participação na comissão do Senado, Roberto Campos Neto também falou de inflação. Para o presidente do BC, é preciso ter as contas públicas ajustadas para um crescimento sustentado no médio e longo prazos, com controle dos preços. Em resposta as declarações de Lula sobre fiscal e o social, Campos Neto afirmou que é possível ter equilíbrio fiscal com aumento de despesas direcionada para a população mais carente.

“É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal e, infelizmente, nem bala de prata. Se não tiver as contas em dia, em perspectiva a gente não consegue melhorar. (…) Não tem como ter equilíbrio no país sem ter equilíbrio social. É preciso atender aos que precisam. Mas tem um volume de recursos limitado, então é preciso fazer isso de tal forma que não passe a percepção que a trajetória de dívida é descoordenada. Pois se as pessoas não quiserem emprestar dinheiro para o governo, quem vai sentir é toda a sociedade”.

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Em relação as constantes discussões sobre as expectativas de inflação, o presidente do Banco Central disse que faz mais de 14 semanas consecutivas que a autoridade monetária vê “piora” nessa questão, tanto nas projeções de analistas quanto do mercado.

“A gente controla muito da inflação presente controlando expectativas e não vimos uma melhora nas expectativas desde novembro. (…) A gente olha um leque de projeções e cenários. A expectativa é muito importante no sistema de metas porque pessoas reajustam os preços com base nas expectativas”.

É importante lembrar que o governo do presidente Lula já criticou as metas de inflação várias vezes desde o início da sua gestão.

Crédito direcionado e juros

Ao falar sobre crédito direcionado – que são linhas de empréstimos que têm taxas menores por conta de subsídios – o presidente do Banco Central voltou a usar a metáfora do ingresso meia entrada para cinema, shows e eventos – para esclarecer o atual patamar de juros. Segundo ele, o alto volume desse tipo de empréstimo contribui para uma taxa de juros mais elevada.

“O Brasil tem um volume de crédito direcionado de 40,3%. Não tem país no mundo com um volume tão grande. É como se tivesse a meia entrada. Se eu vendo muita meia entrada, a entrada inteira tem que ser mais cara. Isso explica por que para combater a inflação temos que subir os juros um pouco mais. (…) É verdade que a taxa de juros real é mais alta que de outros países, mas está abaixo da média do passado”, concluiu.

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