Black Friday fraca e inflação alta puxam varejo para o negativo em novembro
Foi a primeira vez, em três meses, que o setor registrou queda. Inflação em patamares elevados puxou grupo combustíveis e lubrificantes para o negativo após 4 meses
As vendas do comércio caíram 0,6% em novembro, na comparação com outubro, interrompendo uma sequência de três meses positivos de alta, ou seja, desde julho. Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 11/01. A queda foi maior que a esperada pelo mercado que era de menos 0,2%.
Com esse resultado, o setor está 3,6% abaixo do maior nível da série, registrado em novembro de 2020, e 2,6% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro do mesmo ano. No acumulado de janeiro a novembro, o varejo avançou 1,1% e, em 12 meses, alta de 0,6%. Na comparação com novembro de 2021, as vendas do comércio brasileiro avançaram 1,5%.
Segundo o IBGE, das oito atividades pesquisadas, seis tiveram resultados negativos em novembro. No entanto, a queda de 5,4% no grupo de Combustíveis e lubrificantes puxou o desempenho ruim do setor por conta da inflação que segue em patamares elevados. É o que afirma o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
“Novembro foi o primeiro mês em que os preços dos combustíveis voltaram a crescer após uma sequência de deflação que se iniciou em julho do ano passado. Isso impactou as receitas das empresas. Outro ponto é que novembro não é um mês de grandes movimentos nos transportes, já que as famílias costumam esperar para viajar em dezembro”, explica.
Foi a primeira queda do grupo Combustíveis e lubrificantes depois de quatro altas seguidas, iniciadas com a redução do ICMS sobre os combustíveis, que passou a valer em julho.
Black Friday ruim
O segundo resultado que levou a retração do comércio foi a queda de 3,4% nas vendas de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação. O desempenho ruim foi puxado por uma Black Friday, que acontece no fim de novembro, e não resultou em números muito positivos.
“Esse desempenho mais fraco da Black Friday contribui fortemente para o resultado negativo do setor varejista em novembro. As condições macroeconômicas, como a falta de crescimento de crédito, a alta dos juros, a estabilidade do valor do Auxílio Brasil e a volta da inflação, acabam impactando a renda das famílias e diminuem o consumo”, afirma Cristiano Santos.
Queda mais disseminada
As outras atividades que tiveram quedas foram Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,7%), Tecidos, vestuário e calçados (-0,8%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,3%).
“A atividade de Livros jornais, revistas e papelaria, apesar da queda de novembro, teve uma trajetória muito positiva ao longo do ano. Em janeiro de 2022, ela estava 65,8% abaixo do patamar pré-pandemia e, em setembro, estava 33,1% abaixo. É uma atividade que teve quedas fortes, mas veio se recuperando até setembro, quando os resultados negativos apresentaram um rebatimento dessa trajetória de crescimento”, analisa o gerente da pesquisa do IBGE.
O último grupo com queda de 0,2% foi o de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. Essa atividade, que representa cerca de 50% do índice geral, entrou em estabilidade diante da manutenção do Auxílio Brasil (hoje Bolsa Família) no mesmo valor.
“Esse setor vem há dois meses em estabilidade, variando -0,3% em setembro e 0,2% em novembro. Entre outubro e novembro, não houve aumento no valor do Auxílio Brasil, que é um benefício direcionado às famílias de menor renda e que tendem a concentrar o consumo em alimentos”, explica.
Duas atividades no positivo
Os únicos grupos que tiveram resultados no azul em novembro foram Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,7%) e Móveis e eletrodomésticos (2,2%). Segundo Cristiano Santos, no primeiro grupamento, as empresas ligadas especialmente à parte de perfumaria foram beneficiadas pelas promoções da Black Friday.
“Mas a atividade como um todo tem uma trajetória positiva, são empresas mais estáveis e as lojas não foram fechadas durante a pandemia. Também há aumentos de preços sazonais, que ocorrem normalmente nas suas épocas, e são produtos que não têm substituição, ou seja, as famílias não deixam de consumir”, diz o gerente da pesquisa.
Varejo ampliado
No varejo ampliado, onde o IBGE inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas também caiu 0,6% na passagem entre outubro e novembro.
Veja o resultado das atividades do varejo em novembro:
- Combustíveis e lubrificantes: -5,4%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: -3,4%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -2,7%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -0,3%
- Tecidos, vestuário e calçados: -0,8%
- Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -0,2%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 1,7%
- Móveis e eletrodomésticos: 2,2%
- Veículos e motos, partes e peças (varejo ampliado): 0,4%
- Material de construção (varejo ampliado): 3,0%
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