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Campos Neto diz ser contra alterar meta de inflação e que BC não gosta de juros altos

Presidente do BC disse que é possível conciliar bem-estar social com juros baixos, mas citou necessidade de controlar a inflação. Ele participou do programa Roda Viva, da TV Cultura

A discussão em torno das metas de inflação e o risco fiscal continuam nesta terça-feira, 14/02, dentre os principais assuntos dos investidores, após a entrevista do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ao programa Roda Vida da TV Cultura.

O mandatário disse que a instituição “não gosta de juros altos”, negou atuação política à frente da instituição e afirmou ser contra alterar a meta de inflação.

“O Banco Central não gosta de juros altos. Óbvio que a gente quer fazer o melhor possível para ter o juro baixo. Para ter um crescimento sustentável (…) toda a agenda do Banco Central é social. (…) Então, a gente acredita que é possível fazer fiscal junto com o bem-estar social. Mas a gente acredita que é muito difícil ter bem-estar social com inflação descontrolada“.

Campos Neto também negou que tenha concordado em apoiar a adoção de uma meta de inflação mais alta em conversas com o governo. A ideia passou a ser levantada desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevou as críticas à taxa básica de juros (Selic), definida pelo BC, que está em 13,75% ao ano.

Na avaliação dos economistas da XP, o objetivo de Campos Neto era reduzir a tensão entre a Autoridade Monetária e o governo. No entanto, as expetativas de inflação devem se manter acima da meta e a política fiscal vai se tornar mais expansionista.

“Vemos pouco espaço para cortes de juros nos próximos trimestres. Isso significa que as tensões podem diminuir por ora, mas podem aumentar novamente adiante”, afirmaram em nota.

Meta de Inflação

O presidente do BC disse que a meta de inflação é um instrumento da política monetária e que aumentá-la agora pode ter um efeito oposto ao buscado pelo governo.

 “Se mudar a meta, vai ter o efeito contrário. O mercado vai pedir um prêmio de risco maior ainda. O que vai acontecer é o efeito contrário. Em vez de ganhar flexibilidade, vai acabar perdendo flexibilidade. Não existe ganho de credibilidade aumentando a meta”, concluiu.

Nesta quinta-feira, 16/02, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne e um dos temas discutidos poderia ser mudanças na meta de inflação. O colegiado – que define a meta a ser perseguida pelo BC – é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Planejamento, Simone Tebet; e pelo próprio Campos Neto.

Inflação x Metas x Juros

O sistema de metas de inflação foi adotado pelo Brasil em 1999 com o objetivo de dar previsibilidade as taxas e aumentar a confiança na economia do país. As metas são definidas com três anos de antecedência e usam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como referência.

Nesse regime há também prevista uma margem de tolerância para baixo e para cima – é o tal ‘teto da meta de inflação’ que tanto se fala. Neste ano, por exemplo, como a meta está definida em 3,25%, ela será considerada cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75% ao ano.

Aqui vale explicar também que uma inflação controlada é importante para evitar o impacto da alta dos preços na economia. Afinal, a inflação está em tudo que consumimos. Quando ela está alta, há um impacto direto nos preços dos combustíveis, alimentos, transporte, serviços e até no dinheiro que está no banco sem nenhum tipo de investimento. Enfim, quando a inflação escala, o dinheiro vale menos.

Pelo lado da tão falada taxa básica de juros, a Selic, ela é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. O conceito é fácil: para fazer a inflação cair, sobe-se os juros para frear o consumo. O problema é que junto com essa elevação, vem o impacto nos investimentos – uma vez que o financiamento de obras ou da casa própria, por exemplo – ficam mais caros.

Nova âncora fiscal e reformas

O presidente do BC lembrou que em dezembro do ano passado, o mercado chegou a precificar uma queda dos juros em março de 2023. Ele argumentou que, com a execução dos planos fiscais do governo, a adoção de uma nova âncora fiscal – para controlar os gastos – e reformas estruturantes – como a tributária – é possível retomar esse cenário favorável.

“O ambiente colaborativo é o melhor ambiente para a sociedade, não é só para o Banco Central. (…) Gostaria de ter outras reuniões [com Lula], para discutir a política de juros, a razão por que temos juros altos”, afirmou.

Ao ser questionado sobre uma possível convocação para explicar os juros altos no Congresso, ele disse que está sempre aberto a comparecer e que é a sua obrigação, como chefe do Banco Central, prestar esse tipo de esclarecimento. Campos Neto indicou também que pretende cumprir seu mandato até o fim de 2024.            

“Esse debate dos juros é importante. Eu vou explicar quantas vezes for necessário. Os juros são altos, e essa é uma questão legítima para a sociedade”.

Autonomia do BC

Roberto Campos Neto classificou o atual momento como “o primeiro teste” da autonomia da instituição e que um BC independente impactou em uma menor inflação e volatilidade em economias que adotam esse instituto.

“Acho que a minha figura é irrelevante. Se eu saísse hoje do BC, as decisões não mudariam muito. A instituição do BC autônomo é um ganho para a sociedade no longo prazo. (…) É hora de esquecer essas coisas pequenas e pensar no que o Brasil precisa para crescer. É nesse debate que eu quero contribuir”, concluiu.

Campos Neto participa de evento no BTG

Em uma conferência promovida nesta terça-feira, pelo banco BTG, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que os investidores precisam ter “mais boa vontade” com o governo. A declaração veio em linha com a sinalização de diálogo vista ontem no programa da TV Cultura.

“O investidor é muito apressado, afoito. Acho que a gente tem que ter mais boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. O ministro Haddad tem tido uma boa vontade enorme”.

Campos Neto voltou a falar que a meta de inflação é perseguida pelo BC e não definida. E foi enfático ao afirmar que o juro é o instrumento da política monetária e não as metas de inflação.            

“A regra do jogo é clara: quem determina a meta não é o BC. No fim das contas, há um conjunto de instrumentos disponíveis e autonomia operacional para seguir a meta. A meta de inflação não é um instrumento de política monetária. É os juros”, disse.

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